Em 9 de setembro de 2011, Brusque esteve diante de uma enchente que atingiu quase toda a população, e O Município, então chamado Município Dia a Dia precisou utilizar uma prática que tem se tornado comum com a pandemia de Covid-19: o home office, ou seja, o trabalho feito de casa. O jornal, que naquela época tinha foco reduzido no jornalismo online, e era mais voltado à edição impressa, que circula de segunda a sexta-feira.

Contracapa e capa da edição de 12 de setembro, três dias depois da enchente

No dia anterior, uma quinta-feira, todos os funcionários encerraram o expediente mais cedo, para evitar que ficassem ilhados no jornal, como conta a então editora de O Município, Letícia Schlindwein. “Ao meio-dia, fizemos uma reunião com todos os setores, e decidimos fechar a edição com o que tínhamos. Teve umas páginas a menos, e todos foram para as suas casas. Já temíamos o pior, que realmente aconteceu.”

Letícia morava no bairro Santa Rita e, como tantos e tantos outros brusquenses, ficou ilhada em casa. Os jornalistas foram liderados pela editora de sexta-feira a domingo de suas casas. Há nove anos, a tecnologia era outra, e a facilidade de se trabalhar de casa não era como a de 2020.

Pontes foram danificadas com o desastre

“Conseguimos fazer uma cobertura abrangente, bastante completa, cada um da sua casa, sem deixar de entregar o jornal. Claro, demorou, alguns não chegaram no horário, mas a equipe de entrega fez um excelente trabalho para o jornal chegar ao assinante. Foi uma situação nova trabalhar de casa, que tivemos que aprender na hora.”

A ex-editora também destaca a relevância do jornal na opinião pública. Naquele momento, como acontece em episódios do tipo, as informações via rádios locais tinham grande alcance, mas a edição de 12 de setembro foi muito aguardada para trazer um balanço de tudo que havia acontecido, com diversas imagens fundamentais para entender a dimensão dos estragos.

Matéria relata dor de família que perdeu casa no bairro Guarani

“Nosso site não era nada perto do que é hoje. Conseguimos unir ainda mais a redação e nos conectar ainda mais com a sociedade brusquense. Acho que todo jornalista daquela época, assim como eu, leva um aprendizado daquela ocasião. A tomada de decisão de fechar o jornal foi fundamental. Não teríamos ter feito a cobertura sem aquela atitude.”

A edição daquele 9 de setembro, a sexta-feira, já trazia diversos deslizamentos, quedas de barreiras e alagamentos que ocorriam desde o início da semana, por conta das fortes chuvas. O nível do rio Itajaí-Mirim já estava muito alto desde o fim de agosto, e chegou a oito metros naquela tarde.

Moradores da rua Victor Meirelles verificam prejuízos e limpam suas casas| Foto: Aline Wernke/Arquivo O Município

A capa de Município Dia a Dia trazia a mensagem: “fechamos essa edição mais cedo, devido a problemas de logística. Nosso jornal é impresso no Jornal de Santa Catarina, em Blumenau. Para que ele chegue nas mãos do leitor hoje, tivemos que antecipar a nossa rodagem.”

A edição de 12 de setembro, depois de um fim de semana de destruição e do início das reconstruções, teve uma única chamada, de três palavras: “força da água.” Na contracapa, o outro lado da tragédia: “força do povo.” A edição, de 24 páginas, trouxe dezenas de imagens, com histórias e o balanço daquele desastre. Matérias sobre os impactos em Guabiruba e Botuverá também foram publicadas.

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Estragos foram vistos também em Botuverá | Foto: Sarita Gianesini/Arquivo O Município