Mais de 200 atores, todos voluntários, dedicam boa parte de seu tempo para contar a história de Jesus no espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre. São homens, mulheres e crianças de todas as idades, que neste período que antecede a Páscoa, se esforçam para produzir e entregar o melhor para o público nas duas apresentações, que, neste ano, acontecem nos dias 14 e 15 de abril.
Edson Carminati, 40 anos, é um deles. Morador do bairro São Pedro, ele é um veterano dos palcos do Paixão e Morte de um Homem Livre. Iniciou sua história com o espetáculo no papel de povo, ainda na segunda edição do teatro que foi realizada no bairro Aymoré. De lá para cá, não parou mais. Já fez papel de soldado, interpretou Jesus durante três anos, foi Caifás nas duas últimas edições e, agora, faz sua estreia no papel de Pôncio Pilatos.
“É um novo papel e um novo desafio. Já fui Jesus por três vezes e nos últimos anos estou vivendo o outro lado da moeda no espetáculo”.
A sua experiência nos palcos vem do próprio teatro. Ao longo dos anos, vivendo vários personagens, foi se aperfeiçoando e adquirindo a experiência necessária para ocupar papéis de destaque no tradicional espetáculo de Páscoa de Guabiruba.
“Tudo que sei até hoje fui aprendendo dentro do teatro, com os colegas. Cada um passando um pouquinho do que sabe”.
Para interpretar Pilatos, Edson assistiu vídeos de apresentações anteriores do espetáculo, para observar a postura e o comportamento do personagem. “Como na última edição eu fui Caifás, contracenei com Pilatos, que era o Luciano Szafir e neste ano tenho a responsabilidade de interpretar o personagem depois dele. Em cima dos vídeos antigos, fui construindo a minha forma de interpretar”.
As falas de todos os personagens são gravadas antes e no dia das apresentações, os atores fazem a dublagem. Este, de acordo com Edson, é um grande desafio, já que no dia da gravação, é preciso passar toda a emoção pela voz.
“Antes de gravar temos uma preparação para colocar a entonação certa nas palavras, passar a emoção necessária. Não estamos vivendo a cena ao vivo, então é preciso se imaginar no dia da apresentação, imaginar que a outra pessoa está ali na tua frente e fazer o seu melhor”.
Para Edson, dedicar seu tempo para o teatro é muito gratificante. No dia a dia, ele exerce uma função totalmente diferente – atua há quase 19 anos no setor de engenharia de produtos da Zen – e a época do Paixão e Morte é um momento de soltar seu outro lado.
“Faço de coração. Gosto de fazer parte do espetáculo que envolve a religião também, se torna algo muito prazeroso”.
Filha no palco
Neste ano, Edson terá uma companhia especial no palco durante o espetáculo. A filha Helena, de 10 anos, participará pela primeira vez do teatro. Ela interpretará a melhor amiga de Ângela, a narradora do espetáculo, e terá participação em uma das cenas finais.
“Estou incentivando muito ela, quem sabe toma gosto e continua participando. Nos primeiros ensaios ela estava muito nervosa, ansiosa, mas agora já está começando a entender o teatro e se soltar. Vai ser um momento muito especial”, destaca.
Crescimento no palco
Outro veterano no palco do Paixão e Morte é Igor Kraeft, 25 anos. Ele iniciou sua história com o teatro quando tinha 12 anos e cresceu envolvido com este trabalho voluntário no mundo das artes.
Ele conta que sempre ia assistir o teatro com a família, desde bem pequeno, quando ainda era preciso levar cadeiras para assistir a apresentação. Um dia, seu vizinho, Vendelino Erthal, o Nino, o convidou para participar e, desde então, na parou mais.
Igor lembra que seu primeiro papel no espetáculo foi em 2009, levando a plaquinha dos soldados romanos. Em 2011, ele interpretou pela primeira vez um soldado romano, papel que exerceu durante anos. “Fui soldado em 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019. Já coroei Jesus, já participei da flagelação”, lembra.
Nesta edição, será a primeira vez que Igor representará um personagem com fala. “Serei um soldado tribuno, vou participar das cenas de Pilatos, da via sacra, e conduzir Jesus até a cruz”.
O encarregado do setor de recebimento de malhas da Mc’Jo destaca que gosta muito de participar e se dedica ao máximo em todas suas participações. “Para mim é só gratidão. O teatro representa fé. É uma alegria muito grande participar. Largo tudo e sempre me dedico muito nos ensaios”.
Para ele, o ano que não tem o espetáculo, a Páscoa é diferente. “Parece que falta alguma coisa, a preparação não é igual. Sinto muita falta no ano que não tem, acho que todo mundo sente”.
Após dois anos sem o espetáculo, a expectativa para esta edição é a melhor possível. “Todo mundo faz com muito amor e carinho. Desde o pessoal da cozinha, os contrarregras, figurino, todos se dedicam para dar o seu melhor. E neste ano todo mundo está muito animado para voltar”.
Ano de estreia
O professor de Educação Física da Escola Professor Carlos Maffezzolli, Fagner Travasso, 37 anos, fará sua estreia no Paixão e Morte em 2022.
Ele foi convidado pelo colega de profissão, Marcelo do Nascimento, que também é presidente da Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP), para participar do teatro e, não pensou duas vezes em aceitar o convite.
“Sempre fui assistir com minha família e um dia estávamos conversando sobre o teatro e o professor Marcelo perguntou se eu queria participar como um soldado. Aceitei na hora”.
Fagner vai interpretar um soldado romano e está na expectativa para as duas apresentações. “Estou bem ansioso. Não imaginei que seria tão satisfatório, tão legal participar. Todas são pessoas muito acolhedoras”.
Como soldado romano, o estreante vai participar do espetáculo da cena 11 em diante. “Terei bastante tempo em cena. Para mim está sendo um grande aprendizado, nunca imaginei que um dia poderia participar. Estou muito feliz e já pensando em no próximo levar minha esposa e minha filha para participar também”.