X
X

Buscar

Capela do Ourinhos, em Botuverá, conta com antiga imagem de Nossa Senhora trazida de Aparecida (SP)

Santa passou por restauração recentemente; para moradores, a igreja é o principal local de encontro da comunidade

A capela do Ourinhos foi construída em 1968, quando Guilherme Afonso Kürpick era vigário da paróquia de Botuverá. De acordo com o morador Élio Barni, de 65 anos, que reside atrás da igreja, a primeira missa na localidade foi feita na escola um ano antes, no dia 12 de outubro de 1967, pelo padre Francisco Robl.

“Aí foi pensado fazer uma igreja aqui no Ourinhos, porque íamos até a capela de Ribeirão do Ouro. Alguém falou em colocar a Nossa Senhora Aparecida como padroeira e o Agustinho Werner iria doar uma santa para nós, de Aparecida, em São Paulo”, diz ele que tinha 13 anos na época.

Luiz Antonello/O Município

A imagem da santa foi doada e já estava presente na missa. Élio detalha que Augustinho fazia uma excursão para a cidade paulista com o caminhão.

Segundo Élio, o pai dele, Laurindo Antônio Barni, conhecido como Lau, e Francisco Barni doaram a terra onde está a igreja. “Deram uns troquinhos para não dizerem que foi dado de graça”, explica.

Luiz Antonello/O Município

CONTINUA APÓS ANÚNCIO

Antigamente, o local onde foi construída a capela ficava uma roça de cana de açúcar. Élio recorda que no dia 13 de fevereiro de 1968 foi feito o esquadro das terras. “Foi virada a terra de cavalo e burro, com arado, para depois tirar as cepas de cana”, continua.

Um pedreiro de Nova Trento chamado Raimundo Marchi foi até o local para trabalhar na construção. “Era um senhor já meio de idade, então o meu primo Érico Barni o ajudava a assentar tijolos. Tinha muita gente morando aqui e a comunidade era escalada, um dia eram 4 ou 5 pessoas para fazer o trabalho, tudo à mão. Toda semana mudava a equipe. Todo mundo deu mão de obra, só pagavam o pedreiro”, detalha.

Em 28 de abril foi instalada a pedra fundamental, quando já havia 1,5 metro de construção feita. O cal usado veio de Osvaldo Barni, que tinha forno de cal. Também, Élio lembra que não havia energia elétrica.

Luiz Antonello/O Município

Élio salienta que durou cerca de um ano para as obras serem concluídas. “Eu ajudava meu pai, que vinha ajudar também, ele jogava tijolo pra cima com uma pá, nós pegávamos em cima do andaime e colocávamos perto do pedreiro”, diz.

Conforme ele, o sino foi doado por Mário Olinger, após a construção, e o forro foi doado por Ernesto Braz Barni. Já o tijolo foi comprado na Cerâmica Reis, de Brusque, com Arno Reis. “Quando a estrutura foi coberta, já se começou a fazer as celebrações, com andaime aqui ainda, não tinha nem forro”, conta.

Tendo como padroeira a Nossa Senhora Aparecida, a festa da capela é realizada em outubro. Recentemente, a santa foi restaurada e deve ser realocada em um espaço de destaque da estrutura.

Movimento na comunidade

Luiz Antonello/O Município

A moradora Luciana Aparecida Witkoski Barni, 47, relembra que sempre acompanhou a capela e que o pai dela, Nicolau Witkoski, também ajudou na construção. “Toda a comunidade ajudou”, ressalta.

“Quando eu me casei, aos 16 anos, os meus sogros também ajudavam em tudo, a minha sogra ajudava na cozinha. Eu já estava na liturgia, dei catequese por dez anos, me afastei por conta dos filhos. Eles cresceram e eu voltei com tudo”, conta.

Hoje, Luciana é faxineira e capelã no templo, que conta com as ministras Catarina Venzon, Constância Werner e Lucimar Barni. A capela tem missas duas vezes por mês, além da Celebração da Palavra, às 8h30 no domingo, com as ministras. A igreja também faz homenagens em datas especiais.

Luiz Antonello/O Município

Apesar da festa ser em 12 de outubro, as novenas começam em setembro. “Não conseguimos fazer em nove dias seguidos, não tem muita gente. A comunidade é meio escassa de pessoas. Então, a gente adaptou e começamos nove finais de semanas antes, no sábado e domingo”, explica.

Segundo ela, comunidades de fora também ajudam a fazer, até chegar em 11 de outubro, quando ocorre a última novena. “Ela sai lá do Dom Joaquim, em procissão, por volta das 8h, e vem muita gente atrás. Já faz uns 20 anos que fazemos a procissão”, enfatiza.

Local de reencontro

Luiz Antonello/O Município

Para Luciana, além da antiga imagem de Nossa Senhora Aparecida, outra forte característica do tempo é o encontro da comunidade. “O papo na frente da igreja quando acaba a missa”, diz em uma risada.

Élio reforça que a capela aproxima a comunidade e é lugar de rever os vizinhos e amigos. “Durante a semana a gente não vê ninguém. Nos domingos a gente se encontra, quem vê a gente conversa, acaba o culto e ficamos conversando mais uma hora. Colocando a fofoca em dia”, relata.

“O meu pai falava assim, que ele não vinha só rezar, ele vinha rever os amigos. No tempo do meu pai, que faleceu há 10 anos quando tinha 90 de idade, não tinha celular, WhatsApp, telefone. Ele dizia que vinha na Celebração da Palavra, mas também vinha rever os amigos, saber das novidades da semana, quem ficou doente, quem melhorou, o que aconteceu. Temos essa característica até hoje, ficar na frente da igreja conversando. Não é fofoca, é conversando mesmo”, defende Luciana, sorridente.

“Muito amor”

Luiz Antonello/O Município

Mesmo com os momentos de união, Élio reflete que o número de pessoas que participam da capela diminuiu com o tempo. “Tudo era feito aqui, tinha tempo que eram muitas pessoas. Tínhamos culto todos os domingos, rezávamos direto. Vinha de manhã na igreja, tinha de tarde, hoje poucos se interessam”, avalia.

Entretanto, ele destaca que a capela tem valor inestimável aos moradores. “A igreja para nós é a maior relíquia que existe. Eu e meus irmãos íamos até Ribeirão do Ouro de pé, 6 quilômetros, para fazer a comunhão. Hoje as crianças tem a igreja dentro de casa”, continua.

O apreço pela capela é a justificativa de Luciana pela dedicação ao espaço. “Você não tem ideia o tanto de amor que temos por esse pedacinho. As pessoas vêm de fora nos finais de semana visitar os parentes, ninguém perde a celebração aqui. Os mais jovens foram embora por conta do emprego, mas eles voltam para visitar os pais e participam”, finaliza.

Luiz Antonello/O Município

Confira mais fotos do templo:

Você está aqui: Capela do Ourinhos, em Botuverá, conta com antiga imagem Nossa Senhora trazida de Aparecida (SP)


Confira também:

▶ Fé em Botuverá: saiba como tradição religiosa impacta a formação da cidade mais católica de Santa Catarina
Mais de 120 anos de transformações: conheça história da Igreja Matriz de Botuverá

▶ Primeira comunidade de Botuverá ter uma capela, Águas Negras preserva altar da antiga construção
▶ Capela do Ribeirão do Ouro, em Botuverá, mantém estrutura original do início do século XX
▶ Moradores do Lageado, em Botuverá, recordam de construção da capela, feita em volta de antiga igreja de madeira
▶ Devota caminha por quilômetros na madrugada para doar primeira imagem do padroeiro da capela no Barra da Areia, em Botuverá
▶ Mudanças e união da comunidade: capela do Vargem Grande, em Botuverá, marca história de moradores
▶ Padroeiro da capela do Areia Alta, em Botuverá, é escolhido por causa de professora de Santo Amaro da Imperatriz
▶ Capela do Pedras Grandes, em Botuverá, é conhecida pela alta participação da comunidade
▶ Capela do Sessenta carrega história misteriosa sobre imagem de Santa Luzia encontrada no Morro do Barão, em Botuverá
▶ Crença sem tamanho: capelinhas em Botuverá demonstram força da fé em Deus nas comunidades
▶ Filhos da Terra: conheça os nascidos em Botuverá que se tornaram padres e freiras


Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município. Clique na opção preferida:

WhatsApp | Telegram


• Aproveite e inscreva-se no canal do YouTube