Brusque, Guabiruba e Botuverá têm menor percentual de arborização urbana do Brasil
Dados do Censo 2022 colocam região de Brusque no topo de ranking negativo
Dados do Censo 2022 colocam região de Brusque no topo de ranking negativo
Por Otávio Timm e Thiago Facchini
A concentração urbana formada por Brusque, Guabiruba e Botuverá têm o pior percentual de arborização de todo o Brasil. Os dados são do Censo 2022 e foram divulgados na semana passada. As três cidades, que possuem forte integração populacional, apresentam 22,36% de arborização e lideram o ranking negativo, com o menor percentual nacional.
Não são todos os municípios do país que integram concentrações urbanas. A metodologia utilizada pelo Censo para definição deste recorte geográfico leva em consideração regiões em que há conexão por questões de trabalho, estudo e também de proximidade. Além disso, para ser considerado concentração, as cidades precisam possuir, juntas, mais de 100 mil habitantes.
Na prática, um baixo percentual de arborização significa que há poucas árvores no entorno dos domicílios dos municípios. Brusque, Guabiruba e Botuverá possuem grandes áreas arborizadas, mas os dados levam em consideração especificamente a quantidade de árvores por rua, ou seja, em trechos urbanos.
No Brasil, o ranking de concentrações urbanas com menos árvores é liderado por Brusque, seguido por Barbacena (MG), com 22,8% de arborização, e Tubarão/Laguna, no Sul de Santa Catarina, com 24,97%.
Somente em Santa Catarina, o Censo leva em conta 11 concentrações. Brusque e Tubarão/Laguna têm, consequentemente, os piores índices do estado. A concentração de São Bento do Sul/Rio Negrinho vem em terceiro, com 31,19%. A concentração urbana de Chapecó possui o melhor percentual do estado, com 70,25% de arborização.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, no mínimo, 12 m² de área verde por habitante — idealmente 36 m², o que equivale a três árvores por morador.
Os prefeitos de Brusque, Guabiruba e Botuverá foram procurados pela reportagem de O Município para comentar o destaque nacional negativo. Separadas, as cidades da concentração urbana possuem, respectivamente, 23,04%, 19,22% e 7,25% de arborização.
André Vechi (PL), prefeito de Brusque, entende que a forma de crescimento do município ao longo dos anos influencia no percentual baixo de árvores por rua da cidade.
“Isso ocorreu em decorrência de um modelo de desenvolvimento que Brusque seguiu ao longo das últimas décadas. O que sai no ranking hoje é o resultado desse desenvolvimento, com abertura de vias e outros fatores. Temos preocupação em reverter esse quadro”.
O prefeito reforça que se trata de números que levam em consideração a quantidade de árvores em áreas urbanas, e frisa que Brusque possui outras áreas verdes. Ele afirma que o governo pretende dar início ao Plano Municipal de Arborização neste ano.
“Em relação às vias, temos em nosso plano de governo o Plano Municipal de Arborização, que visa trazer mais verde para as áreas públicas. Nossa meta é iniciar a implementação o quanto antes para reverter este quadro nos próximos anos”, planeja.
O prefeito de Guabiruba, Valmir Zirke (PP), relata que não tinha conhecimento dos dados negativos da região. Ele afirma que o governo municipal busca realizar plantios em calçadas que passam por revitalização.
“Estamos começando a plantar árvores para embelezar, mas há um problema: temos calçadas estreitas. Só podem ser plantadas árvores em calçadas com 2 metros. Essa é a dificuldade que os municípios têm. No centro de Guabiruba, hoje é o local do município em que mais há árvores”, comenta.
Por fim, o prefeito de Botuverá, Victor Wietcowsky (PP), segue o mesmo argumento de Zirke e considera que há dificuldade para arborizar áreas urbanas em razão da falta de planejamento das calçadas. O chefe do Executivo botuveraense diz que não teve acesso aos números do Censo.
“Nossas ruas não são planejadas, como Curitiba, por exemplo, em que há vias planejadas para receber as árvores. Nós não temos esta ‘sorte’ de o relevo ser assim”, avalia o prefeito.
Victor detalha que o Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí (Cimvi) colocou à disposição o serviço de arborização pública aos municípios que desejam aderir. Porém, o governo estuda revisar todo o Plano Diretor para, depois, iniciar com o planejamento de arborização.
Segundo André Bozio, diretor da Secretaria de Planejamento Urbano (Seplan) de Brusque, embora o município não tenha o Plano Municipal de Arborização pronto, já existem diretrizes que deverão ser seguidas quando o plano for elaborado.
Entre os pontos que devem constar no plano estão:
“Hoje a prefeitura apenas faz a gestão das áreas verdes que vêm dos loteamentos. Essas áreas estão registradas no sistema de informação geográfica da cidade (SIG), que funciona como um cadastro geoespacial”.
O diretor explica que o plano envolve várias secretarias e ainda não está entre os cinco planos que estão sendo elaborados atualmente pela CTEP (Comissão Técnica de Acompanhamento e Implementação do Plano Diretor), embora isso já esteja previsto no próprio Plano Diretor.
Por fim, diz acreditar que o plano deve começar a ser elaborado em 2026, embora a prefeitura queira antecipar o processo, que é complexo e envolve várias etapas.
“Antes de tudo, é necessário diagnosticar a arborização atual: onde estão as árvores, quais espécies existem, seu estado de saúde, se causam problemas e onde há carência de verde”, complementa Bozio.
O engenheiro florestal e proprietário da Jedae Engenharia e Consultoria, Dener Lyra, destaca que, em cidades com relevo acidentado e chuvas intensas, como Brusque, a arborização é essencial para prevenir desastres naturais.
“Áreas arborizadas ajudam a reduzir o escoamento da água da chuva, permitindo maior infiltração no solo e auxiliando no controle de enchentes e alagamentos”.
Segundo ele, árvores em encostas protegem contra a erosão e reduzem riscos de deslizamentos. Também servem como barreiras contra ventos fortes, amenizando danos em eventos extremos.
“Uma arborização mal planejada pode causar prejuízos à infraestrutura, à segurança e à saúde. Por isso, é fundamental escolher espécies compatíveis com o clima, solo e espaço urbano, evitando conflitos e reduzindo a necessidade de manutenção”.
Com os efeitos das mudanças climáticas — como inundações, enchentes, secas e ondas de calor — cada vez mais frequentes no país, a gestão da arborização urbana também se torna estratégica para os municípios. A falta de árvores transforma as ruas em corredores de calor, elevando a sensação térmica.
“As copas das árvores proporcionam sombra, regulam a temperatura e a umidade do ar, ajudando a enfrentar ondas de calor. Áreas verdes também beneficiam a saúde pública, reduzindo o estresse, acelerando a recuperação de pacientes e prevenindo doenças respiratórias”, complementa Daniel.
Para Damáris Gonçalves Padilha, engenheira florestal e diretora de sustentabilidade da empresa brusquense Neutraliza, as árvores também fortalecem a educação ambiental e o sentimento de pertencimento da população.
“É impossível falar em cidade sustentável sem um plano de arborização sério e bem estruturado. Gestores devem abraçar essa pauta com responsabilidade, garantindo bem-estar e resiliência climática às futuras gerações”.
Como o atentado de 11 de setembro quase afetou abertura do Alivia Cuca, famoso bar de Brusque: