A violência contra a mulher compreende uma ampla gama de atos, desde a agressão verbal e outras formas de abuso emocional, até a violência física ou sexual, no seu lado mais visível. O outro lado esconde um mundo de violências não-declaradas, especialmente a violência rotineira contra mulheres no espaço do lar, na rua, no trabalho, nos relacionamentos. Tente contar em uma só mão o tanto de vezes que ser mulher te fez sentir insegura essa semana.

sabrina cultura do estuproA experiência da agressão sexual vem em diferentes escalas. Essas micro violências diárias são banalizadas. São agressões institucionalizadas e conectadas, que causam diferentes consequências, mas fazem parte do mesmo repertório. O assédio nas ruas e a violência partem da visão que o corpo da mulher é um objeto de posse. Pronto para ser medido, avaliado e usado a todo o momento.

 

Culturalmente, esse corpo é passível de um valor – quase sempre atrelado a um conjunto de condutas que envolvem a moralidade e a sexualidade, especialmente a castidade. A partir daí dá-se a objetificação. Só objetos perdem valor. A existência dessas normas caracteriza uma falta de direito da mulher sobre sua autonomia. A posse do nosso corpo está no lado de fora. Na rua, na família, na igreja.

 

Esse quadro que dá possibilidade de questionar se a roupa da vítima não foi o causador da violência. Se não foram seus hábitos, seu passado. A culpa do estupro é da mulher, bem como a responsabilidade por evitá-lo. O estupro coletivo de uma menina de 16 anos iniciou um diálogo sobre a cultura do estupro – uma série de práticas que naturalizam o estupro e descredibilizam a vítima.

Estima-se que oito mulheres são estupradas por dia no Brasil. E toda mulher tem uma característica que pode ser usada para deslegitimá-la em caso de abuso. Nosso denominador comum é ser mulher e existir. Nossa luta é diária.

Vamos lutar juntas.

 

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texto e arte – Sabrina Gevaerd