Na edição deste ano, o espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre será encenado em nove palcos, com 800 metros quadrados de tablados e passarelas. É neste espaço, erguido no pátio da capela São Cristóvão, no bairro Aymoré, em Guabiruba, que a história de Jesus será contada nos dias 14 e 15 de abril, com o retorno do tradicional espetáculo após a pandemia da Covid-19. 

O último ensaio aconteceu na tarde de domingo, 10, e se estendeu até a noite, para os testes com os figurinos e toda a iluminação. Todos os 400 voluntários que fazem parte do espetáculo, entre atores e equipe técnica, participaram do ensaio e estão preparados para as apresentações, que prometem emocionar e encantar o público. Neste ano haverá ainda a participação da atriz Mônica Carvalho, conhecida por trabalhos na Globo e na Record.

Após mais de um ano de trabalho, finalmente, o dia das apresentações se aproxima para coroar toda a dedicação e entrega da equipe nos últimos meses.

Antes do último ensaio, voluntários se reuniram para um momento de oração | Foto: Bárbara Sales/O Município

A imagem do espetáculo

A equipe de cenografia, formada por 13 pessoas e coordenada pela escritora Méroli Habitzreuter, é a responsável pelo planejamento e execução de todos os cenários que ajudam a retratar a história mais famosa do mundo. 

“O maior desafio é fazer com que a história narrada se mostre ao público de uma maneira inovadora e surpreendente a cada edição”, afirma Méroli.

Ela explica que todo o projeto cenográfico parte da leitura e da conversa com a direção do espetáculo, para sentir e afinar o tempo e a forma com que as cenas acontecem e como os personagens precisam se movimentar.

História será contada em nove palcos | Foto: Bárbara Sales/O Município

“Toda a estrutura que criamos, além de ser estimulante, precisa responder diretamente a funcionalidade e a lógica da mensagem que se quer passar com a encenação. Sem contar, a preocupação em colaborar e facilitar o trabalho da equipe de contrarregras, que é muito importante”.

Todos os cenários foram pensados e criados durante a pandemia, o que, de certa forma, acabou sendo uma dificuldade para a equipe, pois em muitos momentos, havia a incerteza sobre a realização do espetáculo. De acordo com Méroli, a pandemia também impactou muito a questão financeira.

“Nosso principal desafio na criação dos elementos e cenários foi a questão financeira. Tivemos atraso na aprovação do projeto e o valor disponível para a equipe foi bastante limitado. Ficamos até o início do ano sem verba para adquirir a matéria-prima para os elementos”.

A equipe precisou se adaptar e usar a criatividade. “Criamos quase tudo com isopor. E conseguimos parcerias com empresas da região, através de doações ou empréstimos de elementos cenográficos. Os atores voluntários também nos ajudaram com a doação de itens. Este esforço mútuo está sendo incrível e muito gratificante”, diz.

De acordo com ela, todas as dificuldades fizeram com que a equipe encontrasse soluções inovadoras que prometem surpreender o público. “Todos têm um amor em comum pela arte, pelo espetáculo. Todas as pessoas que fazem parte da equipe de cenografia tem esse dom da criatividade e isso foi muito exigido da gente. Quando o público olhar cada detalhe do cenário, pintura, elemento, terá um pouquinho da gente”.

Além de Méroli, fazem parte da equipe de cenografia: Rafael Mattioli, Elenice Dietrich, Luis Antônio Dietrich, Carla Baron Fischer, Denise Nienov, Patricia Vieira, José Carlos de Souza, Sabrina Keller Valentim, Carla Beatriz Schlindwein, Marina Carminatti Zen e Guilherme Zen.

Parte da equipe de cenografia do espetáculo | Taiana Eberle/AACSP

Os detalhes

A coordenadora revela alguns detalhes dos palcos para esta edição. De acordo com ela, o palco de Herodes, que se transformará na Casa de Lázaro, será suntuoso, rico em elementos e detalhes luxuosos. “Pela primeira vez, contará com um elemento cenográfico com água”.

Já o Templo, que será também Igreja Moderna e Sinédrio, terá um cenário 

bastante versátil, para dar conta do que é necessário para as suas trocas de cenas. Segundo Méroli, este será o palco mais alto de todos.

Vários cenários foram criados para a história | Foto: Bárbara Sales/O Município

O palco de Pilatos ganhou uma versão mais robusta nesta edição, onde o público poderá observar com mais clareza a perspectiva externa do ambiente.

A Santa Ceia dividirá o espaço com a casa de Maria e, de acordo com Méroli, trará ricos detalhes em seu acabamento, e também uma nova estética de posicionamento da mesa e de outros itens.

O pátio central fará a interligação de todos os palcos para transmitir a movimentação natural da cidade. É neste palco que acontecerá a flagelação, com uma perspectiva totalmente nova e moderna, incluindo efeitos especiais.

Figurinos

No domingo, a equipe de figurino, formada por sete pessoas, finalizava os últimos detalhes das roupas dos centenas de personagens do espetáculo.

Ao todo, a equipe é responsável por 320 figurinos, além de mais de 200 acessórios usados pelos atores para compor os personagens.

Mais de 300 figurinos são de responsabilidade da equipe | Foto: Bárbara Sales/O Município

O trabalho da equipe inicia a partir da finalização do enredo. “Quando o roteiro com a história da edição é finalizado, passamos a pensar nos personagens e seus figurinos, sendo necessário, por vezes, criar alguns figurinos novos para a edição”, destaca uma das coordenadoras da equipe, Solange Nascimento.

De acordo com ela, cerca de 90% do figurino é reaproveitado do espetáculo anterior. Para esta edição, são cerca de 320 figurinos, entre apóstolos, sumos sacerdotes, coreografia, soldados, além das roupas para os quatro atores que interpretam Jesus.

Espetáculo com acessibilidade

Na quarta-feira, 13, acontece o ensaio geral do espetáculo, quando são feitas as fotos e a filmagem oficial desta edição. Neste dia, integrantes das Apaes de Brusque e Guabiruba foram convidados, além de pessoas surdas e com deficiência visual de várias cidades da região. 

Por este motivo, o espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre contará com recursos de acessibilidade para que todos consigam se emocionar durante a apresentação.

Para os surdos, haverá intérprete de libras durante todo o espetáculo. Já os cegos terão áudio-descrição das cenas e do cenário.

O trabalho de áudio-descrição será realizado pela equipe de Márcia Caspary. Na quarta-feira, quatro áudio-descritores se revezarão ao longo das duas horas de espetáculo para poder contribuir com a experiência dos deficientes visuais.

Para este trabalho, Márcia assistiu alguns ensaios do espetáculo e também teve acesso ao roteiro para poder encaixar as descrições nos momentos mais adequados. “Também fotografei os figurinos, os cenários e com o roteiro organizo as cenas e vou inserindo a descrição da imagem, os gestos, os trejeitos, figurinos, vou costurando com o roteiro passado”.

Os cegos terão acesso a áudio-descrição por equipamentos costumeiramente utilizados em tradução simultânea.

De acordo com Márcia, a áudio-descrição é inserida em momentos que não há falas no espetáculo, para que não prejudique a experiência do espectador.

“Contamos com a consultoria de um deficiente visual, que é profissional áudio-descritor e que avalia o nosso roteiro. Quanto tem alguma descrição que ele não entende, vamos ajustando conforme a percepção e o entendimento dele”.

Apesar de ser um direito do deficiente visual, são raros os espetáculos que contam com esse serviço disponível. Esta é a primeira vez que a áudio-descrição será utilizada no Paixão e Morte de um Homem Livre. “É um direito das pessoas terem acesso à cultura, ao lazer, em pé de igualdade com todos. Fico muito feliz em poder participar do espetáculo”.

O presidente da Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP), Marcelo do Nascimento, destaca que o espetáculo quer, cada vez mais, chegar a todos os públicos, por isso, a acessibilidade é importante. “Vai ser algo a somar para o nosso trabalho. Queremos melhorar a nossa relação com este público e acredito que esta edição será a primeira de muitas com esses recursos de acessibilidade”.