Brusquense luta contra o Estado Islâmico, no Oriente Médio
Jefferson Silveira deixou Brusque aos 18 anos de idade para iniciar jornada no exterior
Jefferson Silveira deixou Brusque aos 18 anos de idade para iniciar jornada no exterior
Há 25 anos, o brusquense Jefferson Silveira deu adeus ao município e iniciou uma maratona de viagens pelo exterior. Aos 43 anos de idade, já percorreu países como Inglaterra, França, Turquia, Iraque e Síria. Nesse último, como tem experiência militar, resolveu auxiliar os curdos no combate ao Estado Islâmico (EI).
No país do Oriente Médio, Jefferson permaneceu de fevereiro até o fim de julho de 2015. Segundo ele, as maldades cometidas contra as pessoas, sobretudo contra as crianças, foram os principais fatores que o motivaram a lutar.
“Depois de muito tempo lendo e assistindo sobre a destruição de Kobane [cidade síria localizada na fronteira com a Turquia] e sobre o sofrimento da guerra civil na Síria, comecei a me comunicar com as pessoas de lá pelo Facebook. Eu ficava muito chocado com as maldades cometidas contra as crianças, como mutilações e venda para serem escravas sexuais, e também com crimes horríveis cometidos com as pessoas comuns”, diz.
Em três dos cinco meses, Jefferson ficou na linha de frente combatendo o EI. Ele conta que presenciou muitas mortes, principalmente de inimigos.
“Algumas vezes passávamos com os carros por cima dos corpos porque estávamos na linha de frente e não podíamos diminuir a velocidade”, diz. “Quando estou em combate não sinto muita coisa porque o foco é sempre no objetivo da missão”, completa.
Jefferson conta ainda que não há como descrever a experiência e que, apesar da situação de guerra civil, foi bem recebido no país. O brusquense ressalta que, nesse período, aprendeu mais do que em qualquer outra época de sua vida.
“Na Síria, a alimentação de todos, inclusive das pessoas que estão lutando na guerra, é precária. Eu fiquei o primeiro mês comendo basicamente tomate e tomando água podre, pois não tinha água potável. Depois que conquistamos algumas rodovias dos inimigos, daí melhorou um pouquinho porque o transporte chegava mais facilmente até a linha de frente da guerra. Eu devo ter comido carne umas cinco vezes”, conta.
Para o brusquense, o mundo está “cometendo um grande crime em ignorar a situação da Síria e do Iraque”. Ele afirma que o povo do Oriente Médio é de generosidade “impressionante”.
“É um povo maravilhoso que está numa situação política horrível, com muita gente interessada nos recursos naturais deles, no petróleo.
Apesar de tudo que está acontecendo, nas áreas liberadas, a liberdade floresce. Os curdos estão criando um novo governo, algo nunca visto antes no mundo. É um governo social democrático onde o povo toma as decisões, sem políticos ou governantes. Esse sistema foi criado pelo líder curdo Abdullah Ocalan, que está preso na Turquia”.
Na despedida ao Oriente Médio, Jefferson conta que saiu “com o coração na mão” por deixar o povo em plena guerra civil.
Van
Residindo atualmente em São José, na Califórnia (EUA), e trabalhando na construção civil, Jefferson está desenvolvendo um projeto de moradia em uma van. Direcionado aos imigrantes que chegam com pouco dinheiro, o projeto visa economizar de 20 a 30 mil dólares por ano.
“Como fui imigrante a maior parte da minha vida e sempre assisti de perto a chegada dos imigrantes e seus problemas financeiros, resolvi criar o projeto. Depois de ler e estudar sobre os grupos nômades da Sibéria, eu fiz uma adaptação daquele estilo de vida nos países desenvolvidos do oeste”, explica.
Segundo o brusquense, o que mais prejudica a chegada de um imigrante em uma país desenvolvido é o valor do aluguel das moradias, que, afirma ele, torna praticamente impossível a economia de dinheiro.
“Com esse meu método de morar numa van, um imigrante consegue economizar entre 20 a 30 mil dólares por ano. E como a compra de veículos usados é super fácil aqui nos Estados Unidos, isso facilitou essa minha fórmula”, diz.
Dieta
Além do projeto da van, o brusquense também está desenvolvendo um projeto sobre dietas com base na alimentação dos curdos, que é formada basicamente por vegetais e cereais – com raro consumo de carne.
“Observei que o nível de energia e resistência deles era super alto, algo que não se vê nos países do oeste. Eles dormem muito pouco e acordam às 4h da manhã. E conseguem andar por dias sem parar. Nós, do oeste, necessitamos de mais horas de sono e nosso nível de energia é mais baixo. Sem falar da barriga. A maioria dos curdos não tem barriga, algo que é muito comum até nos jovens dos países do oeste”, explica.
Atualmente, Jefferson realiza duas refeições por dia, com um lanche pequeno entre ambas. Nenhum dos alimentos, segundo ele, são preparados no fogo – a maioria é consumido cru, como vegetais, frutas e legumes.
Países que Jefferson conheceu