Tem coisas que impressionam. Um exemplo? A necessidade de se fazer uma campanha para restituir a verdadeira etnia de Machado de Assis. Isso para combater o “embranquecimento” sofrido pelo que é tido como o maior escritor brasileiro, ao longo do tempo.

A campanha está centralizada no site Machado de Assis Real, que explica as razões da iniciativa. Aspas:

MACHADO DE ASSIS ERA UM HOMEM NEGRO.
O RACISMO O RETRATOU COMO BRANCO.
É HORA DE REPARAR ESSA INJUSTIÇA.

E continua.

Machado de Assis. O maior nome da história da literatura brasileira. Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta, teatrólogo. E o que poucos sabem: negro.

O racismo no Brasil escondeu quem ele era por séculos. Sua foto oficial, reproduzida até hoje, muda a cor da sua pele, distorce seus traços e rejeita sua verdadeira origem.

Machado de Assis foi embranquecido para ser reconhecido. Infelizmente. Um absurdo que mancha a história do país. Uma injustiça que fere a comunidade negra. Já passou da hora de esse erro ser corrigido.

No mês do Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, finalmente, será.

Uma foto do Machado de Assis real está disponível aqui no site, para ser colada sobre a foto antiga, preconceituosa. Uma errata histórica feita para impedir que o racismo na literatura seja perpetuado. Para encorajar novos escritores negros. Para dar a chance de a sociedade se retratar com o maior autor do Brasil. E para que todas as gerações reconheçam a pessoa genial e negra que ele foi.

Que cada estante deste país possa ter um livro de Machado de Assis corrigido.

A história agradece.

 

Nosso racismo estrutural, aquele que tem muita gente que diz que não existe, costuma se expressar assim, transformando quem se destaca em pessoa “padrão”. De preferência homem, heterossexual, de meia idade. Sempre branco. Ou o mais branco possível. Reflita: se fizeram isso com a imagem de Cristo, dando a ele características europeias, nada mais “natural” do que apagar do imaginário popular qualquer representante de “minoria” que se destaque. Com ênfase nas aspas, por favor.

Se não concordamos com isso, melhor que façamos nossa parte. No mínimo, a de restabelecer verdades históricas. E, no caso de Machado de Assis, a gente pode fazer o que a campanha incentiva: trocar as fotos “clareadas” do escritor pelas que o representam de verdade. É um gesto simples, com efeitos poderosos. Vamos?


Claudia Bia
– jornalista em desconstrução