Ah, o amor! Inspiração para tantos artistas, justificativas para atos tolos e inconsequentes, meio para sobreviver ao caos.
No último dia 12.06, data instituída no Brasil como dia dos Namorados, a rede Instagram (aplicativo de publicação de fotos para smartphones) ficou fora do ar por alguns momentos. Não se sabe ao certo o motivo para o bug, mas o povo brasileiro não perdoa e, em instantes, atribuiu a culpa ao excesso de postagens de fotos e declarações fofas de casais apaixonados.
Se as declarações postadas e a felicidade estampada nos rostos dos casais são sinceras, podemos ficar felizes e agradecidos, pois amor nesse país não falta. Mas a reflexão que pretendo causar não é exatamente sobre a falta ou excesso de amor e declarações, mas sim, como estamos lidando com o amor em nossas relações de casais. Não importa em qual perspectiva você enxerga o amor, precisamos admitir que também passamos por algumas confusões e aprendizados nesse aspecto.
Mas vamos aos dados: o número de divórcios aumentou e o número de casamentos diminuiu, segundo pesquisa do IBGE de 2016; em cada 3 casamentos, um acaba em divórcio; o tempo médio entre a data do casamento e divórcio é de 15 anos. Os dados coletados são sobre casamentos em registro civil. Mas, não creio que seja muito diferente em casos de Uniões Estáveis, ou uniões que sejam registradas em cartório.
Então, entre dados do IBGE, postagens românticas nas redes sociais e percepção do que está acontecendo, encontra-se uma certa dicotomia: deseja-se o amor ideal, proclamado na indústria da cultura, da propaganda, e nas expectativas de sonhadores que aguardam a sua metade, tal qual nos contos de fadas; e por outro lado, o individualismo, e a falta de paciência para lidar com o outro.
“Viver felizes para sempre” requer fidelidade e duração eterna das relações amorosas e, para isso, tolerância, compreensão, colaboração, entrega são palavras-chave. Porém, muitas pessoas não estão dispostas e com paciência para abrir mão de sua opinião, de lidar com frustrações, defeitos e crises do parceiro e entender que na vida há fases que são mais difíceis e longas de serem superadas. Como tudo, nas relações também haverá fases boas e ruins. Necessita também de tempo para maturação.
E, com tanta pressa, excessos e inconstância, surgem os amores líquidos, fast food, miojo e outros nomes que já foram dados por filósofos e sociólogos que estudam esses fenômenos da contemporaneidade. São os amores rápidos, em que no mesmo dia, os casais se conhecem, se apaixonam, sabem tudo sobre a vida um do outro, com a ajuda das redes sociais, claro, e no dia seguinte, a relação já está desgastada e desinteressante demais para continuar. Contribui para esse amor rápido, a própria cultura do consumo, que além de bens materiais, estimulam o consumo por novas experiências, e pelo efêmero. Vivemos em uma era que as experiências precisam ser intensas e rápidas para que nos atraia.
Tudo isso, causa um estado de cansaço, exaustão, desânimo, uma espécie de ressaca de amor, em um número cada vez maior de pessoas.
Há um outro lado. Sempre há. Novos papéis, novas formas de relacionamentos, a necessidade de ficar sozinho, entre outros aspectos relevantes para essa discussão.
E, dentre tudo que tenho visto e lido, acredito que todos estamos aprendendo e reaprendendo a viver em sociedade. E quando passamos por revoluções, as coisas parecem mesmo fora de ordem e não há muito o que dizer sobre o que está certo e o que está errado.
Particularmente, gosto do discurso que diz que somos inteiros, e não metades uns dos outros. E, que é preciso aprender a respeitar as individualidades. Assim, um mais um fica igual a dois, e é essa soma que poderá nos ajudar a ir mais longe.
Clicia Helena Zimmermann – professora