Como você prefere o seu café?

Então, finalmente, chegou a noite. A nossa noite. A noite em que o ContraPonto recebeu as Beltranas para falar sobre muitas facetas dessa necessidade que todos temos, de descomplicar a nossa vida cotidiana. Um olhar sobre a bagunça em que nos meteram, a correria, os objetivos impingidos de fora para dentro. O consumo, gente, o consumo doido, que descarrega nossos recursos pessoais em nome… em nome do quê, mesmo?

 

Na minha apresentação na mesa cheia de presenças boas, dei como exemplo o café. Sabe, aquele cafezinho que a gente faz na bancada da cozinha, todas as manhãs? Esse. Há umas décadas, ele era feito consumindo poucos recursos, afora o pó de café em si. Um coador de pano, lavável, com seu suporte, durável… e um bule. Só.

Mas, aos poucos, o consumo foi ficando mais sofisticado. Veio o filtro descartável, que já foi para a lista de compras mensais. As pessoas trocaram um pelo outro, afinal o descartável é mais limpo, né? Essa coisa de paninho manchado pela cor do café não parecia mais tão higiênico.

E começamos a criar mais lixo. Tudo o que é descartável… a gente descarta onde, mesmo? Como os mais conscientes dizem, hoje, não existe “jogar fora”… porque não existe “fora”. É tudo dentro do mesmo planeta limitado. Sabemos disso, não é? Mas continuamos gerando cada vez mais descartes, ainda que com uma certa culpa.

Depois, veio a cafeteira elétrica. Que nos fez trocar mais dinheiro (ou seja, tempo trabalhado, processado, transformado em moeda) pelo aparelho, pela energia elétrica despendida, pelo filtro, pelas jarras de vidro quebradas (ops, acho que aí é um trauma pessoal…) até que, mais recentemente, veio a invasão das cafeteiras de cápsula e seus mil sabores de café ou não café.

O cafezinho tradicional, com seu pó nem sempre assim tão saboroso – sempre exportamos a melhor parte dele, né? – virou uma bebida muitas vezes mais encorpada, com outras misturas, variadíssimo, sofisticado. Vou contar uma coisa: nem o Google sabe ainda dizer quais cápsulas de café são ultraprocessadas e quais são feitas só com café, mesmo. A descrição das embalagens também não ajuda muito. O que temos certeza é que gastamos cada vez mais, para sorver uma xícara de café. E de que geramos muito mais lixo.

Tudo isso para perguntar: como você prefere o seu café? Quanto você quer investir nele? Qual a sua escolha? Talvez você ame determinadas “cores” de cápsulas e não veja mal em gastar mais (tempo e dinheiro) com elas. Ou… talvez você acabe percebendo que um café à moda antiga, feito com um coador de pano cuidadosamente lavado, ajude você a saborear uma vida um pouco menos complicada.

Depois da reunião do último dia 19, que misturou vozes e passou pelo minimalismo, pela moda sustentável, pela sustentabilidade em geral, pela economia colaborativa, pela vida profissional, pelas escolhas pessoais… acho que todos nós, presentes no Casarão Garibaldi, chegamos a uma conclusão parecida: é muito mais leve pensar em uma vida descomplicada quando pensamos e lidamos com ela coletivamente.

Ter com quem dividir dúvidas e compartilhar informação e possíveis soluções é tão bom, mas tão bom… que com certeza a gente vai repetir a dose. E você, vai vir junto com a gente?


Claudia Bia
– jornalista mais ou menos complicada

 

 

 

De quantas “brusinhas” você precisa?

Por que a gente complica tanto? Somos nós que complicamos ou é o sistema que nos obriga a complicar? Precisamos de tantas roupas, de tantos gadgets, de tantas redes sociais? Aí a gente se vê imerso num universo de ter, ter e ter e parece que não sobra tempo para o ser. Mas um ser de verdade, não aquele que a gente forja no Instagram. As mídias nos vendem o corpo ideal, o livro que devemos ler, o restaurante que devemos ir e a viagem que obrigatoriamente devemos fazer. Mas e quando morde aquele bichinho que diz que nada disso faz sentido para você? Você se rende a picada ou fica preocupado em não atender ao padrão imposto?

Logo no início desse devaneio eu falei de tempo, e é aí que está o grande segredo. Como vocês está usando seu tempo? Estás usando para algo que faça sentido para você, alinhado com seu propósito? Ou “que mané propósito” é esse? O que conta mesmo são os likes.

Vivemos uma era de conexão onde o compartilhamento faz todo sentido. Por que não fazermos uso de uma loja de empréstimos como existe na Alemanha? Lá você deixa algo que funcione, uma furadeira, por exemplo, e leva algo da loja a sua escolha. Podem ser roupas, brinquedos, uma batedeira. O que você estiver precisando naquele momento. Tudo na base do escambo mesmo. Bem mais prazeroso do que ir numa loja e gastar um dinheirão numa furadeira que vai ficar parada lá na caixa de ferramentas por meses, até fazer um novo furinho na parede. E com isso contribuímos para menos produção nas indústrias, menos descarte, menos lixo.

A moda é outra área da vida que amamos complicar. Pra que tanta “brusinha”? Precisa uma nova todo mês? Aquela realidade que a blogueira mostra não é a nossa, além de ser completamente insustentável para o planeta. Precisamos ter consciência de como o que consumimos é produzido. É uma cadeia sustentável? Tem trabalho escravo envolvido? Foi pago um valor justo para todos os envolvidos na cadeia? Sei não, hein? Essa peça de fast fashion que você está usando me cheira a tudo isso que citei. O documentário disponível na Netflix chamado de True Cost, mostra essa realidade da moda. E você vai ver que essa indústria é nada glamourosa como nos vendem. Ok! Vi o documentário, fiquei tocado. Por onde eu começo? Primeiro consumindo conscientemente. Compre só o que realmente precisa, priorize os produtores locais, se renda aos brechós, as feiras de trocas. Tivemos há algum tempo aqui na cidade a Feirinha Muda, onde você levava roupas, objetos, livros e trocava por outros. E parece que está pra rolar novamente, fiquem atentos. É uma maneira de renovar o armário, a estante, a decoração sem prejudicar o planeta.

O livro Moda com Propósito do André Carvalhal é outro bom caminho para pensarmos como seria essa nova indústria e esses novos consumidores. Vale a pena a leitura. No livro André diz que: a nova riqueza será cognitiva e cultural, imaginativa e artística. O capital essencial de amanhã não será dinheiro. Será o talento, a inteligência, a intuição e a imaginação. E isso muda tudo. Na educação, na empresa, na cidade, no mundo.

Tem a ver com “brusinha” pra você? Pra mim, não.


Morgana Moresco
– empreendedora e reflexiva

 

 

Os novos “Tempos Modernos”

E se a vida pudesse realmente ser descomplicada, como seria?

Vivemos a modernidade ou pós-modernidade, o acesso a tudo, o apelo das mídias- tem que ser muitas vezes no lugar do ser é.

Construímos um mundo de gigantes, de poderes, alta tecnologia e desenvolvimento a todo vapor… Vapor que lembra uma era de industrialização, homens máquinas no auge da produção humana de revolução e indústrias.

Olhando de fora, parece que estamos vivendo uma nova versão de Tempos Modernos a la Chaplin. Porque, afinal, são máquinas à serviço das pessoas ou as pessoas se adequando ao ritmo desenfreado de produção da sociedade que quer mais e sempre mais…

As pessoas até adoecem, mas a produção não pode parar… é um ciclo que se mantém e se retroalimenta.

E num piscar, já é passado, e o que ficou e o que ficará do que nos dispomos a “produzir” no tempo que nos foi prestado?!

E a vida… a vida que segue no ritmo que escolhemos, no ritmo que podemos ser, no ritmo talvez da sociedade, da cidade, do trabalho, das responsabilidades, no ritmo que segue…a vida!!


Sabrina Maria Schlindwein
– Psicóloga