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Capela do Ribeirão do Ouro, em Botuverá, mantém estrutura original do início do século XX

Construída em 1917, a igreja apenas passou por reformas ao longo dos anos

A moradora do bairro Ribeirão do Ouro, em Botuverá, Alice Mariani, de 91 anos de idade, lembra que quando era criança, na década de 1930, os padres iam a cavalo até a localidade.

Na época, tanto as capelas do município, como as de Vidal Ramos e Presidente Nereu, faziam parte da paróquia de Botuverá. “Os coroinhas acompanhavam o padre, que ficava um mês indo nas comunidades. O padre Jorge Brand, já falecido, parava para comer na casa do meu pai, Constante Wietcowsky, quando vinha”, recorda.

De acordo com registros paroquiais, a primeira provisão para a construção do templo no local está registrada em 6 de setembro de 1917, 14 anos antes da Alice nascer. Naquele ano, João Stolte era vigário, ou seja, o pároco de Botuverá.

Luiz Antonello/O Município

Desde então, a capela mantém a estrutura original do início do século XX e apenas passou por reformas ao longo dos anos. O padroeiro é São João Batista, com festa realizada em 24 de junho.

Alice relata que o pai e o irmão mais velho Francinha trabalharam na construção da igreja. Ela conta que até a altura das janelas, a igreja é feita de pedra. “Tinha uma olaria aqui, mas tinham que levar os tijolos de carroça. Se o rio estava cheio, tinha que passar de canoa”, recorda.

“O meu irmão disse que, quando o pedreiro colocou a cruz em cima da torre, ele pediu um copo de vinho. Colocaram um copo no balde, puxaram pela corda no molinete para cima, ele pegou e bebeu”, continua.

Luiz Antonello/O Município

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A moradora lembra que o assoalho da capela era feito com lascas de pedra lousa. “Muita gente vinha de longe, descalça, quando entrava passava mal. Vinham com o pé quente, pois vinham lá da Vargem Grande, aí colocavam o pé na pedra fria. Alí, já mudaram, colocaram madeira, e agora é tudo piso”, continua.

Além disso, ela relembra de uma vez que o irmão relatou que o pedreiro responsável pela obra, ao completar 90 anos, pediu ao filho para visitar a estrutura e visitou a comunidade. Contudo, ela não recorda o nome do profissional, que era morador de Nova Trento. Pedro Bonomini acredita que seja um dos pedreiros que estiveram na construção da Igreja Matriz, João Cadorim ou Atílio Muraro.

Luiz Antonello/O Município

Já o altar da igreja foi construído em 1941. Ao longo do tempo, a estrutura passou por pequenas mudanças em reformas, como no telhado. Outra mudança é a escadaria de acesso na frente da estrutura, que hoje fica ao lado, próximo a gruta. A antiga escada na frente do templo, original, foi desativada após a estrada passar por obras de alargamento.

Memórias de antigamente

Luiz Antonello/O Município

O morador do bairro e um dos coroinhas da época, Osvaldo Bambinetti, 94, recorda que um momento marcante para a comunidade foi a retirada de um dos sinos da igreja para manutenção na Alemanha.

“Deu briga quando tiraram. Tinha gente que não aceitava, pois diziam que podiam fazer a manutenção no Brasil. O sino não voltou mais”, conta. Outro momento, segundo ele, foi a visita dos Missionários na década de 1950.

Luiz Antonello/O Município

Osvaldo foi coroinha até os 18 anos. Ele relembra que gostava de domar cavalos e, na última vez que foi coroinha, recebeu a missão de domar e montar o cavalo “para esquentar”.

“Eu vim muito ligeiro, era um chão liso e a casa era alta. Caímos eu e o cavalo, aí sujei a roupa branca de coroinha e não tinha vestimenta no local. Na hora da missa o padre disse ‘não pode de manga curta’, aí pedi um paletó emprestado na hora da missa, mas fiquei envergonhado e não fui mais ali, não fui mais coroinha”, relata.

Pedro complementa que, na época, o padre Carlos Enderlin era muito rígido, inclusive com as vestimentas. “Se a criança chorava, ele mandava sair da igreja”, completa Osvaldo.

Anos de dedicação

Luiz Antonello/O Município

A moradora Elsa Maria Lâmina, 76, foi capelã por cerca de 50 anos no local. Tendo parte da vida dedicada à igreja, ela comenta que teve a vida marcada pelas décadas de devoção e dedicação.

Conhecida pela organização e dedicação ao espaço, a moradora atuou no local até o segundo domingo de julho de 2019. “Eu dediquei a minha vida na igreja. Fazer o serviço era o maior prazer, eu adorava cuidar dessa igreja, gostava muito”, comenta.

Uma curiosidade: no cemitério ao lado da capela, há a lápide de José Tabarelli, falecido em 17 de janeiro de 1939; a lápide verte água e intriga moradores | Foto: Luiz Antonello/O Município

Elsa recorda que, antigamente, o padre chegava na localidade nas sextas-feiras à tarde, quando doutrinava e fazia a confissão das crianças.

No sábado de manhã, a missa era às 7h, quando as crianças iam comungar. Às 15h tinha a bênção do Santíssimo e o padre confessava os adultos. No domingo, tinha missa às 7h e outra às 9h, após isso ele retornava para Botuverá.

Luiz Antonello/O Município

Já a atual capelã, Rosana de Souza, 44, informa que, hoje, são quatro missas no mês. Aos sábados, elas ocorrem normalmente às 16h ou 18h. No domingo, é às 9h30. “Os cultos aos domingos ainda estão de pé por causa do seu Roque Dognini, que é ministro. Ele está presente sempre”, ressalta.

Rosana mora há 22 anos no bairro e atua há três na capela. “Eu amo ficar aqui e adoro cuidar da igreja. Venho limpar e me sinto bem aqui dentro, é uma paz. Sou de Vidal Ramos, mas eu me sinto como se tivesse nascido aqui”, finaliza.

Luiz Antonello/O Município

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