Era um vale tranquilo, em que viviam diversos animais, dos mais perigosos aos mais indefesos. Cercados pela natureza e tudo o que ela oferecia, parecia que nada poderia roubar a paz dos moradores daquele lugar. Havia comida e moradia, sol, chuva e, claro, regras a serem cumpridas. Assim, havia ordem, respeito e paz.

Os animais caçavam e também se alimentavam das frutas que com fartura brotavam. Em todos os casos, era preciso destinar uma parte ao Rei. Ele, o Leão, comandava a floresta e seus habitantes, desde que decidiu que seria assim. Oferecia em troca segurança e a garantia de que não iria matá-los.

O Rei Leão não sujava suas enormes garras mas sempre tinha carne fresca a sua disposição. Corria e saltava apenas para demonstrar seus dotes e sua beleza invejável. Chegava a prometer a alguns que lhes darias garras iguais as dele, para que se protegessem do Lobo.

Os macacos viviam assustados, pulando de galho em galho na esperança de não serem pegos pelo Lobo. As galinhas ciscavam de cabeça baixa, preocupadas em manter o calor em seus ninhos e a perpetuação da espécie. Claro, para toda galinha, o Lobo era o pior medo.

E havia o Puma. Um felino esperto, rápido e muito, muito parecido com o Leão. Eram amigos, porém, o que ninguém sabia era que o Puma não dividia sua caça com o Rei. Achava que não era necessário, uma vez que muitos já ofertavam alimento ao Leão. Ele, justo ele, que caçava mais do que todos, não dava sua parcela e comia tudo escondido.

Entre os montes, havia um rio escondido. Um dia, o Asno andava por ali, comendo seu capim calmamente. De repente, um alvoroço!

– O que foi? – perguntou o Asno aos macacos que pulavam nas árvores com velocidade.

– O Lobooo!!!

– Vem vindo, é?

Uma galinha corria estabanada:

– Está daquele lado! Co-co-cooorre!!!

O Asno, com delicadeza, pegou a galinha com uma de suas patas e a colocou em suas costas. Saiu andando e lhe disse:

– Sabe, minha cara, que esse Lobo é tão temido e nunca ninguém o viu.

– Co-co-como assim?

E o Asno explicou que há décadas os leões e pumas prometem proteger a todos de um Lobo que não existe. E como são fortes e poderosos, e o Lobo desenhado por eles é terrível, ficou fácil de a bicharada acreditar. Bem mais calma, a galinha voou para o chão e saiu cacarejando para dentro da mata.

Um dos macacos que a tudo tinha ouvido, foi depressa contar ao Puma. O Puma contou ao Leão (e ganhou um pernil como troféu de lealdade).

O Asno nunca mais foi visto naquele vale. As galinhas foram presas num cercado. Estavam aflitas, com medo da morte, mas viram que agora não eram mais solitárias. Tinham umas às outras. Logo todas sabiam que o medo não tinha forma de Lobo. O medo era a cerca e juntas elas iriam derrotá-la.

Uma delas questionou:

– E como é que aquele Asno sabia disso?

– Ah! – respondeu a galinha que havia lhes contado tudo – Esse Asno era atento e tinha boa memória para guardar os relatos de seus antepassados.

Moral da história: Não alimente os animais.


Lieza Neves
– atriz, escritora e produtora cultural