“Falei só de brincadeira”, “Não quis magoar”, “Gente chata, não se pode mais brincar?”, “Agora não pode mais fazer piada de nada?”,  “É muito mimimi”– respondo a todas a essas questões, sem demora: não, não pode fazer piada, nem comentários, nem sequer fazer menção de forma preconceituosa.

As lutas diárias de grupos discriminados,  buscando equidade de oportunidades, direitos e liberdade de expressão é uma luta séria. Muito já se conquistou, mas há muito o que fazer ainda. Por isso, nesse momento da sociedade, preconceito é assunto que precisa ser repudiado, em qualquer esfera.

Ah, mas que coisa chata, e como fica o humor? De fato, segundo palavras do ator Luiz Fernando Guimarães, o humor vai na contramão, é debochado, é irônico, fala de coisas que ninguém tem coragem de falar. Porém, continua o ator, não se espera que o humorista faça piadas que vá agredir alguém ou constranger o próximo.

Respeito e ética vem primeiro.

Já houve tempos na história em que o ladrão tinha a mão cortada como punição; hoje se espera punição corretiva, por cumprimento de pena. Pode-se dizer então, que a ética é temporal, ou seja, dependendo do momento da sociedade o que era ético, hoje pode não ser. Assim, como se acredita que a humanidade está evoluindo, não se permite mais piadas e brincadeiras preconceituosas.

Principalmente, e especialmente, quando estamos falando de profissões em que o indivíduo, de alguma maneira, tem sua imagem pública, é formador de opinião, e tem sua fala exposta em locais públicos ou em redes sociais. Os discursos, gestos, ou menções preconceituosas são inaceitáveis.

Nos últimos tempos assistiu-se a um show de horror: a exposição nas redes sociais um grupo de rapazes do curso de medicina do Espírito Santo, com as calças abaixadas e gestos imitando a genitália feminina, com a hashtag #pintosnervosos; a repetição da cena por alunos de medicina da Furb, em Blumenau; José Mayer falando que era de um tempo em que assediar uma mulher era aceitável… E por aí vai…

Sem contar que em nosso país ocorrem 13 femicídios (crime de ódio baseado no gênero feminino) por dia;  que a homofobia mata uma pessoa a cada 25 horas; e o preconceito contra a população negra é ainda a maior denúncia feita no Disque 100, na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Não há espaço para brincadeiras quando se fala de preconceito. Nenhum dos casos aqui citados foram considerados brincadeira pelas vítimas ou classe desrespeitada. O assunto é sério. Fico me perguntando, pensando naqueles que dizem que “não foi por mal, foi só uma brincadeira”, se essas pessoas um dia irão crescer e entender a importância de se respeitar o próximo…  Adultos, melhorem!

 

Clicia Helena Zimmermann – professora, consultora e especialista em mapeamento de ciclos