Joaquim Marchiori, 70 anos, conhecido entre os pedreiros e empreiteiros da região, tem muita história pra contar. Ele está aposentado desde 2009, e começou a trabalhar a partir dos 15 anos como servente de pedreiro, no Palácio Episcopal, em Florianópolis. Hoje, é dono de empreiteira.

O Palácio Episcopal, em Florianópolis, foi a primeira obra que Joaquim iniciou como servente de pedreiro, aos 15 anos. Foto: Carlos Damião/Especial

Marchiori conta que na época não havia empresa de construção civil, e o trabalho era realizado de forma autônoma.

Neste período, o servente de pedreiro era levado de kombi até a capital, e não recebia salário fixo: o pagamento era em polenta e feijão. Trabalhou por dois anos como servente, e nesse período, fazia a massa, e na hora do descanso começou a aprender a profissão de pedreiro.

Na época não havia betoneira, e a massa era feita na mão. Marchiori relata que o trabalho “não tinha hora” e que “no verão, até enquanto tinha sol, a gente ficava trabalhando”.

Após o período de aprendizado, ele começou a trabalhar como pedreiro com a Construtora Hanne, em Blumenau, onde atuou até os 20 anos de idade. Foi na construtora que recebeu a sugestão de abrir uma empresa e trazer mais pedreiros de Nova Trento para trabalhar em Blumenau.

Ele e os pedreiros contratados pegavam o ônibus na rodoviária em Nova Trento todo domingo de tarde. Já em Blumenau, trabalhavam com os funcionários da construtora na empresa Artex.

Marchiori se locomoveu por meio de ônibus por cinco anos, até adquirir um Fusca, com o qual levava a comida e mais dois pedreiros para Blumenau. O Fusca foi usado por três anos, quando ele conseguiu adquirir uma Kombi. “Nós vivíamos tudo em barraco, não existia casa. Hoje é bem melhor do que no nosso tempo”, comenta o empreiteiro.

Tempos depois, a construtora faliu, e ele tinha mais de 20 homens contratados, com um mês de salário atrasado. Nessa época, o engenheiro Egon Stein entrou em contato com Marchiori, pediu que os funcionários ficassem, ajudou a pagar os salários atrasados e abriu a Construtora Stein, com quem Joaquim firmou uma parceria que durou 39 anos. Durante esses anos, ele fez obras em diversos estados brasileiros.

Trabalho em Brusque

Em Brusque, ele trabalhou por 12 anos na fiação da fábrica Renaux, onde o falecido Dário Poli, natural de Nova Trento, era mestre de obras.

A esposa de Joaquim, Elizabet, comenta que sempre ajudou o marido nas obras, nas cidades de Araranguá, Blumenau, e Tubarão, onde o filho mais velho Rodrigo, chegou a viajar com os pais para uma obra com quase dois anos de idade, em 1983.

Nas obras em que acompanhou o marido, a função dela era fazer o café da manhã, almoço e jantar, manter a cozinha e os banheiros limpos. Nos quartos, cada pedreiro tinha a tarefa de manter seu espaço limpo e organizado.

A última obra que o empreiteiro realizou com a Construtora Stein foi o Santuário de Santa Paulina, que iniciou em 2004. A obra iniciou com 115 homens, e a basílica foi inaugurada em 2006.

Mais de cem homens trabalharam na construção do Santuário. Foto: Santuário Santa Paulina/Especial

No mesmo período, Rodrigo Marchiori estava terminando sua formação em engenharia civil, pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Ele começou a trabalhar na empresa do pai em 2004, e acompanhou a obra do Santuário de perto.

Desde a aposentadoria do pai, em 2009, ele administra a empresa, a Construtora Marchiori. “Por causa do meu pai temos muito nome na região”, destaca.

Questionado sobre a fama do pai, ele acredita que o fato de ser conhecido pelo trabalho dele fica mais fácil e ao mesmo tempo não. “É melhor para conseguir trabalho, mas a carga é muito grande, e a responsabilidade com a alta concorrência. Hoje não é mais como antigamente, onde se demorava mais para ganhar o dinheiro, mas era mais vantajoso”, comenta.

A construtora possui 85 funcionários, com a maioria de Nova Trento. Todos os dias, três vans saem às 5h30 buscando os colaboradores em Nova Trento, São João Batista, Canelinha e Tijucas, até chegar ao destino, Meia Praia. Os pedreiros trabalham o dia inteiro e voltam para casa no final da tarde.

Rodrigo e o irmão, Ricardo, acompanham o andamento das obras todos os dias, entrando nos prédios, conferindo o trabalho que está sendo executado. Rodrigo também cuida de toda parte administrativa da empresa. Joaquim, apesar de aposentado, ainda auxilia em questões pontuais do ramo.


Você está lendo: Conheça o neotrentino que era servente de pedreiro se tornou dono de empreiteira


Veja outros conteúdos do especial:

Nova Trento 128 anos: como o município se tornou conhecido como cidade dos pedreiros
Neotrentino se tornou pedreiro após ser expulso do seminário por furtar churrasco dos padres
Em Nova Trento, pedreiro é profissão passada de pai para filho