União de professores e alunos de Brusque contribui com integração de quatro estudantes haitianos
Com diferenças culturais e de idioma, equipe e colegas se esforçam para que todos possam aprender e socializar
Receber um aluno estrangeiro, que não fala português, é sempre um desafio para as escolas e educadores, e a Escola de Educação Básica (EEB) Francisco de Araújo Brusque, no bairro São Luiz, passou por isso neste ano. Quatro alunos haitianos fizeram suas matrículas no período das férias de julho e começaram a frequentar a escola no segundo semestre. Para permitir que eles tivessem uma boa experiência educacional, foi necessária a colaboração de todos: colegas, professores e funcionários da escola.
A diretora Lourdete Cadore Fantini conta que esta é a primeira vez que a escola atende alunos estrangeiros. Quando os estudantes chegaram, falavam pouco ou nada do português. Suzete Schlindwein, orientadora do colégio, diz que foi um desafio para os educadores: “Tivemos uma preocupação inicial em relação à interação deles e também à aprendizagem. Mas pudemos contar com a parceria dos outros alunos e também dos professores, o que é muito gratificante”.
Dos quatro alunos haitianos que fazem parte do corpo discente da escola, três são irmãos: Esby é aluno do segundo ano do Ensino Fundamental, Paul cursa o sexto ano e Merlanda está no primeiro ano do Ensino Médio. Além deles, a aluna Samendia está no terceiro ano do Fundamental.
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Antes da chegada deles, a diretora relata que foram feitos acompanhamentos prévios com os professores e os colegas de turma, explicando que iriam receber estudantes do Haiti e que todos precisaram colaborar. “Foi muito difícil no começo, não sabíamos bem como proceder. Hoje já é mais tranquilo”, conta.
Os colegas das turmas em que os estudantes foram integrados também foram bastante acolhedores e receptivos, se dispondo a ajudar na comunicação, como fizeram os alunos do primeiro ano do Ensino Médio, que utilizam ferramentas online para traduzir palavras do português para o francês, idioma falado no Haiti.
Adaptação
Merlanda compreende bem o idioma, mas ainda fala com certa dificuldade. Por isso, conta com a ajuda do amigo Yuri, que foi um dos alunos que colaborou com a socialização e adaptação dela no Brasil: “Quando ela chegou, nós pensávamos que ela saberia um pouco de português, mas na verdade não falava nada. Todos da turma ajudaram ao máximo na integração, agora ela entende melhor, todo mundo é bem participativo”, diz.
“Eu gosto muito de tudo, de morar aqui”, conta Merlanda. A mãe dela já morava em Brusque há cinco anos antes de ela chegar com os irmãos e fala português fluente. Ela e a família vieram para o Brasil por conta das muitas dificuldades que enfrentavam no Haiti: “Lá tem muita miséria, não tem trabalho, as escolas não são boas”.
Para conseguir se comunicar melhor com a nova colega, Yuri decidiu aprender um pouco de francês. “Nunca tinha estudado, comecei por causa dela. Hoje a gente interage mais, e ela me ajuda muito.” Os dois tiveram um espaço durante uma aula de Língua Portuguesa para apresentar algumas palavras, expressões e frases de uso diário em francês para o restante da turma: “A Merlanda pronunciava primeiro, depois eu e o pessoal repetia. Ela ajudou muito na pronúncia”.
“Educação também é isso”, pontua a diretora Lourdete. “É estender a mão quando podemos, essa troca de experiências.” Nesse sentido, Merlanda, quando chegou, contou histórias sobre sua vida em seu país de origem, explicou um pouco sobre como era sua vida lá. Para Yuri, os relatos da amiga fizeram com que ele e os colegas passassem a valorizar mais seus privilégios. “Ela não tinha escolas lá como temos aqui, muitas vezes até sem cadeiras para sentar. Admiro muito ela por não desistir, estar aprendendo o português e tirando notas muito boas.”
Alfabetização
Os alunos mais novos, Esby, de oito anos, e Samendia, de 10, chegaram a Brusque sabendo ler, porém, não reconheciam as palavras. A professora de Esby, Milene Campos, conta que decidiu investir na alfabetização por meio de imagens, para que o menino passasse a associar as palavras com os objetos que representam.
Na faixa etária e série escolar que ele frequenta, muitos alunos ainda estão aprendendo a ler e a escrever com a letra cursiva. De acordo com Milene, o menino acompanha muito bem e está bastante adiantado. “Ele não me deu trabalho nenhum, nem para aprender, nem para socializar. Foi muito bem acolhido, as outras crianças gostaram dele logo de cara, do jeitinho que ele fala.”
Esby conta que não há tantas diferenças assim entre o Brasil e o Haiti. Para ele, que já veio para Brusque sabendo falar um pouco de português e já tinha aprendido a ler, a escola está sendo muito boa.
Outra professora que precisou trabalhar a alfabetização foi Elisangela Suavi, que dá aula para a turma de terceiro ano do Ensino Fundamental em que Samendia foi alocada. “Ela chegou sem ter contato nenhum com o português, no começo foi bem difícil para todos.” Por isso, a professora decidiu começar pela socialização e, ao ver que a nova aluna foi bem acolhida, solicitou a ajuda de todos os colegas.
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Assim como Esby, Samendia já conhecia o alfabeto e sabia ler, mas também não associava as palavras com os objetos. “Eu mostrava um caderno, por exemplo, para ela e ela sabia o que era, mas dizia outro nome. O mais difícil na alfabetização foi esse período de associação com imagens.”
Nesse processo, a participação dos pais foi essencial: Elisangela conta que a família de sua aluna, que já morava em Brusque, pediu para que a menina aprendesse o idioma e falasse o mínimo possível em sua língua materna. E não é apenas a família de Samendia que é presente na educação das crianças – de acordo com Lourdete, os pais de Merlanda, Paul e Esby também são muito próximos da escola, comunicam quando os filhos precisam faltar às aulas e se interessam pelos estudos deles.
“No começo, foi um susto. Tive muito contato com a professora Milene, trabalhamos na mesma linha. Tive um pouco de medo, para nós também é algo novo, mas acho que o melhor para a Samendia foi estar numa turma tão boa que a acolhei tão bem e ajudou bastante”, conta Elisangela.