A crescente que vive a Molas Brusque se confunde muito com o próprio movimento econômico do país. Há 36 anos, quem sempre desenhou os passos futuro da empresa eram os setores mais oportunos nessa trajetória, com um produto “camaleão”, que cresceu na indústria têxtil, e hoje se dedica principalmente ao setor automobilístico e agrícola.
E agora há investimentos num “novo”, digamos, segmento: de ferrovias. Carlos Roberto Fischer é quem dita os passos da empresa, comandante majoritário, não esconde ser um camaleão também. “Transformo o arame em qualquer coisa”, diz, ao lembrar que já produziu artesanalmente balanços de área de lazer e vaso de samambaia.
Além de falar dos negócios e do entusiasmo com a indústria, Carlos Fischer se emocionou em dois momentos durante nossa conversa. Ao falar do pai, o industrial Egon Nicolau Fischer, e da primeira neta Lily, que completa dois anos este mês. “Foram os meses mais longos da minha vida, desde que soube que seria avô até o dia do nascimento”, revela.
André Groh: Como surgiu o negócio de molas?
Carlos Fischer: Meu pai produzia molas para teares desde os anos 1970, junto com dois amigos no início. Em novembro de 1983 a empresa foi vendida para compradores do RS. Era uma geração focada na indústria têxtil. Eu e meus irmãos ficamos desempregados, mas em menos de seis meses reativamos o negócio porque as pessoas continuaram a nos procurar. Era um momento que fazíamos tudo na mão. Hoje a tecnologia é muito mais precisa, com muito menos trabalho manual e humano.
A.G.: Qual a maior herança que recebeste do teu pai?
C.F.: O conhecimento. Iniciei com 9 anos, e desde lá eu fui me inserindo na indústria e no comércio. Meu pai me ensinou a trabalhar e conquistar o que quisesse. Meu primeiro carro eu comprei da minha mãe, e financiei em 24 meses no Bamerindus sozinho.
A.G.: O PIB agropecuário de 2,4% anunciado pelo governo ainda é otimista para 2020. Qual sua expectativa para o setor?
C.F.: O setor agrícola hoje sustenta a linha de produção da fábrica, que mesmo com carga horária reduzida em 25%, está trabalhando aos domingos e feriados. É um cliente que segue colocando pedido, e conta que precisam muito de nós. Mas a gente também tem dificuldades, a usina em Minas Gerais que é nossa fornecedora, está desligada por exemplo.
A.G.: Quais são os principais clientes agrícolas?
C.F.: John Deere, Stara, AGCO Corporation… Nós vendemos bastante para o sudeste. O catarinense tem uma questão de abraçar o cliente e ser fiel. Isso deixa o paulista, por exemplo, seguro para comprar de um catarina, porque ele não vai migrar facilmente para um outro cliente só porque paga mais pelo mesmo material. É um comportamento que herdamos dos alemães, por isso muita gente nos procura.
A.G.: Existe um processo criativo dentro da empresa, ou a demanda vem pronta do cliente?
C.F.: Na maioria dos atendimentos o cliente sabe o que quer. Mas às vezes ele não sabe a qualidade a ser aplicada, ou o produto a escolher. E nossa engenharia faz isso, assessorando na escola dos materiais e executando os testes de laboratório.
A.G.: Qual tua expectativa futura para a indústria?
C.F.: É difícil prever daqui cinco anos. Ninguém falava de coronavírus pra nós até ano passado. Eu vou seguindo aonde eu vejo que o mercado tem oportunidades. Quando entramos no mercado agrícola em 2012, nós íamos para eventos no RS, e depois a feira do arame na Alemanha. Neste período investimos num maquinário que nossa empresa não comportava fisicamente. O maior investimento veio depois ainda, porque tivemos que preparar a estrutura da empresa para receber as máquinas. Era um período que estávamos aperfeiçoando nosso produto e aumentando as possibilidades. Eis que então surge até a possibilidade de produzir molas para vagão de trem. Já trouxemos até a MRS e Vale S.A. para visitar e conhecer nossa fábrica, porque nosso concorrente trabalha num processo que não é controlado. Nossa premissa de controle de produção tem um engenheiro cuidando de cada processo, porque a mola de trem é muito importante e não podem ocorrer incidentes. Estamos trabalhando com alta tecnologia. Existe muita multinacional investindo neste setor de ferrovias no Brasil. O país tem 18 mil quilômetros de estradas de ferro, e há novos projetos bilionários, que atentem de norte a sul. É um mercado novo pra nós, que me deixa muito otimista.
A.G.: Você investe na construção civil também. E diante de todo este cenário, como que surgiu a CRF Construtora?
C.F.: Fui ajudar um amigo que estava precisando vender um terreno na Santa Terezinha. E meus avós já ensinavam a “não botar os ovos tudo na mesma cesta”. Queríamos diversificar um pouco, e esta foi a oportunidade. Contratei um engenheiro que sugeriu o investimento numa unidade multifamiliar. Imagine que não vendemos nenhum apartamento até a entrega. Depois, vendemos seis no mesmo dia. Foi um projeto crescente, que ganhou um prédio corporativo na rua Felipe Schmidt, o CRF Prime, o Riverside e o mais novo lançamento, o Alameda Residence.
A.G.: Esperavas que a CRF atingisse este patamar?
C.F.: Não esperava. O que a gente precisa fazer é apostar na diferença, com uma nova proposta de arquitetura. Eu quis trazer algo diferenciado pra cidade, com referenciais internacionais e do que está acontecendo nos grandes centros urbanos do Brasil também. O Riverside por exemplo, é uma referencia de São Paulo. Ele garante ser um condomínio vertical inteligente e seguro, com dois prédios entregues e um terceiro que será lançado no início no próximo semestre, o Edifício Douro.
A.G.: Você viaja muito e gosta de estar cercado de pessoas com isso em comum. Por que?
C.F.: Viajar enriquece a cultura do ser humano. A CRF Construtora tem este propósito, e acaba sendo um copilado de experiências internacionais, com uma arquitetura singular, principalmente nos novos projetos do Alameda Residence e o Edifício Douro.
A.G.: O que é o Douro?
C.F.: É uma homenagem a um rio em Portugal. Assim como todos os outros dois edifícios do Riverside, que fazem homenagens a rios – Tâmisa e Sena. Mas o Douro em especial traz uma nova proposta arquitetônica, já na linha do Alameda, com ambos projetos assinado pelo arquiteto Rodrigo Kirck. O Douro já vem numa nova pegada de materialidade, com ferro na sacada, linhas retas e janelas para contemplar a região da rua Hercílio Luz, com a Ponte Estaiada e toda essa vegetação intocada da margem do rio Itajaí-Mirim. Faz parte da minha preocupação com o morador.
A.G.: A construção civil está num bom momento?
C.F.: Eu acredito que o investidor voltou a apostar na construção civil. Se compararmos há cinco anos o crescimento da construção civil e fazer uma referência com aplicação convencional, com certeza a construção civil rendeu mais.
A.G.: Com um perfil muito familiar, de gostar de passar tempo com a família, o que mudou após a chegada da neta Lily?
C.F.: Tudo. Eu gosto muito de estar com minha família. Mas a netinha… Até fico emocionado. Quando a Julie (filha) falou que estava grávida de dois meses, os sete meses seguintes foram os mais longos da minha vida. Essa é uma oportunidade para o avô ser pai de novo. Quando tinha minhas filhas, eu ficava dois ou três dias sem vê-las. Todo dia era um desafio. Hoje as coisas estão mais fáceis, as filhas já estão delegando também. É mais fácil ter um tempo com a neta, do que no passado foi com as filhas.