Com a abertura do loteamento e a venda dos terrenos que antes faziam parte da fazenda de Antonio Maluche, o bairro Jardim Maluche cresceu como uma região residencial, com poucas vias de acesso à cidade – o trajeto era possível pelas ruas Pedro Werner e Dom Joaquim – e um bairro feito para morar.
Muitos dos moradores estão no bairro desde o início, outros chegaram mais tarde, alguns deixaram suas casas para morar em outras partes da cidade – porém, é unanimidade entre quem passou pelo Maluche que é um dos “melhores bairros para se morar”.
Natural de Gaspar, Pedro Medeiros, 73, mora no Jardim Maluche há 38 anos. Ele conta que procurou o bairro devido à infraestrutura disponível na região desde a época em que se mudou.
“É um bairro com segurança, conforto, para quem quer morar bem”, resume ele, que considera o local a “menina dos olhos” de Brusque. “Foi muito feliz a pessoa que projetou esse loteamento, que tem uma estrutura, na minha opinião, comparada à antiga Alameda Rio Branco, em Blumenau.”
O Jardim Maluche foi projetado pelo engenheiro Wladislau Rodacki, de Blumenau, que foi o responsável por colocar no papel as ideias inovadoras dos irmãos Maluche: ruas largas, com canteiros, estritamente residencial.
Para Pedro, uma das principais vantagens do bairro é sua topografia, que permite que a região não seja atingida por enchentes nos períodos de muita chuva em Brusque. “Sinto-me um morador privilegiado em morar aqui”, diz ele, que morou também no bairro Santa Terezinha durante três anos.
Veronica Maluche Loos, neta de Antonio Maluche – proprietário da fazenda que se tornou o bairro – e filha de um dos idealizadores do loteamento, morou no Jardim Maluche até 2018. Hoje moradora do Centro, ele avalia que as mais de seis décadas passadas no bairro deixam saudade. “São tempos que não voltam mais”, diz ela, lembrando-se da fazenda do avô e do início do loteamento, que cresceu rapidamente.
Ela diz que é um local muito seguro e tranquilo, porém, que passou a ter muito mais fluxo de carros desde a inauguração da ponte que faz a ligação entre o Centro e o bairro. Antes de 1985, quando o acesso ao Maluche era feito pelas ruas Pedro Werner ou Dom Joaquim, o movimento era apenas entrada e saída dos moradores, pois não havia muitos estabelecimentos comerciais.
Com a abertura do Jardim Maluche para estabelecimentos comerciais em algumas regiões, outros serviços passaram a atuar no bairro, como escolas, unidades de saúde e, durante alguns anos, o Fórum de Brusque. De acordo com Pedro, ter acesso à educação, saúde e lazer dentro do próprio bairro é um grande benefício para os moradores.
Quido Sassi, que foi o primeiro a comprar e construir no Jardim Maluche, conta que comprou um terreno no bairro logo no início. “Depois que casei, fui morar lá”, relembra ele, que também foi pioneiro em abrir empresas no bairro: a panificadora Sassipan foi a primeira atividade comercial no Jardim Maluche, e foi a partir dela que o bairro se abriu para estabelecimentos e negócios.
Uma das moradoras do bairro que aproveitou a abertura comercial foi Enah Gevaerd, que reside no Jardim Maluche há 63 anos – desde o início do loteamento. “Quando eu cheguei, há mais de 60 anos, não existia bairro, era só mato”, relembra. “A gente viu o crescimento, as casas surgindo. O dono do lugar morava na frente da minha casa, que é onde é a loja agora [na rua Pedro Werner]. Não tinha estradas, nada.”
As memórias de Enah são cheias de alegria, dos filhos brincando no mato e “na rua que nem existia”, caçando passarinhos e deixando-os voar logo em seguida. “Eu estendia a roupa no terreno ao lado de onde é a loja. No bairro paravam ciganos, vinha circo, lá onde tinha a capela [próximo ao supermercado Archer]. Os ciganos vinham em casa, pediam água, acampavam por ali e conviviam muito com a gente. Era uma vida bem tranquila.”
Ela se lembra de ter visto o crescimento do bairro, o aumento no número de casas. “A coisa foi crescendo. Como moro aqui há 63 anos, vi tudo, a gente viu o Maluche ser feito nesses 60, 50 últimos anos.”
Planejamento visionário
Com qualidade de vida e valorização imobiliária, o Jardim Maluche é, para o casal Jussanan e Juares Graczcki, “um excelente lugar para morar”. Eles acreditam que muito se deve ao trabalho da Associação de Moradores do Jardim Maluche (Amasc), que possui 42 anos de história e atuação no município. “Se a associação acabar, está tudo perdido”, pontua Jussanan, que hoje é vice-presidente da entidade, presidida por Ana Maria Leal.
De acordo com Juares, que é ex-presidente da Amasc, “hoje seria impossível fazer um bairro igual. Há diversos loteamentos no município, nenhum deles têm ruas e ou avenidas de 23, 30 metros de largura. O planejamento do Jardim Maluche foi visionário”.
As ruas largas do bairro favorecem a mobilidade urbana e, segundo Juares, isso é algo que devia ser levado em consideração em outros loteamentos e regiões da cidade. “Por ser um bairro planejado, mesmo depois de 60 anos, tem grande potencial de mobilidade. Falta ciclovia, que é algo que poderia ser feito, pelo menos de um lado das ruas”, sugere.
“Com o loteamento, o que projetou-se foi tranquilidade, espaços públicos, áreas verdes. Depois, com o zoneamento, variação entre áreas em que é permitido comércio e outras onde não. A criação da Amasc também, que é uma associação muito atuante. Quem criou tudo isso foi muito feliz”, diz Jussanan.
Os dois são favoráveis ao zoneamento do bairro, que divide o Jardim Maluche em quatro áreas. Em algumas delas, é permitido que se instalem estabelecimentos comerciais; em outras, depende da consulta e aprovação dos vizinhos cujos terrenos fazem divisa com o local; e, ainda, outras onde não é permitida nenhuma atividade comercial.
“Todos os bairros deveriam ter essa organização. Passa ano, vem ano e continua tendo quem queira derrubar o Plano Diretor do Maluche, pois querem que seja um bairro aberto como os outros”, explica Juares. O bairro, segundo ele, foi criado de uma forma diferente, com o planejamento do loteamento, e o ex-presidente da Amasc acredita que isso deve ser respeitado.