Conversas Praianas 4 – Os Maridos
É tempo de veraneio. Mulheres, sentadas em frente a um edifício da Avenida Atlântica, conversam sem hora para terminar. Pertencem a uma dessas tribos passageiras de veranistas, que levantam acampamento depois do carnaval, quando o país desperta para a realidade dos dias de cinza que virão pela frente. Já cruzaram a fronteira etária dos 60 anos e procuram driblar o espectro sombrio da velhice, que vai se mostrando de forma implacável.
Cirurgia plástica, silicone e cosméticos são as grandes armas da vaidade feminina para esconder do espelho a silhueta desgastada pelo passar inexorável dos anos. Mas, com o tempo, tudo muda. Como, nós, frágeis mortais, não mudaríamos? Essas sexagenárias, da geração que se conformou em viver para o lar, para o marido e filhos, agora, vivem também para os netos, porque nunca se cansam de ser mães.
Os assuntos são sempre recorrentes. Giram em torno da rotina doméstica. Os maridos não escapam das confissões marcadas por um disfarçado ressentimento, guardado no fundo do coração dessas santas esposas que passaram boa parte da vida conjugal em frente ao fogão, num labor repetitivo e incansável, que faz pausa ao meio-dia para recomeçar no final da tarde, porque o corpo precisa ser realimentado cotidianamente.
Apesar dos percalços de uma vida conjugal preservada na base da tolerância sem fim, muitas vezes, sem reciprocidade da outra parte, parece que essas mulheres despertaram para curtir os prazeres que a vida dedicada à prole e aos trabalhos domésticos lhe negaram por bom tempo. Quem as vê, descontraídas e a risos soltos, imagina que estão em busca dos prazeres de uma juventude que não foi perdida, mas certamente foi cheia de sacrifícios.
Com certa mágoa, reclamam da vida doméstica e do autoritarismo marital. Porém, basta uma amiga concordar ou dizer qualquer palavra contra o maridão e elas saem em defesa do parceiro de décadas de convivência conjugal. Afinal, conviver é alegria, é prazer, é felicidade. Mas, é também arrufo, briga, discussão. É acostumar-se com os dissabores passageiros, é esquecer as desilusões que, muitas vezes, precisaram ser enterradas no espaço mais escondido do lar.
Tudo em honra ao sagrado juramento, até que a morte separe as duas almas enlaçadas pelas promessas ao pé do altar, num tempo sem separação nem divórcio.