Em um ano intenso, cheio de movimentos, de maneira geral, não foi possível o tempo e a pausa necessários para compreensão de tudo o que estava acontecendo. Grandes chances foram perdidas para dar os saltos e se apropriar de aprendizados sobre quem somos e nosso real propósito enquanto seres humanos.

Um olhar para o coletivo se fez preciso, porém, mais uma vez, a preocupação com selfies, maquiagem perfeita, e outras banalidades e fugas foram mais importante.

Há quem soube aproveitar e resignificar a vida; mas ainda há uma grande parte das pessoas que está perdida, procurando entender o que foi o vendaval 2016, que passou varrendo, limpando, fazendo mudanças devidas, e que ainda não chegou ao fim.

O individualismo impera, e diante de uma descrença pela humanidade, fui em busca de respostas pautadas na história e sociologia para aliviar o desconsolo e incompreensão da estupidez humana. Nesse resgate, foi possível entender a inversão de valores que vivemos. Ao olhar para Grécia Antiga e o conceito de esfera pública e política, pude constatar como esses conceitos se modificaram. Estou longe de apresentar verdades finitas ou incontestáveis. Porém, gosto de provocações e reflexões.

Há dois pensadores alemães, Arendt e Habermas, que auxiliam nesse entendimento sobre uma sociedade individualista, focada em interesses materiais, sem pensamento crítico a respeito de questões públicas e políticas. Bauman, sociólogo, também contribui e explica como chegamos a esse ponto: pessoas preocupadas com seu próprio umbigo, movidas pelo consumo e busca da satisfação no ter – busca incessante. Discursa também a respeito de uma sociedade que supervaloriza a exposição do íntimo, ou seja, tornar público o que deveria ficar na esfera íntima e vice-versa. É só se conectar ao uma rede social para entender o que Bauman explica como superexposição da intimidade.

As ideias desses pensadores, além de instigadoras e reflexivas, apontam para a necessidade de ação, chama para a responsabilidade que temos enquanto cidadãos. E o quanto somos influenciados por uma massa que parece caminhar desacordada, iludida.

Não acredito que pessoas juntas, sem um propósito, consigam algum resultado. Mas o engajamento dessas pessoas, trabalhando para um causa em comum, podem sim chegar a um desfecho positivo.

Mas, parece, que o que interessa está distante ainda de um objetivo em comum. Não há diálogo, não há parceria. O distanciamento e isolamento é cada vez maior. As ditas amizades se apresentam quando são convenientes. Sempre se espera algo em troca.

É uma visão bem pessimista, eu sei. Tem coisas boas acontecendo no mundo, não tenho dúvidas. Felizmente, também leio coisas a respeitos dessas boas ações e pessoas fazendo a diferença.

O mês de dezembro se aproxima, e sempre traz uma atmosfera mais positiva. Porém, seria estimulante ver as boas ações, a união entre as pessoas, as demonstrações de afeto, permanecerem ao entrar janeiro, fevereiro, março, e assim por diante; sem data para terminar. Só um pouquinho de mais cuidado com quem está perto, já faria grande diferença, uma espécie de corrente do bem. Vamos tentar?

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Clicia Helena Zimmermann – professora, consultora e especialista em mapeamento de ciclos