Dia da Mulher: Moradora de Brusque desafia barreiras ao trabalhar como servente de pedreiro
Joceane é reconhecida como a única mulher a atuar na função no município
Joceane é reconhecida como a única mulher a atuar na função no município
Em meio ao barulho das ferramentas e ao ritmo intenso das obras, a história de Joceane de Cássia Wolff dos Santos, de 47 anos, é vista como um exemplo de força e determinação. Há seis anos como servente de pedreiro, a moradora de Brusque não constrói apenas paredes, mas ergue lares que representam os sonhos de muitas famílias do município.
Natural de Joinville, Joceane vive em Brusque há 22 anos. Segundo ela, a entrada no mundo da construção civil aconteceu quase que naturalmente, já que seu marido já era pedreiro e sempre que precisava de ajuda.
“Eu deixava o meu antigo emprego para apoiá-lo. Porém, chegou uma hora que eu decidi parar de trabalhar fora e comecei a trabalhar junto com ele”, disse.
O trabalho é intenso. Joceane prepara massa, carrega tijolos, assenta pisos e participa de quase todas as etapas da obra. “Eu só não coloco tijolo ainda, mas o resto eu faço”, conta com orgulho.
Apesar da exaustão física, ela encara a rotina com leveza. “Não acho pesado. O que eu não dou conta, meu marido ou outra pessoa carrega. A gente se ajuda”.
Mesmo em um ambiente predominantemente masculino, Joceane nunca se intimidou. Ela acredita que mais mulheres poderiam se aventurar no setor.
“Seria bom ter mais mulheres trabalhando. É uma renda que vai direto pra família, não precisa pagar outra pessoa. Além de obras privadas, ajudo nas reformas dos parentes. Posso dizer que sempre sou solicitada”, brinca.
A jornada, no entanto, não é isenta de desafios. Em Brusque, onde a construção civil pulsa, falta mão de obra disposta a encarar o batente.
“Serviço tem bastante, mas gente pra trabalhar, pouca. Os jovens de hoje em dia só querem saber de computador ou serviço mais leve. Porém, isso valoriza nosso trabalho também”.
Ainda assim, ela segue firme, dividindo os dias entre a obra e as tarefas de casa. Recentemente, Joceane e o marido passaram um ano trabalhando em uma construção próxima à Unifebe, e, enquanto aguardam a liberação de novos projetos, estão reformando a casa de um familiar.
“Eu gosto do que faço e sei que posso ser exemplo para muitas outras mulheres. É verdade que o sol escaldante e o desgaste físico por vezes me fazem pensar em mudar de ramo, mas o volume constante de trabalho e a segurança de uma renda própria me mantém na ativa. Enquanto tiver serviço, a gente segue”, conclui.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brusque (Sintricomb), Izaías Otaviano, revela que, entre os associados, 135 são mulheres. Já entre as não associadas, o número chega a 296.
“Os números estão estabilizados, mas, se considerarmos as empresas familiares que atuam de forma mais informal, teríamos ainda mais mulheres. Apesar dessa estabilidade, na mão de obra considerada ‘pesada’, é raríssimo ver mulheres atuando. Que eu saiba, Joceane é a única”, comenta.
Questionado se a presença feminina no setor tem crescido, Izaías explica que as novas associações seguem estáveis.
“Em 2022, tivemos 52 novos cadastros. Em 2023, foram 41, e, em 2024, até agora, foram 36. Embora a presença feminina não seja tão forte no ‘chão de obra’, ela é bastante expressiva nas áreas decorativas e artísticas, como pintura e acabamento em gesso”, explica.
Para o presidente, ter uma profissional como Joceane em Brusque é motivo de orgulho.
“O serviço que ela faz não é para qualquer pessoa. Isso mostra força de vontade, determinação e o perfil de uma verdadeira trabalhadora. Ela é um orgulho para o Sindicato e para a cidade, disso não temos dúvida”, conclui.
Com bailão e danceteria, Shopping da Tradição trouxe shows de música gaúcha a Brusque: