Um óculos arredondado, um chapéu antigo.
Dois nomes: James e Ulisses (guarde-os).
Virei para um lado, para o outro.
Me obriguei a erguer os braços, afinal, esse dia não seria como os outros.
Hoje, dia 16 de junho, uma quinta-feira, que amanhece preguiçosa e na tentativa de escancarar um sol, o esconde, é o dia do: “Bloom”, o “Bloomsday“. Pois é, não sei se o cenário ou o clima agradaria James e Ulisses, mas é o que temos para hoje.
Ao redor do mundo os admiradores do escritor irlandês James Joyce e do seu livro mais famoso, Ulisses festejam. Mas, exatamente o que? Ou, porque?
Respondo: as linhas do romance de James (que é uma sátira ao clássico A Odisseia, do poeta grego Homero), rabiscam seus traços todos em apenas um dia, o 16 de junho de 1904, em solo Irlandês, precisamente em Dublin, onde o protagonista Leopold Bloom, passo a passo caminha sobre o trajeto realizado pelo herói Ulisses.
O personagem é acompanhado no livro por quase 18 horas ao longo deste dia. Dia este, que marca também o primeiro encontro entre James e sua esposa Nora.
Escreveu o escritor Anthony Burgess, um joyceano de carteirinha: “Joyce tinha uma ambição: escrever um romance moderno não apenas para rivalizar com as obras clássicas, mas também para contê-las. O épico clássico era expansivo; o drama clássico era contrativo. Homero abrange céu, terra, o mar e uma grande fatia de tempo; Sófocles se atém a um pequeno espaço e restringe a ação a um único dia. E assim Joyce se atém a Dublin em 16 de junho de 1904, mas também usa o delírio e a imaginação para conter grande parte da história humana e mesmo o Fim do Mundo. O épico e o drama gregos estão encerrados na estrutura de um romance burguês moderno.”
O livro Ulisses é composto por 18 capítulos, cada hora do dia era narrada de uma forma diferente, bem como, era comparativo de cada trecho da obra A Odisseia. Diz-se no mundo literário que os recursos da ficção moderna tiveram ali o seu ponto de partida: o discurso interior, a mudança contínua da narrativa da terceira para a primeira pessoa, a fragmentação da estrutura linear do romance e a consagração da sátira como gênero literário maior.
Para a publicação deste livro, James levou 7 anos o escrevendo, a penosa edição integral foi editada na França, em 1922. As editoras americanas e britânicas haviam julgado o teor do livro, como pornográfico e apenas passariam a publicar após mais de uma década de censura.
O Bloomsday começou a ser comemorado em 1924, seus amigos sensibilizados com a difícil vida do escritor e seus problemas com a visão dariam uma festa para ele. A partir da década de 50 (em 1954) a festa passou a ser realizado todos os anos em Dublin, através dos seus fãs.
Hoje, a data é comemorada em locais como Nova York, Washington, Melbourne, Sydney. No nosso país, vem sendo comemorada há mais de duas décadas. Em Florianópolis, o primeiro Bloomsday ocorreu em 2002.
Méroli Habitzreuter – escritora e ativista cultural