Na época, tanto as capelas do município, como as de Vidal Ramos e Presidente Nereu, faziam parte da paróquia de Botuverá. “Os coroinhas acompanhavam o padre, que ficava um mês indo nas comunidades. O padre Jorge Brand, já falecido, parava para comer na casa do meu pai, Constante Wietcowsky, quando vinha”, recorda.
De acordo com registros paroquiais, a primeira provisão para a construção do templo no local está registrada em 6 de setembro de 1917, 14 anos antes da Alice nascer. Naquele ano, João Stolte era vigário, ou seja, o pároco de Botuverá.
Desde então, a capela mantém a estrutura original do início do século XX e apenas passou por reformas ao longo dos anos. O padroeiro é São João Batista, com festa realizada em 24 de junho.
Alice relata que o pai e o irmão mais velho Francinha trabalharam na construção da igreja. Ela conta que até a altura das janelas, a igreja é feita de pedra. “Tinha uma olaria aqui, mas tinham que levar os tijolos de carroça. Se o rio estava cheio, tinha que passar de canoa”, recorda.
“O meu irmão disse que, quando o pedreiro colocou a cruz em cima da torre, ele pediu um copo de vinho. Colocaram um copo no balde, puxaram pela corda no molinete para cima, ele pegou e bebeu”, continua.
A moradora lembra que o assoalho da capela era feito com lascas de pedra lousa. “Muita gente vinha de longe, descalça, quando entrava passava mal. Vinham com o pé quente, pois vinham lá da Vargem Grande, aí colocavam o pé na pedra fria. Alí, já mudaram, colocaram madeira, e agora é tudo piso”, continua.
Além disso, ela relembra de uma vez que o irmão relatou que o pedreiro responsável pela obra, ao completar 90 anos, pediu ao filho para visitar a estrutura e visitou a comunidade. Contudo, ela não recorda o nome do profissional, que era morador de Nova Trento. Pedro Bonomini acredita que seja um dos pedreiros que estiveram na construção da Igreja Matriz, João Cadorim ou Atílio Muraro.
Já o altar da igreja foi construído em 1941. Ao longo do tempo, a estrutura passou por pequenas mudanças em reformas, como no telhado. Outra mudança é a escadaria de acesso na frente da estrutura, que hoje fica ao lado, próximo a gruta. A antiga escada na frente do templo, original, foi desativada após a estrada passar por obras de alargamento.
Memórias de antigamente
O morador do bairro e um dos coroinhas da época, Osvaldo Bambinetti, 94, recorda que um momento marcante para a comunidade foi a retirada de um dos sinos da igreja para manutenção na Alemanha.
“Deu briga quando tiraram. Tinha gente que não aceitava, pois diziam que podiam fazer a manutenção no Brasil. O sino não voltou mais”, conta. Outro momento, segundo ele, foi a visita dos Missionários na década de 1950.
Osvaldo foi coroinha até os 18 anos. Ele relembra que gostava de domar cavalos e, na última vez que foi coroinha, recebeu a missão de domar e montar o cavalo “para esquentar”.
“Eu vim muito ligeiro, era um chão liso e a casa era alta. Caímos eu e o cavalo, aí sujei a roupa branca de coroinha e não tinha vestimenta no local. Na hora da missa o padre disse ‘não pode de manga curta’, aí pedi um paletó emprestado na hora da missa, mas fiquei envergonhado e não fui mais ali, não fui mais coroinha”, relata.
Pedro complementa que, na época, o padre Carlos Enderlin era muito rígido, inclusive com as vestimentas. “Se a criança chorava, ele mandava sair da igreja”, completa Osvaldo.
Anos de dedicação
A moradora Elsa Maria Lâmina, 76, foi capelã por cerca de 50 anos no local. Tendo parte da vida dedicada à igreja, ela comenta que teve a vida marcada pelas décadas de devoção e dedicação.
Conhecida pela organização e dedicação ao espaço, a moradora atuou no local até o segundo domingo de julho de 2019. “Eu dediquei a minha vida na igreja. Fazer o serviço era o maior prazer, eu adorava cuidar dessa igreja, gostava muito”, comenta.
Elsa recorda que, antigamente, o padre chegava na localidade nas sextas-feiras à tarde, quando doutrinava e fazia a confissão das crianças.
No sábado de manhã, a missa era às 7h, quando as crianças iam comungar. Às 15h tinha a bênção do Santíssimo e o padre confessava os adultos. No domingo, tinha missa às 7h e outra às 9h, após isso ele retornava para Botuverá.
Já a atual capelã, Rosana de Souza, 44, informa que, hoje, são quatro missas no mês. Aos sábados, elas ocorrem normalmente às 16h ou 18h. No domingo, é às 9h30. “Os cultos aos domingos ainda estão de pé por causa do seu Roque Dognini, que é ministro. Ele está presente sempre”, ressalta.
Rosana mora há 22 anos no bairro e atua há três na capela. “Eu amo ficar aqui e adoro cuidar da igreja. Venho limpar e me sinto bem aqui dentro, é uma paz. Sou de Vidal Ramos, mas eu me sinto como se tivesse nascido aqui”, finaliza.