Com a tensão da cheia iminente, jornalistas trabalhavam para manter a população informada a cada subida do rio Itajaí-Mirim no início de setembro de 2011. Naquela sexta-feira, 9, o editorial do jornal O Município marcou a sensação de angústia e desespero.
O texto da editora-chefe da época, Letícia Schlindwein, informa que o fechamento daquela edição aconteceu mais cedo, devido a problemas de logística. Naquele ano, o jornal ainda era impresso no Jornal de Santa Catarina, em Blumenau. Para que a população tivesse em mãos a edição de sexta, a rodagem foi antecipada.
Na quinta, 8, todos os funcionários encerraram o expediente mais cedo, para evitar que ficassem ilhados no jornal. “Ao meio-dia, fizemos uma reunião com todos os setores, e decidimos fechar a edição com o que tínhamos. Teve umas páginas a menos, e todos foram para as suas casas. Já temíamos o pior, que realmente aconteceu”, recorda.
Letícia morava no bairro Santa Rita e, como tantos e tantos outros brusquenses, ficou ilhada em casa. Os jornalistas foram liderados pela editora de sexta a domingo em home office. Há dez anos, a tecnologia era outra e a facilidade de se trabalhar de casa não era como a de 2021.
“Conseguimos fazer uma cobertura abrangente, bastante completa, cada um da sua casa, sem deixar de entregar o jornal. Claro, demorou, alguns não chegaram no horário, mas a equipe de entrega fez um excelente trabalho para o jornal chegar ao assinante. Foi uma situação nova trabalhar de casa, que tivemos que aprender na hora.”
Dificuldades de informação
Ainda no editorial daquela sexta-feira, 9, é destacada a precarização nas buscas por informação. “Ainda dependemos das informações de Vidal Ramos, que nos passam a informação por telefone. Ontem, por causa da queda de uma árvore, nem o telefone funcionou”, diz “A Defesa Civil de Brusque está sem pluviômetro, sem internet, sem estação pluviométrica (só tem a casinha que não funciona) e a sede estava fechada na quarta-feira”, detalha o editorial.
O editorial ainda ressalta a dificuldade para tratar do assunto. “A emoção, o medo e a ansiedade tomam conta de todos os profissionais, que sofrem junto com toda a cidade. Nesse momento a sensação que temos é de que Brusque está ilhada de água e de informação. Em 2008, ainda tínhamos o site da Agência Nacional das Águas (Ana). Hoje, nem isso”, afirmava na edição daquela sexta-feira.
Ao longo de dez anos, a estrutura da Defesa Civil foi aperfeiçoada em Brusque, com estações telemétricas e atualizações frequentes. Isso resulta em apuração qualificada e rápida por parte da imprensa e até mesmo pela população.
Edição de segunda
A edição de segunda-feira, 12 de setembro de 2011, foi emblemática com fotos, reportagens e relatos da angústia vivida pelos repórteres que atuavam na época no jornal. A edição contou com relatos dos jornalistas Aline Wernke, Sarita Gianesini e Thiago Andrade. Além do editorial, escrito pela chefe de redação da época, Carina Machado.
“Casa de pai e mãe nunca deixa de ser a casa da gente. Mesmo que já tenhamos nosso próprio lar. Lá em casa na quinta-feira, 8 de setembro de 2011, entrou muita água. Lá em casa na manhã de sábado, 10, quando conseguimos abrir as portas às 6h30, as paredes eram marrons, da mesma cor do chão e da estrada. Da mesma cor da casa dos vizinhos. E a nossa dor foi igual a de todos ali”, diz o editorial.
Em um dos relatos dos repórteres, estava o da Sarita. Ela descrevia um momento da apuração, quando sentiu o lodo batendo na pele, depois de três horas andando pelos alagamentos.
“O repórter tenta ser forte, quando a vontade é sentar e chorar junto com quem perdeu tudo. Mas engole o choro e faz o que não acredito, que é registrar sem interferir. Até reportamos sem interferir, mas não sem sermos ‘interferidos’. Desde o dia 9 de setembro de 2011, a palavra tragédia ganhou outro sentido, encorpado pelo que vi em partes do meu bairro, Dom Joaquim, que eu desconhecia”, dizia na edição daquela segunda.
Rádio em foco
Antes do pico da enchente, a tarde de quinta-feira, 8 de setembro de 2011, é lembrada como um momento de tensão em Brusque. Em meio aos alagamentos que surgiam em diversos pontos da cidade e à chuva que caía incessante, a população se informava por meio das rádios da cidade.
O trabalho dos radialistas foi tema de reportagem do jornal na semana após a cheia. Em cada carro, casa, empresa ou mercado, a voz que saía das caixas de som davam o tom do que a cidade vivia.
Naqueles dias, os telefones de cada emissora ficaram à disposição da comunidade. Foi assim que as rádios desempenharam, mais uma vez, o papel fundamental de passar informações.
Entre pedidos de socorro vindos de diversas partes das cidade, o repórter Jaison Lorenceti destaca na época o apoio da população, que contribuiu com informações. “Nós enquanto meios de comunicação, temos uma base da situação, mas chega em um momento em que ultrapassa essa visão e aí entra a comunidade, que trabalha junto. Passamos a trabalhar como comunidade”, diz.
O jornalista Dirlei Silva também aponta a importância das redes sociais, com um grande diferencial da tragédia de 2008 para 2011. “Em 2008 os contatos foram a maioria por telefone”, conta, ao apontar que durante a enchente, dez anos atrás, a equipe recebia muitas informações através do Facebook e Twitter.
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