Um perfil astral descrito pelas viagens e emoções do sol em Peixes, com características da Lua em Leão acentuando vaidade e a famosa virtude de chamar atenção, querendo ou não. O ascendente em Leão pode até ter uma personalidade super discreta, como Liza, mas mesmo assim não conseguirá evitar os olhares de admiração.

Elizabete Da Costa da Silva, de 39 anos, ou simplesmente Liza, como é conhecida, é a força da mulher negra que ganha destaque hoje no Intimidades. Mãe de três filhos, Liza quer para eles um futuro de oportunidades. Foi inevitável descrever seu perfil sem resgatar as superações que o meio social lhe impôs.  O preconceito existiu e existe, mas, para ela, qualquer falta de amor “fica no bolso” ao escrever sua história.
Quando o ascendente Leão traz a informação de vaidade, Liza trata não só da própria, como de outras mulheres que diariamente atende no salão que leva seu nome. Foi no primeiro trabalho, aos 14 anos, que iniciou a carreira em salão de beleza. Começou lavando cabelos para a Nair Zanon, até ter seu próprio espaço com cinco colaboradores.

A formação da empresária Liza Costa que lidou com preconceitos até estabilizar carreira. Fotos Ricardo Ranguetti

André Groh: Como foi o início da carreira?
Liza Costa:
Nasci em Brusque e sou dessa terra de alemães. Tenho orgulho, porque é uma terra muito próspera. Quando minha família veio para cá, enfrentou muito preconceito. Mas nunca me perdi e sempre soube quem eu sou. Já tiveram pessoas que chegaram a não me deixar lavar o cabelo, por conta da minha cor negra. Mas quando minha patroa deu uma oportunidade, agarrei com unhas e dentes. Meu serviço era diferente. Eu tinha 14 anos nessa época. E sempre gostei de doar e de cuidar. Isso vem de mim. Aprendi que as pessoas gostam de um atendimento diferenciado.

O que é esse atendimento diferenciado?
As pessoas querem conversar, e escuto o que as pessoas têm para me falar. Trabalho com muitas mulheres que têm depressão, mesmo com uma vida aparentemente muito boa. E vi que há coisas que o dinheiro não compra. Algumas mulheres, mesmo sendo minha cliente há 22 anos, sabem que tem uma amiga. Eu sei chegar num limite com tudo isso. Hoje não está tudo em valores financeiros, tem serviço diferente que gera outros valores.

Ainda na infância, esses episódios de preconceito já ocorriam?
Muito, e isso se repetiu na minha filha. Morávamos perto do portal de Guabiruba. Ela tem 13 anos, ainda faz acompanhamento com Psicopedagoga.

Quais desafios você identificou?
Sou bem emotiva. É uma coisa que no inicio chorava todos os dias pra minha mãe. Com minha dificuldade financeira, não tinha o que fazer, tinha que trabalhar e levar o sustento para casa desde nova. E, às vezes, alguém vinha com suas gracinhas ainda.

Que tipo de gracinha?
Agarravam a bolsa quando eu chegava para servir um café, jogavam as coisas no chão para eu juntar. E eu respondia com um sorriso no rosto. Pra eles é um nada. E eu coloquei tudo isso no bolso. Precisei lidar com minhas emoções e o preconceito está na cabeça de cada um. Na verdade, somos todos iguais, e todo mundo tem direito de ser feliz e mostrar sua história. Eu vejo que se você não colocar suas emoções no bolso, a gente ainda sente pelos olhares. Se chegar dentro de uma loja, as pessoas ficam correndo atrás de você por ‘segurança’. Já fui roubada uma vez e foi difícil buscar a liberação de umas câmeras na época, mesmo com um documento fornecido pela delegacia. As pessoas achavam que eu mesma havia roubado. E nem tinha nada, era R$ 1 mil pra pagar umas contas. Essas coisas doem, é um absurdo, eu que fui a vítima do roubo. Tive que superar.

Seus filhos já sentiram preconceito?
Sim, e falei que eles não podem agir iguais. Somos iguais como qualquer ser humano. E eles não podem ter esse preconceito por negros ou qualquer outra coisa. Meu filho mais velho, de 20 anos, começou a trabalhar num lugar que a encarregada dele chamava ele de ‘neguinho’. Ele ficou muito sensibilizado e quis sair do trabalho. Eu falei ‘meu filho, se eu contar tudo o que já passei e me falaram… Precisei colocar tudo no bolso’. Foi um momento que ele teve dificuldade.

Como você vê a importância dos negros em ocuparem espaços na sociedade – faculdades e postos de trabalho – como lideranças por seus méritos?
O esforço e a mentalidade disso tudo acaba gerando uma expectativa muito grande em vários aspectos. Independente do que se passou. Me chamaram para um movimento negro, mas o que vamos ganhar com isso? É uma coisa de cada um, não tenho uma resposta certa pra isso. É uma consciência que precisa partir de cada pessoa.

Como é dividir a rotina exaustiva de salão, com a vida em casa?
Me doei a vida inteira para o salão, e meus filhos pagaram o preço com a gente. Até meu marido. Mas eu tinha um alvo a ser alcançado para podermos ter uma vida melhor. Foi bem complicado, porque já fui da roça. Minha mãe já teve engenho de farinha há muito tempo, e não podia proporcionar as coisas que meus filhos têm. Trabalhei muito em feriados e domingos para melhorar a nossa qualidade de vida.

O que espera do futuro de seus filhos?
Que eles possam fazer sempre o melhor. Desde como eu fui uma boa faxineira, uma boa moça que fazia café, cabelo… Tudo o que fizermos com amor, um dia nossa sementinha vai sair de dentro da terra. E sempre terá um dia melhor.

Como surgiu a profissão cabelereira?
Minha sobrinha trabalhava na casa da dona Nair Zanon. E ela indicou. ‘Eu não quero alguém velho, quero alguém novo’. Mas eu era nova, e ela ficou surpresa quando me conheceu. Foi amor à primeira vista. Eu nunca tinha visto um salão tão grande. Cheguei a ser uma espécie de dama de companhia. Dormia no trabalho e cuidei praticamente de tudo por dez anos, com muita dedicação e amor.

O que mais te motiva na profissão? Você fala muito de amor e cuidado. É isso, ou tem mais?
As mensagens em datas comemorativas são especiais. Elas não passam despercebidas. É uma delicia isso.

Como surgiu seu próprio salão?
Eu falei com o Marcos Nascimento. Ele tinha tirado todas as nossas assistentes, e eu estava preocupada com o fluxo de trabalho. Uma andorinha não faz verão sozinha. Ficamos sem assistente e ficou difícil profissionalizar. Foi um tempo bom, mas chegou a hora de seguir voo solo. Estava no meio da pandemia ainda. Eu nunca cai no chão, e cada dia é um começo, esse é um lema da minha vida. ‘Liza tu és louca de abrir um salão no meio da pandemia?’, as pessoas perguntavam. Eu falava ‘olha, Deus, tá contigo e tá comigo, preguiça eu não tenho’.  E está sendo muito bom.

Acredita em Deus?
Muito. Ele não dorme.

Qual o principal propósito da Liza?
Se a gente continuar nessa coisa gostosa, nesse amor das pessoas, eu já fico muito feliz. Eu vejo as pessoas cada vez mais frias e calculistas. Já temos guerra que chega. Trazer mais amor e paz para o próximo é algo que nunca vou deixar de acreditar e fazer. Em todo esse cenário que estamos vivendo… E não perco tempo com fofocas e coisas que não me acrescentam.

Amor cura tudo?
Sim, não vale guerra nenhuma. A gente, mudando isso e fazendo nossa parte, também vamos estar ajudando. Eu vou falar bem a verdade. Eu amo ir no asilo, eles adoram ser ouvidos, e levo muito amor pra esse trabalho.