Brusque 164 anos: o calvário do médico Antônio Scharn
Desde o primeiro ano, o diretor Maximiliano Schnéeburg passou a reivindicar a presença de um médico diplomado para prestar assistência à saúde de seus colonos. Foi atendido quatro anos depois. No início de 1864, a Colônia Brusque recebia o seu primeiro médico diplomado. Era o Dr. Otto Linger, alemão e que também exercia a atividade de farmacêutico. Pouco tempo aqui permaneceu. Mas, o caminho estava aberto e, em janeiro do ano seguinte, o sucessor Alexandre Rufener chegava a Brusque. Por razões desconhecidas, foi demitido pelo governo provincial, no final de 1866
Em janeiro de 1867, os colonos já contavam com a assistência médica de Antônio Scharn, contratado mediante o pagamento dos “costumeiros vencimentos de 2 contos de réis anuais”. Portador do título de “médico prático, cirurgião e parteiro no reino da Prússia e licenciado das Repúblicas do Chile e da Argentina e do Império do Brasil”, não lhe faltavam qualificação acadêmica nem experiência profissional.
Apesar disso, a sua vida foi transformada num verdadeiro tormento. Tudo por conta de Alexandre Rufener, que permaneceu na Colônia por três ou quatro meses para promover uma sórdida campanha difamatória contra o novo médico, espalhando entre os colonos que Scharn não passava de um “médico de cachorros”. A tal ponto chegou o nível das calúnias e ofensas que, três meses após a chegada, Scharn solicitou a sua exoneração. Magoado com as ofensas, alegou que alguns colonos influenciados pelo “curandeiro Rufener”, já lhe chamavam de “médico de perros”.
De forma desesperada, escreveu à autoridade provincial: “suplico a Vossa Excelência que me deixe partir dessa Colônia, quanto mais pronto melhor, minha posição aqui é impossível”. Apesar da sua angustiada “supplica”, o governo negou o pedido de demissão, que foi repetido em junho e também negado pelo governo, que ainda lhe proibiu de deixar Brusque.
No final daquele ano, Scharn já não tinha mais condições de exercer o seu trabalho. Segundo suas próprias palavras, encontrava-se “gravemente enfermo e acometido de cólera-morbus”. Desesperado, mais uma vez reiterou o pedido de demissão por causa do seu precário estado de saúde. Explicou ainda que tinha deixado a sua “feliz situação na Argentina” para trabalhar no Brasil, onde já residia o seu filho. Agora, “velho, doente e cansado queria viver na casa do filho e, enfim, morrer em seus braços”, escreve ele no requerimento marcado pelo desespero.
Somente no começo de janeiro de 1868, quando Schnéeburg, havia deixado a direção da Colônia, é que o governo provincial, enfim, concedeu dois meses de licença ao atormentado médico. Mas, sem vencimentos. Então, livre do seu dever funcional exercido com tanto sofrimento, partiu de Brusque para não mais voltar.
Não se sabe se conseguiu realizar o desejo de “morrer nos seus braços do seu filho”.