Januário, que tinha 43 anos na época, recorda de ser avisado por um vizinho que havia chovido muito em Vidal Ramos e Botuverá, durante o dia 6. A água chegaria a Brusque às 21h daquela segunda-feira.
O alerta era real. Os registros em Brusque foram de 27,2 milímetros de chuva no dia 5 e 105,2 milímetros no dia 6. Não há registros do dia 7. Já em Vidal Ramos choveu 148 milímetros no dia 6, e 105,4 milímetros no dia 7. Os dados são da Agência Nacional de Águas (ANA), com índice pluviométricos captados pela Epagri/SC.
“Aí é que levantou mesmo. Era 2h da manhã de terça-feira, arrebenta o muro do Brusque Esporte Clube, a água subiu violentamente”, conta Pehnk.
Era água e correnteza. A filial da loja, que era situada na avenida Lauro Müller, foi inundada. “Foi como arrebentar uma represa, a cada dez minutos subia meio metro. Foi o maior baque que aconteceu para nós”, ressalta.
“Chegou uma hora que era incontrolável. No Centro não sobrou ninguém, no Jardim Maluche a água foi até o telhado das casas mais baixas, as firmas e metalúrgicas tiveram um grande estrago”, lembra.
Segundo relatório da extinta Secretaria da Indústria e Comércio do Estado, que na época fez um levantamento das perdas nessas áreas, 82 empresas do setor industrial foram atingidas, e 77 delas tiveram suas atividades paralisadas na cidade. Consequentemente, foram atingidos 3.635 trabalhadores.
No mesmo levantamento, 291 estabelecimentos do setor comercial foram atingidos, e 275 tiveram os serviços paralisados, atingindo 1.959 pessoas. Os dados foram publicados no jornal O Município, na edição do dia 24 de agosto de 1984.
Na frente de onde ficava a filial da Vidraçaria Cristal, até hoje está localizada a loja da Stoltenberg Madeiras. Segundo o proprietário, Valter Stoltenberg, 67, ele saiu da loja enquanto a água entrava no estabelecimento.
“A água foi subindo, tentamos levantar as coisas. Quando a água chega na sinaleira, é um alerta”, conta.
De acordo com Stoltenberg, na área administrativa e no térreo loja a água chegou até uma altura em torno de dois metros. Apenas foram retirados os veículos, que foram estacionados em uma parte alta da rua Tiradentes. “Não tinha muito o que fazer, era raciocinar, pensar e resolver. Sem pânico”, diz.
“Quando a água abaixou, começou a recolher lama, os papéis foram todos perdidos”, conta.
Prejuízo incalculável
Segundo Pehnk, levou dois anos para a Vidraçaria Cristal se recuperar dos estragos da inundação. “Nós tínhamos um sótão, mas é impossível você colocar uma loja toda lá. É muita coisa”, relembra. “Doeu ver tudo aquilo perder-se”, conta.
De acordo com ele, a situação da matriz da empresa foi a mesma, no bairro Rio Branco. Só a filial de São João Batista não foi atingida.
Sobre o valor das perdas, Pehnk diz ser incalculável. “Nós não tivemos tempo para isso, foi recomeçar do zero”, diz.
Para a recuperação, a Vidraçaria Cristal recebeu a ajuda de fornecedores. Pehnk ressalta que recebeu auxílio da Zen S.A., com a limpeza dos pregos para construção, do estoque. “O que sobrou enferrujou, eles passaram máquinas para limpar o ferro sem cobrar nada”, recorda.
Segundo Stoltenberg, levou 12 meses para lavar as mercadorias. “Toda a madeira estava cheia de lama”, diz. Nesse tempo, também fizeram os reparos nas máquinas, como secamento dos motores.
O empresário também desconhece o tamanho do prejuízo. “Na época, não tínhamos ideia de valores”, conta Stoltenberg.
Apesar dos estragos, ele ressalta que conseguiu pagar em dia os funcionários e impostos. “Apenas alguns fornecedores foram compreensíveis e prorrogaram os vencimentos dos títulos”, complementa.
De acordo com Stoltenberg, a fábrica de Vidal Ramos garantiu material para vender, pois funcionou normalmente. E em seis meses, o fluxo da loja voltou ao normal.
“Trabalhar e tentar vencer novamente, e foi o que aconteceu. Tínhamos uma boa freguesia e bons funcionários”, completa Pehnk.
Reconstrução e prevenção
Para Stoltenberg, caso uma inundação igual de 1984 acontecesse novamente, a empresa não conseguiria resistir às perdas como naquele tempo. “Hoje, a margem de lucro é menor, e os custos são maiores”, conta.
Sabendo das possibilidades de voltar a ter uma catástrofe, o empresário inseriu mudanças na empresa para casos de emergência. Por exemplo, em 1984, portas, janelas, compensados, colas, vernizes, pregos e parafusos que foram molhados, estragaram.
“Hoje, o material que é mais perecível está mantido em locais mais altos”, explica.
Pehnk deixou o ramo de materiais de construção e, atualmente, tem uma floricultura na cidade. Quando fala da inundação, não é uma lembrança que deseja guardar. “Eu queimei todas as fotos da enchente, joguei tudo fora”, conta.
Contudo, ele recorda da força do trabalho da cidade para reconstruir e recuperar os bens que foram pedidos
“Igual a Blumenau, o brusquense não se entregou com a enchente, e sim limpou, reconstruiu. Não olhou o que se perdeu, mas recuperou tudo e voltou ao normal”, finaliza.