Brusque e Guabiruba têm realidades diferentes quando o assunto é o ensino do alemão

Enquanto Guabiruba tem o idioma na grade curricular da rede municipal, Brusque conta apenas com escolas de idiomas

Brusque e Guabiruba têm realidades diferentes quando o assunto é o ensino do alemão

Enquanto Guabiruba tem o idioma na grade curricular da rede municipal, Brusque conta apenas com escolas de idiomas

Uma pesquisa realizada pela empresa Catho, no ano passado, em sua base de anúncios de empregos abertos, elencou os idiomas mais exigidos pelo mercado de trabalho do Brasil. De acordo com o levantamento, depois do inglês e espanhol, o francês, o japonês e o alemão são os idiomas mais exigidos.

Apesar de figurar nesta lista e a região ser colonizada, sobretudo, por imigrantes alemães, o ensino da língua ainda é pouco comum. Na rede municipal de ensino de Brusque, por exemplo, os alunos do 6º ao 9º ano aprendem apenas o inglês, que faz parte da grade curricular. A Fundação Cultural do município também não oferece cursos do idioma para a população.

O secretário de Educação de Brusque, José Zancanaro, reconhece a importância do idioma, entretanto, diz que a recomendação do Ministério da Educação é o ensino do inglês e, futuramente, deve ser incorporado à grade o espanhol.

“O Ministério da Educação recomenda o inglês e, além disso, uma língua predominante no Mercosul, que no caso, seria o espanhol. O alemão é importante, sim, mas é um idioma peculiar da nossa região”, diz.

Para o secretário, incluir o ensino do alemão na grade da rede municipal se tornaria inviável, já que, além da escassez de profissionais formados na área, atenderia apenas os interesses de uma parcela dos colonizadores de Brusque.

“Se colocarmos o alemão na grade curricular, os italianos e os poloneses também vão querer. Não temos como atender só um lado dos imigrantes, é uma questão delicada. Como o inglês hoje é universal, optamos por ensinar este idioma”.

No Colégio Cônsul Carlos Renaux, o ensino da língua alemã é disponibilizado como conteúdo extracurricular aos alunos do 2º ao 5º ano. Ele também consta na grade curricular dos alunos de 6º ao 9º ano e de todo o Ensino Médio, assim como os idiomas de Inglês e Espanhol, devendo o aluno, optar pelo aprendizado de um destes três idiomas.

Além disso, o Cônsul oferece, há 15 anos, para toda a comunidade, através do Cônsul idiomas, aulas de Alemão, Inglês e Espanhol, sendo que a procura pelo curso de alemão é bastante grande e, hoje o curso conta com 78 alunos.


Em Guabiruba, quatro escolas têm o alemão na grade curricular

Se em Brusque o ensino do alemão não é disponibilizado nas escolas da rede municipal, em Guabiruba a situação é bem diferente. Desde 2013, quatro escolas municipais, que estão localizadas em bairros dominados por descendentes de alemães, têm o ensino do idioma incorporado na grade curricular.

As Escolas Padre Germano Brandt, no Aymoré; Edeltrudes Wippel Heil; na localidade da Sibéria, no Aymoré; Paulo Schmidt, na Pomerânia e Professor Arthur Wippel, no Centro, disponibilizam aulas de alemão para os alunos do 1º ao 5º ano.

De acordo com a secretária de Educação de Guabiruba, Edna Maria da Silva Jasper, cerca de 250 alunos aprendem o idioma dos colonizadores no município. “Nessas localidades, muitas famílias ainda falam o alemão, e nós damos total apoio para isso. Temos uma professora formada que dá as aulas no horário escolar, já que o alemão faz parte da grade curricular dessas escolas”, diz.

A diretora da Escola Padre Germano Brandt, Fernanda Krempel Pöpper, destaca que a comunidade escolar abraçou o ensino das aulas de alemão, já que isso tem aproximado as crianças da história de suas famílias.

“Esta é a nossa cultura. Muitas famílias aqui no bairro ainda utilizam o alemão, e com as novas gerações aprendendo na escola, o contato fica muito maior, e acaba contribuindo para preservar esta cultura”.

Na escola, as aulas de inglês foram substituídas pelo alemão. Por isso, os alunos têm duas aulas de 45 minutos por semana. “É uma disciplina normal, com nota no boletim, e os alunos podem ficar em exame. Temos a mesma cobrança das outras disciplinas, a diferença é que as aulas são mais dinâmicas”.

Para a diretora, além de promover o conhecimento, as aulas também estimulam a valorização das pessoas que falam o idioma, principalmente os mais velhos. “As famílias estão muito satisfeitas porque hoje, os netos já conversam com os avós em alemão, acaba até aprofundando os laços das famílias. Estamos bem felizes com o resultado”.

Além das aulas na rede municipal, Guabiruba também tem o curso de alemão oferecido gratuitamente pela Fundação Cultural.

De acordo com a superintendente de cultura da fundação, Jucilene Regina Schmitt, estão matriculados no curso cerca de 80 pessoas, entre adultos e crianças. “Temos aquelas turmas mais avançadas, que já fazem o curso há três, quatro anos, e também os iniciantes. Hoje, são duas turmas de infantil e quatro de adultos”, destaca.

As aulas acontecem toda quarta e quinta-feira, das 18h30 às 22 horas, nas dependências da Escola Arthur Wippel, no Centro. De acordo com ela, a procura pelas aulas é sempre muito grande.

“As pessoas gostam muito e percebemos que há uma preocupação grande em cultivar esta tradição do alemão aqui na cidade. Temos sempre muitos pedidos para abrir novas turmas em outros horários. Este é um curso que nas primeiras semanas, já conseguimos fechar as vagas”.


Cursos de idiomas são opção em Brusque

Pelo menos três escolas de idioma disponibilizam o curso de alemão em Brusque. Entretanto, a procura é bem mais baixa do que pelos cursos de inglês e espanhol, por exemplo.

Na Wizard, o curso de alemão é oferecido desde 1994 no município, e a escola conta com uma média de 10 novos alunos por ano.

“A procura é bem mais baixa. O alemão é um idioma muito específico, por isso, geralmente as pessoas procuram o curso por trabalharem em determinadas empresas, que tem o idioma como pré-requisito”, destaca o diretor da escola, José Aparecido Lehn.

Na For You Idiomas, são cerca de 25 alunos distribuídos em turmas pequenas, cinco pessoas por turma, no máximo. De acordo com a professora Keity Link Seifert, a maioria dos alunos são adultos e outra pequena parte, adolescentes. “Muitos fazem o alemão com a pretensão de estudar ou trabalhar lá fora. Poucos fazem só com a pretensão de viajar”, diz.

Para ela, só a descendência alemã não é suficiente para fazer com que as pessoas busquem aprender o idioma. O que influencia são os frutos gerados pela descendência, como por exemplo, as várias empresas que têm parcerias com empresas alemãs, o intercâmbio de jovens que acontece anualmente entre Brusque e Karlsruhe, e outros projetos ligados a essas parcerias.

“O conhecimento dessas oportunidades faz com que as pessoas procurem um curso de alemão”, diz Keity

Na Magnus Idiomas, o curso de alemão é oferecido desde o início das atividades da escola, em janeiro de 2016. Para a diretora e professora da escola, Schayanne Milares, o aprendizado do idioma representa um grande diferencial no currículo, já que é o idioma mais falado na Europa – cerca de 100 milhões de europeus falam como língua materna ou língua de intercomunicação.

“Falar alemão também é estar preparado para as oportunidades. A cada semestre, são centenas de bolsas oferecidas a estudantes brasileiros para frequentar aulas em universidades de língua alemã, algumas das quais estão entre as mais antigas e conceituadas do mundo. E a tendência é melhorar”, destaca.

Shayanne ressalta também que além de ser o idioma mais falado na Europa, só no Brasil estão instaladas 1,2 mil empresas alemãs, nas quais o conhecimento da língua é sempre valorizado.

Na Magnus Idiomas, o perfil dos estudantes de alemão é bastante diversificado. Tem desde os que procuram o idioma por questões profissionais, até os que tem orgulho da descendência. “Temos até crianças de três anos estudando alemão”, comenta.

O empresário e membro da Associação Cultural Catarinense de Intercâmbio e Cultura (ACIC), Pedro Schmitt, destaca que o aprendizado de um novo idioma é importante e pode abrir muitas portas. Por ser uma língua um pouco mais difícil, é preciso dedicação para conseguir a fluência no idioma.

Schmitt ressalta que o conhecimento da língua alemã, aliado a uma boa instrução, pode abrir muitas portas no país europeu. “Lá, até a função mais simples eles exigem um bom nível de conhecimento, mas o bom profissional, que tem o domínio do idioma e vai lá para fazer um mestrado, doutorado, dificilmente volta para o Brasil, fica por lá e aproveita as oportunidades”.


Alemão em canto

Toda segunda-feira à noite, cerca de 20 pessoas se reúnem na casa da dona Olídia Gartner de Souza, 78 anos, no bairro São Pedro, em Guabiruba, para praticarem alemão. O grupo, que começou pequeno, com apenas cinco integrantes, lá em 2011, cresceu e tem como objetivo manter vivas as lembranças e a cultura dos imigrantes alemães.

Por meio da música, os participantes do grupo Alemão em Canto entram em contato com a história de seus antepassados, e ainda aprendem um novo idioma.

A professora Roseane Huber de Souza, 47 anos, é nora de dona Olídia e, junto a ela e ao cunhado, Emiliano de Souza, está à frente do grupo. “Minha sogra sempre queria unir pessoas que pudessem conversar em alemão, trocar receitas, ditados, e aí em 2010 surgiu a ideia de montarmos o grupo, que levou alguns meses para começar”.

O objetivo do grupo é manter viva a tradição dos imigrantes. “Somos de família alemã. Até os meus sete anos eu só falava em alemão, depois entrei na escola e não falei mais. E isso aconteceu com muita gente. O grupo existe para resgatar o idioma”, conta.

Cada integrante do grupo aprende e repassa seus conhecimentos para os demais. Muitos começaram a participar sem saber nada do idioma e hoje já conseguem falar e entender algumas palavras.

“Aprendemos uns com os outros e isso que é o mais legal. Percebemos que essa cultura está morrendo, são poucos os jovens que se interessam, por isso, com o nosso grupo tentamos manter isso vivo”.

O grupo já se apresentou em diversas ocasiões, inclusive, em Karlsdorf, cidade co-irmã de Guabiruba. O grupo se apresenta com cantos mais folclóricos, cantados pelas antepassados, além de músicas que são cantadas nas Oktoberfest da Alemanha.

“Procuramos músicas que possam atingir várias gerações, procuramos as letras, traduzimos e assim aprendemos e ajudamos a perpetuar a cultura da língua alemã no município”.

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