É pra criança?

Uma questão recorrente a quem trabalha com teatro e contação de histórias é a adequação dos trabalhos à faixa etária do público. Pais e professores se preocupam com o conteúdo dos contos ou cenas, com o vocabulário e indagações que possam surgir na cabeça da criança. Acho difícil estabelecer essa divisão e sempre lamento que, por causa dela, os adultos sejam excluídos de alguns espetáculos, por terem “passado da idade”.

Os contos de tradição oral nasceram numa época em que a crianças não eram poupadas de cenas violentas, sangrentas e recheadas dos piores sentimentos humanos. A mesma história era contada para todos, independentemente da idade. Claro que com tantos estudos e avanços no campo da psicologia e pedagogia, muitas adequações foram feitas, a fim de educar, entreter e criar fruição sem precisar horrorizar. Criou-se então uma literatura, bem como um teatro, dito infantil, direcionado e pensado para esta fase da vida humana.

Porém, existe também uma extrema rotulação dos conteúdos, o que muitas vezes dificulta o acesso de adolescentes e adultos ao universo lúdico e poético de espetáculos artísticos.

É pra adulto?

Essa urgência em advertir e convidar amigos e leitores para assistirem a próxima peça que virá a Brusque pelo projeto BQ (en)cena, amanhã, dia 22, surgiu dessa questão: teatro sensível, que narra episódios de infância, com sensibilidade e utilizando bonecos, e que não é SÓ para crianças.

Assisti “Por que nem todos os dias são dias de sol?”, no FITA – Festival Internacional de Teatro de Animação, em Florianópolis, no ano passado. No palco o que se vê são quatro histórias bem contadas, que remetem a episódios e sensações comuns a todas as infâncias, propondo uma atmosfera nostálgica nos adultos. Também apresenta cenário, trilha sonora, direção e atuações impecáveis, além da mágica em dar vida aos bonecos, o que encanta as crianças. De todas as idades!

É pra criança e pra adulto!
O espetáculo da Artesanal Cia. de Teatro, do Rio de Janeiro, é dividido em quatro contos. O primeiro fala de um menino que tem medo de uma velha que se senta todos os dias no banco de uma praça. Porém, sua curiosidade faz com que ele se aproxime dela e descubra que as lembranças são histórias que contamos para as outras pessoas. O segundo fala de uma menina que gosta de pássaros, tenta ajudar seu vizinho a soltar uma pipa que ficou presa nos galhos de uma árvore. O terceiro traz um homem que conversa com objetos em seu escritório, após seu filho ter lhe dito que prefere continuar criança para sempre, pois acha que é muito chato ser adulto. O quarto, conta a história de uma menina que engole uma semente de laranja, achando que dessa forma um bebê irá crescer dentro de sua barriga. Mas ao perceber que nada acontece, começa a achar que uma árvore está crescendo dentro dela.

A apresentação de “Por que nem todos os dias são dias de sol?” acontece no dia 22 de março, às 19h30min, no Teatro do CESCB. Os ingressos estão disponíveis na Livraria Graf e na bilheteria do teatro, a R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).


Lieza Neves
– atriz, escritora, produtora cultural