Padre Vilson Groh é um educador social que trabalha há 45 anos nas periferias da Grande Florianópolis. Foi morando no Monte Serrat, a partir da convivência com os mais pobres, que aquele jovem universitário, vindo de Brusque, compreendeu que o que falta à periferia é o acesso à oportunidade e respeito entre as pessoas. Desde então, ele nunca deixou de lutar para que crianças e jovens do morro tenham a oportunidade de materializar seus sonhos por meio de uma educação transformadora e emancipatória.

Sua história e seus passos cativam e conectam pessoas por onde passa. E deste caminhar, um passo por vez, é que surgiu o projeto “Pão e Beleza: Caminhos de Padre Vilson”, transformado em filme documentário com direção de Kátia Klock e Kiko Goifman. 

O projeto inicial nasceu com a bibliotecária Morgana Andrade que, juntamente com a equipe e diretoria do Instituto Pe. Vilson Groh, buscou parceiros para viabilizar o projeto. “O ponto crucial foi: Padre Vilson tem uma história rica em detalhes e se buscássemos recortes atuais, com certeza, nós deixaríamos para trás uma parte importante dessa história. Assim, nosso ponto de partida foi a cidade natal do nosso personagem, Brusque, tendo sua temporalidade até sua chegada a Florianópolis. Mas não queríamos uma produção estática, por isso a narrativa poética permite que o telespectador se permeie junto com a produção e com as histórias narradas”, conta Morgana.

O documentário teve uma pré-estreia na noite desta quarta-feira, 20, para familiares e convidados, no CineShow no Beiramar Shopping. Na sexta-feira, 22, a exibição acontece no CEDEP, uma das entidades que integram a REDE IVG e no sábado, 23, na Igreja do Monte Serrat, sempre às 19h30. 

Padre Vilson acompanhou o processo de produção sempre de perto, mas assistiu o documentário pronto somente na quarta. “Quis vivenciar essa experiência junto com a minha família de sangue e minha família de vida”, explica o personagem central da história.

‘Pão e Beleza: Caminhos de Padre Vilson’ combina história e poesia

A obra se passa nas vielas e escadarias do Monte Serrat, Florianópolis, e nos lugares onde Padre Vilson cresceu, em Brusque. Assim, os personagens que aparecem na narrativa foram se entrelaçando com o contexto. “A escolha das personagens do filme é baseada na ideia de que você faz um filme com o outro e não só sobre o outro. À medida que o padre Vilson mergulha na sua própria história e vai se revelando a nós, a definição das personagens parte essencialmente dele mesmo. Claro que interagimos na busca de outros olhares e encontros da vida dele, mas basicamente trata-se de um filme feito com ele”, explica o diretor Kiko Goifman.

Goifman ressalta que, apesar de ser um documentário, ‘Pão e Beleza’ não é uma produção estática e temporal. “O filme não começa exatamente em Brusque. A gente tenta de alguma forma trabalhar do ponto de vista temporal, mas não chega a ser cronológico. É um filme inteiramente pautado na beleza com que ele (Vilson) olha o mundo e as pessoas”, completa.

A plasticidade estética e fotográfica foram conduzidas por Marx Vamerlatti. O caminhar é um dos movimentos retratados no documentário, figurando como fio condutor dessa trajetória. “O caminhar reflete principalmente uma ideia de movimento na vida e nas ações do padre. Ele é um cara moderno, preocupado com questões essenciais hoje em dia”, explica o diretor. E completa: “Esse movimento é praticamente natural, desde a saída dele de casa quando vai pro mundo. Vilson não é um padre estático, ele não parou no tempo. O padre é essa pessoa que caminha, que está aberta, que evolui, que se movimenta, que se desloca fisicamente”.

Padre Vilson inicialmente não aceitou a ideia do documentário

Padre Vilson Groh conta que a primeira reação ao conhecer o projeto foi de dizer não. “Toda a minha trajetória sempre foi coletiva. Eu jamais pensei em fazer um caminho solo, porque esse caminho é uma construção coletiva. Depois, quando começamos a conversar sobre a importância e a possibilidade de essa história ajudar na construção da cultura da solidariedade, da justiça social, do bem comum, passei a assimilar o processo e me entregar. O entrosamento da equipe na relação comigo foi fantástico, porque houve muita sinergia. Por onde a gente caminhou e fez as gravações, todo esse processo foi bem interessante e gratificante”, explica.

Katia Klock, diretora do documentário, conta o processo de filmagem

A diretora Katia Klock – também natural de Brusque, documentarista com foco em temas sociais, feministas, culturais e ambientais, destaca que história e memória são palavras que valem ouro, e que procura sempre valorizar os personagens, verdadeiros patrimônios das obras. “Nosso trabalho nunca é solitário. E nesse documentário sobre Padre Vilson não foi diferente. Conseguimos juntar profissionais que viraram amigos, e amigos que se transformam em parceiros de trabalho. Isso é muito especial”, pontua.

Quando questionada sobre o recorte escolhido para o documentário, Katia explica: “Foi justamente resgatar a origem desse homem, com formação religiosa e com seu ímpeto de abraçar o mundo a partir da vivência com as realidades do Maciço do Morro da Cruz. Apresentado o recorte, nós nos baseamos em uma pesquisa e nos encontros com Padre Vilson, para então pensar de que forma essa história seria contada. Já nas primeiras conversas com ele, percebemos o peso de algumas palavras, como ‘passos’, ‘caminhadas’, ‘pontes’… A partir daí o roteiro de filmagem começou a surgir com cenas que se projetavam a partir da escuta”.

‘Pão e Beleza’ traz a trajetória de um padre que preza pelo diálogo

Padre Vilson descreve o processo criativo da produção do documentário como um resgate de sentimentos e experiências de vida. “A minha trajetória não é a de um padre comum, de um menino que vai para o seminário e fica ali por 15 anos estudando o tempo inteiro. A minha trajetória liga estudo, trabalho, sindicato e vida pública ao longo do tempo. Então foi muito interessante retornar a esses espaços”, relata.

Toda essa construção reavivou memórias. Quando questionado sobre qual recado o nosso protagonista daria ao jovem Vilson, ele é categórico: “o diálogo é primordial. Aprender a dialogar com os contextos da sociedade, com os segmentos sociais e com as pessoas  que produzem a vida nessa cidade é fundamental, sem perder a essência e os princípios do que se acredita. Penso que romper continuamente com a indiferença é um princípio essencial no resgate de que o outro é parte de mim”.

Filme também será lançado em Brusque e, posteriormente, na internet

O documentário teve a primeira exibição na noite desta quarta-feira, 20, para familiares e convidados. Mais duas sessões acontecerão neste final de semana: na sexta-feira (22) no CEDEP, no Monte Cristo, e no sábado, 23, na Igreja do Monte Serrat. Ambas serão às 19h30. 

Após a exibição, haverá um bate-papo com os diretores e o protagonista. Após essas estreias será realizada uma sessão especial em Brusque, cidade natal do Padre Vilson, e posteriormente será disponibilizado na internet.

Filme documentário conta com exposição virtual

Acompanhando o lançamento do filme documentário ‘Pão e Beleza: Caminhos de Padre Vilson’, foi criada uma exposição virtual que traz documentos e a ajudam a contar a história e toda a trajetória do presidente do IVG. O material pode ser acessado no site: www.redeivg.com.br.

O documentário é uma realização do Instituto Padre Vilson Groh, com patrocínio da Prefeitura de Florianópolis, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (3659/1991) e apoio cultural de Abstrato Co., Apoio Comunicação, Beiramar Shopping, HOF – Hospital de Olhos de Florianópolis, Irmãs da Divina Providência, J. A. Locações, JNZ Participações S.A., K PLATZ Hotel, KDS Residenciais Boutique, RGK Investimentos Grupo Guga Kuerten, WOA, Clarissa Machado Santos, Jaime de Paula e Naira Marcia Scander Santanna Santos.