Dispersão de votos e quociente eleitoral: os desafios para os candidatos de Brusque

Concorrentes fazem as contas para buscar uma vaga e tentam se fortalecer na região

Dispersão de votos e quociente eleitoral: os desafios para os candidatos de Brusque

Concorrentes fazem as contas para buscar uma vaga e tentam se fortalecer na região

A cada quatro anos o discurso de “votar em quem é daqui” para ter representatividade regional reaparece nas campanhas. No entanto, os candidatos têm ciência de que somente o colégio eleitoral de Brusque, com aproximadamente 84 mil votantes, dificilmente elegerá um deputado federal ou estadual. Além disso, a dispersão de votos é grande, por isso, é preciso buscar votos onde for possível.

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A matemática da campanha exige que um candidato faça uma votação expressiva. Para deputado estadual, por exemplo, dependendo da coligação, pode ser necessário 20, 30 até 50 mil votos. O panorama é ainda mais difícil quando a disputa é para deputado federal.

Rolf Kaestner, ex-vice-prefeito, filiado ao PP e reconhecido por suas análises políticas, diz que o concorrente precisa ser forte regional ou estadualmente.

O desafio dos candidatos é tornar-se conhecido em toda a região em tão pouco tempo de campanha. Eles são familiares ao eleitor de Brusque por sua vida pública, mas na região não é o mesmo.

Jean Pirola, candidato a deputado estadual pelo PP, trabalha em diferentes regiões para alcançar a meta de 24 mil votos. O principal foco dele é no Vale do Itajaí, desde Rio do Sul até Itajaí.

O segundo local de atuação é na Serra Catarinense. A família de Pirola vive naquela região e está trabalhando em busca de votos para ele.

O terceiro foco é a Grande Florianópolis, que começa em Nova Trento e se estende até a capital. É um dos maiores colégios eleitorais do estado e pode render votos importantes para os candidatos.

Pirola justifica que é preciso arrebanhar votos noutras regiões porque há uma grande quantidade de candidatos em Brusque. Além disso, existe o comportamento dos eleitores que, historicamente, votam em peso em gente de fora.

Regionalizar-se é uma necessidade para todos, principalmente para quem quer uma vaga na Câmara dos Deputados. Paulo Sestrem (PRP), por exemplo, tenta encorpar seu nome noutras cidades para aumentar a sua densidade eleitoral.

O principal enfoque de atuação de Sestrem é na região de 17 cidades entre Tijucas e Brusque. Ele explica que não existe um deputado federal eleito nessa região e ele se apresenta como opção.

Sestrem também tem buscado votos no entorno de Florianópolis. Ele dá aulas para formar instrutores de autoescolas há anos e tem amigos na capital.

Também na briga pela Câmara Federal, Michel Belli (PPS) foca sua campanha entre Blumenau, Brusque e Balneário Camboriú, além dos municípios no entorno.

Belli afirma que “é normal” buscar votos fora porque só colégio eleitoral de Brusque é muito pouco para eleger um congressista. Ele tem visitado empresas e amigos nas cidades da região para se apresentar.

Dispersão de votos
Ivo Barni foi funcionário da prefeitura por anos. Foi filiado ao MDB e hoje é conhecido por analisar o cenário eleitoral. Ele explica que historicamente 40% dos votos válidos de Brusque vão para candidatos de fora.

Barni acredita que esse percentual de “fuga de votos” deve se repetir no pleito deste ano. Para Kaestner, o fenômeno da migração tem efeito sobre o eleitorado brusquense e explica a situação.

“Nos últimos 10 ou 15 anos, houve uma migração muito grande para nossa cidade. Isso faz com que tenhamos cidadãos de muitas regiões. Elas são influenciadas por candidatos de suas regiões. Elas também influenciam vizinhos e amigos que vieram de outros estados a votar nesses candidatos”, afirma Kaestner.

Além de lidar com os votos para “forasteiros”, os candidatos de Brusque precisam levar em conta o número recorde de candidaturas locais: são dez para deputado estadual e sete para federal.

Os dois analistas acreditam que esse cenário impõe mais um desafio para todos os postulantes a uma vaga no Legislativo. A regionalização é quase obrigatória.

Kaestner exemplifica o caso de Serafim Venzon (PSDB), cuja base eleitoral fica em Brusque. Mas o tucano é um campeão de votos fora, fazendo votações expressivas em diversas cidades. É desta forma que ele tem se mantido na Alesc.

Partidos
Por anos, a política fazia-se de forma partidária. Candidatos da mesma legenda faziam campanha para correligionários.

Mas os escândalos partidários fizeram essa prática reduzir, avalia Rolf Kaestner. “Ninguém pede voto para governador, deputado estadual, federal, senador. Isso é ruim porque não existem mais partidos. A eleição está individualizada.”

No caso de Brusque, praticamente todos os candidatos a deputado estadual têm um federal na coligação. Por exemplo, Guilherme Marchewsky com Belli, no PPS. Mas há algumas exceções, como o PP.

O partido de Brusque não lançou um nome a deputado federal local. Segundo Pirola, o PP de todo o Vale do Itajaí fechou apoio a Nilson Stainsack, ex-prefeito de Presidente Getúlio e candidato a federal.

Apesar deste apoio partidário, não existe um pedido de voto ativo. É apenas uma recomendação. Existem pessoas do PP trabalhando por outros candidatos à Câmara, como Sabrina Avozani (NOVO).

MDB
Partido mais forte no interior do estado, o MDB brusquense não lançou candidatos. Em vez disso, lideranças locais apoiam individualmente concorrentes de fora.

Deivis da Silva, vereador licenciado que, atualmente, é secretário de Assistência Social, tem feito ações de rua em prol de Dirce Heiderscheidt, candidata à reeleição na Alesc, e Ericsson Hemmer, que busca uma cadeira na Câmara Federal.

Dirce é de Palhoça, enquanto Ericsson é de Blumenau. Criticado, Silva defende-se.

“A Dirce ajuda Brusque desde que me elegi vereador”. Ele cita que a deputada já conseguiu micro-ônibus para o município.

Sobre Ericsson, Silva diz que se trata de um empresário forte em Blumenau, que é um dos maiores colégios eleitorais do estado. Os dois são do MDB.

O secretário afirma que ambos têm viabilidade se eleger. Segundo ele, Dirce faz de 40% a 50% de seus votos em Palhoça e o restante em 90 municípios onde tem atuação.

“Os candidatos de Brusque têm que se regionalizar”, explica. Ele avalia que ter um nome forte só na cidade ou na microrregião é pouco e seria uma “utopia” pensar que é possível se eleger apenas com isso.

Pirola não concorda com quem é da cidade e faz campanha para candidatos de fora. “A gente vê aqui vereadores e secretários trabalhando arduamente para candidatos de outras regiões. Realmente, não pensam na cidade, pensam na autopromoção, na promoção do partido.”

Quociente eleitoral faz toda a diferença

Apenas ser bem votado não é garantia de eleição. A coligação e os nomes do partido fazem toda a diferença.

Sestrem, por exemplo, estima que precisa de 40 a 50 mil votos para ser eleito. A coligação dele tem o PRP, PHS, PROS, PPL e PODE.

São poucos políticos conhecidos, portanto, Sestrem tem mais chances de brigar para ficar entre os mais votados da coligação e, assim, ser eleito.

“Infelizmente, muitos colocaram seu nome à disposição sem levar em conta a questão matemática e as coligações que foram feitas. Tem candidatos de Brusque que precisam fazer 80, 90 mil votos, e outros podem se eleger com 40 a 50 mil”, declara.

O PPS de Michel Belli está na coligação com PSDB, PTB e DC. O grupo tem nomes fortes, tidos já como eleitos, como é o caso de Marco Tebaldi (PSDB), Geovania de Sá (PSDB) e Carmen Zanotto (PPS). Por isso Belli precisa de muitos votos para buscar ficar entre os mais votados da coligação e beliscar uma vaga.

No cenário para deputado estadual as votações são menores, mas a concorrência é grande. Pirola estima que precisa fazer em torno de 24 mil votos para ser eleito.

A meta do PP é eleger seis deputados estaduais, e na coligação (que envolve mais siglas), 15 parlamentares.

Entenda como um deputado é eleito

  • Os votos para todos os candidatos e seus partidos ou coligações são somados
  • Os votos válidos são divididos pelo número de vagas em disputa. Por exemplo: 40 mil votos válidos para 40 vagas significa que um partido ou coligação precisa de 1 mil votos por cadeira: este é o quociente eleitoral
  • Se o partido A fizer cinco vezes o quociente eleitoral, ou seja, a soma de todos os votos for 5 mil, terá, então, cinco vagas no parlamento
  • Quem ocupa essas cinco vagas? Os cinco mais votados dentro da coligação. Mesmo que um deles tenha menos votos que um outro candidato de outro partido, ele ocupa uma vaga por estar num partido mais bem votado

Analista avalia cenário pulverizado em Brusque

Ivo Barni avalia que Brusque tem um colégio eleitoral suficiente para ter um deputado estadual eleito. Dois, num bom cenário. Três, segundo ele, seria algo extraordinário.

“Tem um grupo jovem que se aventura numa empreitada, mas carecem de estrutura de apoio, não só partidária. Não é só a internet ou o boca a boca em 45 dias que vão conseguir convencer os eleitores que eles são a mudança. Mesmo porque são muitos proponentes”, analisa.

Segundo Barni, são “muitos candidatos para poucos votos”. Com base nas estatísticas das últimas eleições, ele avalia que o candidato precisa conseguir 20% dos votos válidos na comarca (Brusque, Guabiruba e Botuverá) e buscar mais 10% fora da região para alcançar uma cadeira na Alesc.

“Neste quadro, a gente só vê dois candidatos, porque fazem política 24 horas por dia. Um é o Serafim Venzon e o outro, Paulo Eccel”. Ele acredita que outros dois nomes têm chances: Jones Bosio, do DEM, e Jean Pirola, do PP.

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“Correm com possibilidade o Jones Bosio, que é trabalhador político. Vamos ver a densidade eleitoral dele, mas não se pode ignorar que ele tem trabalho político 24 horas por dia. E o Jean Pirola, que se dedica muito à questão política. Tem leve possibilidade, porque a legenda dele tem nomes expressivos no estado.”

Barni acredita que os outros nomes são bons, mas ainda carecem de envergadura regional, que as legendas menores não oferecem. “Nos municípios da Comarca, ou é MDB, PP ou PSD. Ainda existe o fanatismo por partido. Diferente da interpretação partidária do município de Brusque, que fica mais entre situação e oposição.”

No cenário para deputado federal, ele não acredita que Brusque conseguirá eleger alguém. Barni avalia que os nomes que concorrem são “boas pessoas, mas a capacidade eleitoral deles fica prejudicada pelo excessivo número de candidaturas locais”.

“Se tivéssemos só dois candidatos a federal em Brusque, a tendência era polarizar. Mas como temos muitos, a dispersão de votos vai ocorrer. Muitos forasteiros vêm aqui e vão levar mais votos que o candidato local.”

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