Crescimento dos bairros de Brusque supera planejamento da prefeitura e gera falta de água
Novas construções ultrapassaram capacidade projetada pelo Samae e Ibplan diz que não pode barrar empreendimentos
Novas construções ultrapassaram capacidade projetada pelo Samae e Ibplan diz que não pode barrar empreendimentos
Por Bárbara Sales, Cristóvão Vieira e Marcelo Gouvêa
O crescimento da população em alguns bairros de Brusque – que gerou novas construções – superou o planejamento de abastecimento de água por parte do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae). Isso vem acarretando em falta de água. No Limeira Baixa, por exemplo, falta água diariamente a partir das 16h30, há pelo menos dois meses
Representantes do Samae e do Instituto Brusquense de Planejamento (Ibplan) divergem sobre o motivo deste problema. Para o diretor-presidente do Samae, Roberto Bolognini, a instalação de novas residências, principalmente as do tipo geminadas, é feita de forma desordenada.
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Já segundo Jiane Mara de Melo Heil, diretora de planejamento do Ibplan, não há crescimento desordenado, e sim uma falha de projeção da autarquia. “Ao longo dos anos, o Samae não se preparou para que isso acontecesse, de modo que agora há esse problema no abastecimento”.
Samae vê irregularidades nas construções
Segundo Bolognini, há irregularidades no pedido de autorização para liberação do uso da água ao Samae por parte de construtores. Ele explica que muitas vezes a autarquia recebe o pedido de liberação para um terreno, ou seja, uma unidade consumidora, mas os edifícios construídos contam com vários apartamentos, que acabam gerando um consumo muito maior do que o projetado.
A conta feita pelos técnicos do Samae considera uma média de quatro pessoas por unidade consumidora. Esta soma leva em consideração um consumo de 150 litros por pessoa ao dia. Mas, em alguns casos, o que deveria ser uma unidade torna-se até cinco, por exemplo, exigindo muito mais água do que o projetado.
“As edificações geminadas estão sendo construídas, principalmente, em novos loteamentos, os quais passam por consulta de viabilidade para serem aprovados, sendo que no momento da análise do Samae é declarada uma unidade consumidora por lote. Porém, na execução evidenciamos a prática dessas construções, as quais podem ocupar até cinco unidades e muitas vezes edifícios com mais de 20 unidades”.
O diretor-presidente do Samae destaca que a autarquia não possui poder de fiscalização para coibir essas irregularidades. Sobre a instalação dos hidrômetros, ou relógios de água, que precisam ser individuais e são feitos pelo Samae, Bolognini explica que depois de autorizada a construção, a autarquia é obrigada a efetuar este serviço.
Bolognini afirma que desde 2001 o Samae não recebe incrementos de novas fontes para a produção de água e todos os sistemas isolados já existentes, incluindo a Estação de Tratamento de Água (ETA) Central, estão no limite de produção, ou seja, toda a água produzida é consumida.
Ibplan diz que lei permite
Segundo Jiane, o Ibplan não pode desautorizar a construção de uma obra porque ela não possui plena capacidade de distribuição de água. Portanto, a entidade não tem respaldo em lei para proibir edifícios, mesmo que os apartamentos em questão não ofereçam água a vontade aos futuros moradores.
Ela explica ainda que uma proibição pode acarretar em problemas jurídicos para a Prefeitura de Brusque. “Se não autorizarmos, o investidor pode buscar seus direitos e ganhar um processo contra a prefeitura. Talvez em uma revisão de plano diretor isso pode ser levado em consideração, mas na presente data não temos projeção de alteração da lei, então não temos como desautorizar as construções”.
Questionado sobre a situação do bairro Limeira Baixa, o diretor-presidente do Samae diz que o Sistema Isolado de Tratamento da Limeira, em sua concepção inicial, no ano de 2001, tinha o propósito de promover somente o abastecimento das regiões conhecidas como Limeira Alta e Limeira Baixa, no entorno do traçado da rua Alberto Müller, em toda a sua extensão.
No entanto, com o passar dos anos, em decorrência dos grandes índices de crescimento em todos os bairros, houve a necessidade de destinar parte da água do Sistema Limeira para outras localidades, como por exemplo, parte do bairro Poço Fundo, que antes era abastecido pelos sistemas isolados do Zantão e Santa Luzia.
“Tal necessidade de desvio de parte da água do Sistema Limeira para estas e outras áreas foi decorrência da grande demanda de água percebida ao longo do tempo pelos sistemas isolados do Zantão e Santa Luzia, os quais já não podiam suprir de forma satisfatória o atendimento aos respectivos bairros”.
Bolognini cita alguns empreendimentos recentes construídos no bairro que contribuíram para o aumento considerável da demanda de água na localidade, entre eles estão o loteamento Próspero Cadore, com 410 unidades consumidoras, e o conjunto habitacional Sesquicentenário, com 320 apartamentos. Após estes, também foi liberado o Limeira Home Village, com um total de 1.048 unidades consumidoras.
“Em 2011 apresentei um laudo que já apontava para os problemas da falta de água para atender esses empreendimentos. No caso do loteamento, há o agravante do fato da implantação, em sua maioria, de unidades multifamiliares ou geminadas, as quais não foram declaradas nos processos anteriores de planejamento e consultas de viabilidade”.
Rotina de escassez
Um dos bairros que têm sofrido constantemente com o desabastecimento é o Limeira Baixa. No local, a falta de água ocorre há cerca de dois meses, entre às 16h30 e a metade da manhã do dia seguinte. Também há relatos da paralisação do serviço na localidade vizinha, Ribeirão Tavares.
A falta mais recente foi durante o feriado de Finados e o fim de semana. O abastecimento operou até pouco após às 16h30 e não havia sido normalizado até a manhã de segunda-feira, 5.
O problema já se tornou rotina na casa de famílias como a de Roseli Zancanaro, 53 anos. Segundo ela, é a primeira vez em mais de 20 anos que mora no local que o entorno também sofre com a falta de água.
Com a dificuldade de abastecimento, ela precisa adaptar os serviços diários para aproveitar o período que o serviço está disponível. A casa onde mora não possui caixa de água e serviços diários como limpeza, roupas e banho da família precisam ser feitos até o interrompimento do serviço.
Socorro mora ao lado
Apesar da tentativa de organização, os períodos prolongados sem água são um desafio para a família. Para não ficar sem para as atividades básicas, ela conta com a ajuda da filha que mora próximo à casa. “Tentamos ajustar tudo dentro do tempo, mas nem sempre dá, aí temos que ir à casa da nossa filha, que tem caixa d’água”.
Com um reservatório de 1 mil litros, a casa da filha, Juliana Zancanaro, 29 anos, garante o abastecimento de água para as sete pessoas da família. De acordo com ela, a situação tem sido recorrente no bairro.
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Para evitar a falta de serviço, eles reduzem o fluxo e evitam fazer a lavagem de roupa. Para ela, a situação e a proximidade do verão são motivos de preocupação. “Eles ficam muito tempo sem. O estranho é que durante o resto do dia está normal.”
Esperança na ETA Cristalina
O diretor-presidente do Samae destaca que outros bairros sofrem a mesma situação de desabastecimento de água e que a autarquia está em fase de abertura de licitação do projeto executivo da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Cristalina, principal aposta para resolver o problema.
“Este projeto vai solucionar todos os problemas de abastecimento de água da cidade até 2050. Até o final da sua construção, datada para 2021, o Samae estará promovendo todos os tipos de melhorias possíveis para amenizar a situação do desabastecimento”.
Enquanto a estação da Cristalina não sai do papel, a recomendação do Samae é para que a comunidade evite o desperdício, principalmente os moradores das partes mais baixas da cidade. Também é recomendado o uso de caixas d’água nas residências para uso em períodos em que há desabastecimento.