Voluntária do CVV de Brusque conta como é a rotina de quem ajuda a evitar tentativas de suicídio
A cada chamado do 188, a atendente do Centro de Valorização da Vida está preparada para fazer a diferença na vida de uma pessoa
luiz@omunicipio.com.br
A cada novo chamado do 188, o voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Brusque não sabe qual história será relatada, qual desabafo será feito, qual segredo será revelado e se lágrimas serão derramadas. No entanto, de acordo com a voluntária Darci Mari de Simas, de 61 anos, o objetivo do serviço é acolher quem está do outro lado da linha. “Nós não salvamos a vida de ninguém, é a pessoa que liga para nós que salva a própria vida”, inicia.
Confira como voluntária lida com as ligações mais desafiadoras:
A voluntária ressalta que o CVV segue a linha do psicólogo Carl Rogers (1902 – 1987), a Abordagem Centrada na Pessoa. “Aqueles que ligam para desabafar, muitas vezes chegam com necessidade de se esvaziar. Nosso trabalho é acolher amorosamente, sem julgamentos, sem críticas, para ajudar esta pessoa a se esvaziar, para então conseguir encontrar um caminho a seguir”, explica.
Ao atender uma ligação de um suicídio em eminência, Mari diz que o voluntário costuma perguntar se a pessoa quer ajuda. Caso queira, são dadas orientações e informações importantes, como o número do Samu, o 192. Após isso, ao desligar, o voluntário precisa confiar que a pessoa ligará para o socorro em seguida.
“Se a pessoa quiser apenas uma companhia, começo o atendimento e, após fazer o esvaziamento, muitas pessoas percebem sozinhas novas formas de pensar sobre a situação. ‘Pensando bem, eu não quero mais morrer’, dizem. Aí, a pessoa pede a ajuda, não sabemos se ainda dá tempo, mas fazemos o máximo para ajudá-la”, continua.
Mari explica que, ao “esvaziar”, pode ocorrer uma “atualização” do pensamento. Ou seja, a pessoa vislumbra sozinha uma solução para as dificuldades.
Entretanto, muitas ligações apenas silenciam. Nestes casos, a voluntária não sabe dizer o que aconteceu. “Pode ter caído a ligação, a pessoa pode ter falecido ou desmaiado. Eu não fico matutando isso, pois tenho que, em 30 segundos, atender o telefone novamente. Mas, normalmente, eu deslogo, respiro e tomo uma água, um chá ou café. Então, 5 minutos depois volto e sigo com os atendimentos”, diz.
Na sala do CVV, há um cartaz com um grande prego de metal: “pendure aqui os teus preconceitos, inseguranças, rancores, manias e vícios”. O símbolo ajuda o voluntário a lembrar a filosofia do trabalho.
Apesar de ser um exercício de empatia, o prego também ajuda os voluntários a lidarem com atendimentos desafiadores. Mari destina a ele todo o peso dos atendimentos mais difíceis.
“Penduro tudo no prego e não levo nada para casa. Volto para casa, pensando nas coisas boas que aconteceram. Se os voluntários saírem dos atendimentos e levarem tudo com eles, acabarão perdendo a disponibilidade. Precisamos estar bem, para acolher o outro”, completa.
Natural de Itajaí, Mari mora em Brusque há mais de 30 anos. Ela, que é professora de história aposentada, entrou no CVV em abril de 2018.
Ao avaliar os atendimentos, a voluntária sente que faz a diferença na vida de muitos que ligam ao 188. Contudo, ela observa que o CVV também fez diferença na vida dela.
Quem quiser se tornar voluntário do CVV, pode acessar o site cvv.org.br e clicar em “Seja voluntário”.
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