Vida religiosa ainda desperta interesse das mulheres em Brusque
Neste ano, três moradoras do município procuraram a Paróquia São Luís Gonzaga para se tornarem freiras
Neste ano, três moradoras do município procuraram a Paróquia São Luís Gonzaga para se tornarem freiras
A vida religiosa tem despertado cada vez menos o interesse das mulheres. Segundo a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), o número de freiras no país caiu de 37,3 mil, em 1990, para 33,3 mil, em 2010. A redução foi de 10,6%.
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No entanto, ainda há as que sentem-se chamadas a viver essa vocação e servir a comunidade. Em Brusque, neste ano, três mulheres procuraram a Paróquia São Luís Gonzaga com o intuito de seguir essa missão e hoje vivem o processo de discernimento vocacional, período em que conhece mais sobre a vida religiosa.
O pároco da igreja matriz São Luís Gonzaga, padre Magnos Caneppele, diz que para as mulheres se tornarem irmãs, popularmente conhecidas como freiras, passam por um longo processo. Ele explica que primeiramente ocorre o despertar por meio de um chamado, que pode ser tanto no período da infância, adolescência, juventude ou até na vida adulta. “A pessoa sente que quer servir Deus de perto, viver em comunidade, com outras religiosas”.
O padre diz que a partir do chamado, a mulher deve procurar uma paróquia e iniciar o discernimento vocacional. “Este é um momento forte de oração, de recolhimento, onde se colocam na presença de Deus e esperam a confirmação ou não dessa vocação”.
Nessa etapa, as futuras religiosas, além de buscarem mais intimamente Deus no seu dia a dia, realizam experiências em conventos para que comecem a vivenciar como é a vida nestes locais. “Começam a conviver nos conventos e ter uma vida de oração mais espiritualizada para ver se encaixam-se neste modelo de vida. Após essa caminhada, quando têm certeza do que querem, ingressam no convento e realizam as outras etapas do processo”.
Após o discernimento vocacional há as etapas de aspirantado, postulantado, noviciado, profissão religiosa e junioriato. Geralmente será a partir do quinto ano de preparação que a irmã fará a sua consagração definitiva e estará pronta para a vida consagrada. Antes disso, também precisará realizar os votos de pobreza, obediência e castidade.
Chamado de Deus
Marcela Glecy de Oliveira Leite, 26 anos, moradora no Centro de Brusque, mas nascida em Itapeva (SP), há cerca de três meses sentiu o chamado de Deus para seguir a vida religiosa. Ela é de uma família muito católica e sempre participou das atividades da igreja. Marcela trabalha como secretária na igreja Sagrado Coração de Jesus, no Guarani, mas foi num acampamento de jovens no Paraguai que sentiu mais forte que sua missão é de servir a Deus e à igreja.
Em 2011 ela participou de um acampamento em Botuverá, e em janeiro desse ano foi convidada a trabalhar em prol do próximo no país vizinho. Lá, Marcela viveu o que define como uma das experiências mais bonitas e fortes de sua vida. “Nunca senti o amor de Deus tão profundo como foi. Estávamos num momento de oração e uma pessoa me abraçou de uma maneira que não sei explicar. Tudo o que não era bom ou não estava bom em mim saiu. Senti que não estava tocando o meu corpo, mas a minha alma”.
Após essa experiência, Marcela não hesitou e foi em busca de sua vocação. Conversou com o padre Luciano Toller, da igreja no Guarani, que lhe auxiliou a participar de uma congregação e ir avaliando se realmente este é o seu desejo. Desde então, ela vai uma vez por mês para o convento das Irmãs da Divina Misericórdia, em Florianópolis, onde vivencia a experiência das religiosas. “Vamos na sexta-feira à noite e voltamos no domingo. Cuidamos dos afazeres da casa, participamos da missa, da comunidade e de ações sociais. A cada encontro respondemos um questionário”.
Marcela salienta que tem certeza que quer seguir a vida religiosa e pretende trabalhar como missionária. “Eu precisei ir até o Paraguai para sentir este despertar de Deus, quero ser missionária no mundo e ajudar o meu próximo”. A jovem afirma que não poderia morrer sem atender essa vocação. “Eu recebi esse chamado e não vou recusar. Atendi o chamado que Deus fez para mim e quero realizá-lo com todo o meu coração”.
Campo de atuação limitado
O padre Magnos avalia que há menos mulheres interessadas em seguir a vida religiosa porque, diferentemente dos homens, há menos campo de atuação. Segundo ele, o homem pode atuar como seminarista, padre, pode trabalhar em paróquias, ser professor de teologia, entre outras.
Já as mulheres têm um campo de atuação mais restrito. O pároco acredita, que em grande parte, essa baixa procura também se deve pela falta de divulgação das funções da religiosa. “Não se sabe o papel da irmã na igreja, é preciso explorar e mostrar mais sua função para que possamos atrair mais vocações”.
Projeto de Deus
A Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, no Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento, é um dos locais próximos de Brusque que recebe mulheres interessadas em seguir na vida religiosa. Neste ano, segundo a irmã Andréia Godinho de Almeida, seis jovens de Nova Trento, Indaial e Bombinhas procuraram a congregação. “A vida consagrada religiosa é um estado de vida. Aqui recebemos e acompanhamos essas jovens neste processo em que estudam sua vocação até terem o desejo de ingressarem numa comunidade”.
Religiosa há mais de 30 anos no Carmelo Santa Teresa e da Divina Misericórdia, em Itajaí, uma irmã que preferiu não se identificar diz que há muita procura pela vida religiosa, principalmente em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Ela afirma que os meios de comunicação, muitas vezes, dificultam o chamado de Deus. “Tem muito barulho que impede que as pessoas vejam as coisas de Deus. Busca-se se o passageiro que o mundo oferece, as diversões, não se tem uma orientação profunda do chamado de Deus e por isso o mundo está nesse vazio”, analisa.
A religiosa ainda diz que as mulheres que se sentirem chamadas à vida vocacional podem procurá-las. “Quem sentir o chamado, venha conhecer o carmelo. Só Jesus para preencher o vazio dos corações”.