Na mesma experiência das outras obras que publiquei, o processo de pesquisa e desenvolvimento do projeto gráfico do Canto do Cisne, foi tão ou mais complexo do que escrevê-lo”.

Neste caso, com um dificultador, o tema: a morte!

A sutileza da poesia e a carga do tema. Era necessário apurar a sensibilidade para construir uma conexão entre estes dois mundos tão paralelos, mas ao mesmo tempo, tão interdependentes.  Lembro de pesquisar, salvar várias referências e sentir a dificuldade de me satisfazer com elas.

Até o momento em que assisti a performance do artista espanhol Javier Perez, chamada “En puntas”, abaixo do vídeo seguia esta breve, mas convidativa análise:

“A bailarina, cujos sapatilhas de ponta estendidas por de facas de cozinha afiadas, lutando para manter o equilíbrio sobre a tampa de um piano de cauda colocado em um palco. O teatro com sua iluminação quente veludo vermelho, se assemelha a uma enorme caixa de música.  A câmera gira em torno da bailarina. Um teatro vazio. A bailarina aparece como uma figura misteriosa com expressão de esforço, sacrifício e dor em sua busca pela perfeição. Frágil e cruel ao mesmo tempo. Inicialmente tímido e hesitante, seus passos se tornam cada vez mais e mais ameaçadores ao longo do vídeo e não isento de violência, raspando e cortando a superfície delicada do piano com suas afiadas sapatilhas de ponta. Através deste trabalho, Javier Perez investiga e reflete mais uma vez sobre a condição dos seres humanos. Usando uma linguagem fortemente metafórica, rica em simbolismo, ele revela os pontos fracos que se tornam as fronteiras entre conceitos aparentemente irreconciliáveis, tais como: beleza e crueldade, fragilidade e violência, cultura e natureza ou a vida e a morte”.

Era a conexão perfeita, falava ao meu coração e preenchia o meu Canto. Após assistir a performance não restava dúvida, havia encontrado o elemento gráfico que faltava para a obra. Embora eu não conheça Javier pessoalmente, a breve descrição que ele dá a respeito do seu próprio trabalho, me leva a um lugar comum. À um espaço muito visitado, durante a construção do Canto do Cisne:

“…eu gosto de lidar com pontos de encontro entre espirito e carne, entre pureza e impureza, entre beleza e horror, entre atração e repulsão. Eu frequentemente uso esses movimentos para oferecer aos espectadores diferentes graus de apreciação de meus trabalhos.

Minhas obras buscam conciliar todos esses aspectos. Estou interessado em revelar quão ambíguos são esses conceitos e como eles podem ser reversíveis.

 A ideia é confrontar a humanidade com sua própria condição e por tudo que a humanidade achar assustador tomar um charme irresistível.

A ideia é que a humanidade seja atraída por suas próprias vísceras”. (Javier Pérez)

 

 

Obra: Canto do Cisne
Disponível: Livraria Graf, Livraria Saber e Gralhas Azul

 


Méroli Habitzreuter
 – escritora, pintora e ativista cultural