Variáveis das chuvas: meteorologistas detalham dificuldades para elaborar previsões do tempo em Brusque

Previsões são imprecisas quando se trata de horário e local

Variáveis das chuvas: meteorologistas detalham dificuldades para elaborar previsões do tempo em Brusque

Previsões são imprecisas quando se trata de horário e local

Prever quando vai chover não é algo tão preciso. Muitas vezes, os alertas para tempestades em Brusque não se concretizam. Em outros casos, quando não há praticamente nada previsto, a chuva cai no município. Trata-se de uma dificuldade nacional. Na primavera de 2023, o Vale do Itajaí sentiu os efeitos das variáveis das previsões do tempo.

O rio Itajaí-Mirim, em Brusque, saiu da calha 11 vezes entre outubro e novembro do ano passado em razão das fortes chuvas na região. Em um primeiro momento, no mês de outubro, chegou a ser divulgado que haveria a maior enchente dos últimos 40 anos na cidade, o que, no fim, não aconteceu. Municípios no entorno de Brusque, porém, enfrentaram complicações.

“Houve lugares no Vale em que foi registrada a segunda maior enchente da história”, afirma Gilsânia Cruz, meteorologista da Epagri/Ciram. Uma das dificuldades para elaborar uma previsão de chuva é a falta de pontualidade. Não é possível saber com tanta exatidão o local e o horário que a chuva vai cair.

Rio Itajaí-Mirim, em Brusque, chegou a 8,96 metros na terceira maior enchente registrada na cidade. Foto: Wendel Rudolfo/Arquivo O Município

Muitas informações alarmistas também circularam na época. Gabriel Cassol, meteorologista do AlertaBlu, órgão integrado à Defesa Civil de Blumenau, diz que, no mesmo mês, chegou a ser divulgado que Blumenau registraria a maior enchente da história, informação falsa que nunca partiu da Defesa Civil.

“Saber qual é a fonte da informação é muito importante, além de acompanhar sempre os órgãos oficiais e não pessoas que acham que entendem [de previsão do tempo] e fazem sucesso na internet só para ganhar cliques e curtidas”, recomenda Gabriel.

Lista de canais oficiais
Defesa Civil de Santa Catarina
Defesa Civil de Brusque
AlertaBlu
Epagri/Ciram

Os melhores equipamentos

Gilsânia relata que a falta dos melhores equipamentos torna as previsões do tempo pouco precisas. Um alerta de tempestade no Vale do Itajaí não quer dizer, por exemplo, que a chuva vai atingir Brusque. O município pode “sair ileso”, sem registrar chuva mesmo quando a previsão indicar.

“No verão, por exemplo, é possível observar a formação de uma nuvem na cidade, mas que vai precipitar em outro lugar. Não chove em Brusque, mas chove na cidade do lado”, exemplifica.

A meteorologista comenta que, em um dos últimos eventos climáticos de novembro, foi divulgada uma previsão de chuva intensa. No entanto, a chuva veio 12 horas antes do previsto. As pessoas atingidas foram pegas desprevenidas, pois se preparavam para um evento climático esperado para 12 horas depois.

“O ideal é que se tenha um centro que possa fazer previsão com modelos de escala menor. É necessário toda uma infraestrutura para melhorar a previsão. É caro. Para contar com algo específico por município, estamos engatinhando”, comenta.

Enchente em Rio do Sul, no Vale do Itajaí, em 2023. Foto: Roberto Zacaria/Secom-SC

Outros países estão mais avançados que o Brasil quando o assunto é precisão das previsões do tempo. A meteorologista comenta que os equipamentos que preveem quando vai chover em uma corrida de Fórmula 1 são mais precisos. É possível identificar o horário exato que a chuva começa.

“Quando tratamos de previsão, não tratamos de acerto. Algo 100% [correto] nunca será. Além dos modelos, que são as ferramentas que temos, muitas vezes é possível fazer uma interpretação errada ou o próprio modelo erra. Depende do modelo”, explica Gilsânia.

Os modelos meteorológicos são sistemas utilizados para elaboração de previsões do tempo, guiados por satélites e radares. Existem vários modelos. A Defesa Civil de Brusque utiliza principalmente o modelo americano GFS e o modelo europeu ECMWF.

Modelo meteorológico americano GFS. Foto: Defesa Civil/Reprodução

Inverno, primavera e verão

A meteorologista aponta que as fortes chuvas que atingiram Santa Catarina na primavera já eram previstas em razão da atuação de um El Niño de intensidade forte. Trata-se de um fenômeno em que é comum o registro de chuvas no Sul do Brasil.

O inverno é a melhor estação para elaborar as previsões do tempo, por causa das atuações de frentes frias, que são sistemas mais dinâmicos na atmosfera. O verão, por outro lado, é a época mais difícil para elaborar uma previsão precisa, pois há somente calor e umidade, sem sistemas dinâmicos.

“No início de janeiro, por exemplo, tivemos um calor muito forte atuando e era basicamente só calor. Tínhamos condições de pancadas de chuva com trovoadas, mas não dava para saber a região exata em que haveria um tempo severo”, detalha Gabriel.

Panela com água quente

O leste do estado conta com uma cadeia de montanhas que concentra toda a umidade em uma única região. Sendo assim, são formadas as chamadas cumulonimbus, nuvens que trazem as tempestades registradas quase diariamente nos fins de tarde no verão. Calor e umidade são “ingredientes” para a formação de chuvas.

Pensar na formação de chuva é como pensar em uma panela com água. Quando a panela é colocada para esquentar no fogão, algumas bolhas serão formadas na água a partir de determinado momento e, em seguida, vão “estourar” em lugares aleatórios da panela.

Na vida real, o calor começa a formar as nuvens, que podem “descarregar” a chuva em um local específico. Por isso, às vezes é possível observar a nuvem escura na cidade, mas a chuva pode cair em outro município da região. As cumulonimbus são nuvens consideradas pequenas, de 5 ou 10 quilômetros de diâmetro.

Gabriel explica ainda que é possível observar a aproximação de uma tempestade cerca de duas ou três horas antes da chuva chegar. Trata-se da chamada “previsão de curtíssimo prazo”. O radar de Lontras (SC) auxilia na identificação de chuvas que se aproximam na região do Vale do Itajaí.

“Quando chegamos de manhã para trabalhar, sabemos que há condições para tempestades dependendo do dia. O local em que a tempestade será formada, porém, não dá para ter certeza. A partir da formação, conseguimos saber para onde a tempestade está se deslocando e anteceder qual região será atingida”, conta o meteorologista.

Radar da Defesa Civil em Lontras, no Vale do Itajaí. Foto: Julio Cavalheiro/Secom-SC

Trabalho da Defesa Civil

As coordenadorias municipais de Defesa Civil se fortaleceram em Santa Catarina a partir de 2008, apesar de existirem desde 1973. O órgão atua na prevenção de desastres, mitigação dos danos, preparação das operações para eventos climáticos, ações de resposta e recuperação após os transtornos.

A Defesa Civil de Brusque segue as previsões da Defesa Civil de Santa Catarina e da Epagri/Ciram, que são os meios oficiais. O órgão em Brusque filtra as informações que envolvem a cidade e as reproduz. Se não envolver a região de Brusque, por exemplo, não é divulgado.

Brusque é um município propenso a ser afetado por complicações relacionadas ao clima em razão de algumas características. A cidade é cortada por rios e ribeirões, que transbordam em períodos chuvosos. Por outro lado, o coordenador da Defesa Civil de Brusque, Edevilson Cugiki, relata que o principal problema para o município tem ligação com a ocupação irregular.

“O principal problema é a questão da ocupação. Todos os especialistas indicam que estamos passando por episódios mais intensos e mais frequentes, de chuva mais forte, de frio mais forte e de calor mais forte. Os extremos estão aumentando. No entanto, acredito que o ‘diferencial’ da nossa cidade é a ocupação”, considera.

Um levantamento de outubro de 2023 aponta que 3,9 mil residências estão construídas em áreas de risco para ocorrências em Brusque. Os dados são da Defesa Civil. Até então, aproximadamente 2,9 mil residências receberam notificação do órgão.

Há poucos casos em que o risco é muito alto ou que a família precisa desocupar a residência por definitivo. Muitas vezes, as saídas são temporárias, durante períodos de chuva, em que há maior risco.


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