Do médico ao técnico: como funciona a recuperação de um jogador lesionado no Brusque
Processo envolve diversas etapas e cuidados, além de trabalhos preventivos
Processo envolve diversas etapas e cuidados, além de trabalhos preventivos
O Brusque concluiu o primeiro terço da Série B com mais jogadores entrando no departamento médico por lesões do que saindo: dos 31 atletas no plantel, apenas o zagueiro Sandro segue sob os cuidados do DM, por conta de uma lesão no ombro. Outros jogadores já estão próximos dos treinos integrais. Esta situação, no meio da temporada, tem sido motivo de comemoração do elenco e da equipe de profissionais envolvidos nos processos de recuperação e prevenção.
“O Sandro já está num período avançado de recuperação. É um pós-operatório, mas ele está evoluindo super bem. Estamos bem contentes por estarmos em uma situação bastante confortável”, comenta o médico do Brusque, Lucas Bremm.
Com menos jogadores, o volume de trabalho da fisioterapia para o tratamento das lesões, evidentemente, diminui. Bremm sempre segue a situação de perto, especialmente sobre questões à parte, como doenças virais ou bacterianas. “Apesar de não ter ninguém tratando problemas de saúde no departamento de fisioterapia, o departamento médico continua tendo casos de infecção viral, uma dor de olho, de ouvido, de garganta. Acaba acontecendo sempre”, destaca, ressaltando que não há casos muito preocupantes ou que requeiram tratamentos mais específicos.
Contudo, doenças comuns do dia a dia como gripes, dependendo da gravidade, podem enfraquecer o atleta a ponto de torná-lo mais suscetível a lesões. É por isso que não é incomum um jogador ser afastado por sintomas gripais. Quanto à Covid-19, o médico relata que tem sido uma questão controlada. Algo diferente de 2020, quando não havia vacina disponível e o elenco foi comprometido, tanto pela doença quanto por lesões que se tornaram mais prováveis.
Quando um jogador sofre uma lesão, é examinado por Bremm, e os exames também são acompanhados pelo fisioterapeuta William Kvieskas. “Fazemos exames complementares de imagem, como ressonância magnética, ultrassonografia ou radiografia. E a partir daí, a gente monta o diagnóstico, e senta com a fisioterapia para programar a recuperação. Quando a gente vê que é um caso mais grave, que precisa de cirurgia, cabe a mim fazer a cirurgia ou encontrar a equipe de especialistas necessária”, explica o médico. Ao longo da recuperação, são realizados exames de acompanhamento, especialmente quando há algumas dúvidas.
Em momentos como o atual, no qual não há muitos jogadores em tratamento de lesões, o fisioterapeuta William Kvieskas costuma trabalhar com mais frequência em atividade preventivas com o elenco. “Quando pensamos em prevenção de lesões, pensamos em não lesionar. Mas a prevenção está inclusa no aspecto de que as lesões [que venham a ser sofridas] passem a ser mais leves, e isto é extremamente importante.”
Em lesões mais graves como as que sofreram Crislan e Ianson durante o Campeonato Catarinense, Kvieskas começa o tratamento com trabalhos de analgesia, que variam conforme o caso e a dor a ser diminuída. A partir de então, começam a reabilitação, com exercícios específicos nas partes aeróbica e de força.
Depois, começa a chamada transição clínica, com trabalhos de campo comandados pelo fisioterapeuta. “O objetivo é liberar o atleta apto para todos os gestos biomecânicos da preparação física e técnica”, explica. Nesta última parte do tratamento, há também atividades específicas com bola, para que o jogador execute os movimentos necessários do jogo sem problemas clínicos.
Médicos, fisioterapeutas e preparadores físicos podem trabalhar em conjunto para prevenir lesões musculares. Traumas como torções, fraturas e rupturas são mais suscetíveis ao acaso e aos acidentes dentro do jogo.
O preparador físico George Castilhos afirma que esta equipe multidisciplinar, junto às empresas parceiras e aos investimentos da diretoria, tem conseguido recuperar bem os jogadores e prevenido lesões para que quase todo o elenco esteja à disposição do técnico Luan Carlos.
No papel da preparação física, está o controle da carga de treinos, considerando momentos de cansaço, fadiga e exercício. Os atletas são monitorados individualmente e têm treinamentos físicos sob medida.
“O Lamil [Valêncio, preparador] complementa muito bem e tem muito mérito nesta parte preventiva, nos pré-treinos, academia. Há também toda a parte de alimentação e suplementação, a diretoria atende aos pedidos”, comenta, creditando também o trabalho dos massagistas Gominho e Almeidinha na recuperação dos treinos e jogos.
Após a liberação do departamento médico e da fisioterapia, um atleta em recuperação de lesão inicia a transição junto aos preparadores físicos. Somente após esta transição o jogador está liberado para os trabalhos normais da comissão técnica.
“Tem que vez se o atleta está bem fisicamente para suportar o jogo. Trabalhamos prevenção, fortalecimento, condicionamento físico. No final da transição, dividimos condicionamento físico com trabalhos com bola do treinador. E quando há a liberação ainda é necessário uma ou duas semanas com bola, sem limitações, para adquirir o ritmo de jogo”, explica.
E no cotidiano, há sempre os pareceres do próprio jogador, que são fundamentais na preparação física e nas recuperações de lesões, treinos e jogos. Os atletas colaboram respondendo, sinceramente, questionários antes e depois dos treinos, com perguntas sobre temas como dores, cansaço, esforço e sono.
Com o auxílio dos aparatos que o clube tem à disposição hoje, toda a comissão técnica do Brusque consegue obter relatórios diários de treinos de cada jogador. Há dados como quilometragem percorrida, frequência cardíaca, metragem dos sprints (arrancadas), quantidade de sprints superiores a 24 km/h, entre outros, que ajudam nas avaliações e escolhas.
Na coletiva de imprensa após a vitória do Brusque por 1 a 0 sobre o Tombense, o técnico Luan Carlos comentou que George Castilhos pedia para que ele não colocasse o atacante Crislan já no início do segundo tempo. Isto porque, de acordo com o preparador físico, o jogador ainda não estava apto para jogar um tempo inteiro. Mas quando o gol quadricolor foi marcado por Álvaro, o treinador desistiu de acionar Crislan e preferiu ter outra estratégia.
Esta “disputa” entre treinador e preparação física é comum. Castilhos afirma que Luan Carlos tem respeitado as visões dos funcionários envolvidos no processo. “As pessoas, às vezes, não entendem por que um atleta está no banco e outro não, por exemplo. Na volta, ele é determinado a voltar por certos minutos: 30, 20 minutos. Às vezes está o jogo, o treinador precisa colocar, a torcida pressiona, mas já está determinado que ele não pode fazer mais de 30. Ultrapassar o tempo é aumentar o risco de lesão. Tem que ser gradativamente.”
Contudo, também é comum que, por necessidade, todos concordem em antecipar etapas. Na terceira rodada, contra o Sampaio Corrêa, o meia Álvaro, então estreante, entrou no intervalo, mas sofreu uma lesão e não aguentou até o fim do jogo. Conforme relata Castilhos, o episódio serviu para que fisioterapia e preparação física redobrasse o cuidado com atletas recém-chegados. Em modo ideal, um jogador contratado recentemente levaria entre duas e três semanas para entrar em campo.
“Às vezes a necessidade faz você quebrar protocolos. Sempre que você quebra o protocolo, você está exposto ao risco da lesão”, explica o preparador físico.
Agora, um dos jogadores recém-recuperados que o tecnico Luan Carlos mais quer utilizar em sua equipe é Fernandinho. O médico Lucas Bremm elogia a recuperação do atacante. Com uma lesão no joelho sofrida em 30 de abril, a expectativa é de que ele desfalcasse a equipe por pelo menos 60 dias. No entanto, já jogou contra o Criciúma na sexta-feira, 17.
“Ele já estava pulando e correndo entre a terceira e a quarta semana. Não víamos motivos para segurá-lo por mais tempo, sendo que ele estava bem e o time estava precisando dele. Estava tudo certinho, a preparação física deu uma intensificada e ele voltou. Falta ainda ritmo de jogo, devagarinho ele vai recuperando e ficando 100%.”
Enquanto isso, Castilhos avalia a situação de Fernandinho e vai estipulando uma quantidade de tempo ideal para o atleta jogar, até que esteja em sua plena forma.
“O maior erro de planejamento seria o jogador voltar em 15 ou 30 dias com a mesma lesão. Pode não ter nada a ver, mas pode ser um erro de cálculo. Sou muito criterioso com isso, e a comissão técnica vem respeitando.”
William Kvieskas afirma prontamente que o maior desafio do departamento médico do Brusque em 2022 foi Crislan. O atacante sofreu uma grave lesão num treino: uma avulsão do tendão do músculo adutor da coxa. É quando o tendão é “arrancado” do osso púbico.
A lesão foi sofrida em 1º de fevereiro, na véspera do clássico diante do Marcílio Dias. Crislan havia cumprido suspensão na rodada anterior e poderia jogar. No entanto, no último lance do treino, na tentativa de um chute cruzado, ocorreu a avulsão.
“Ele foi melhorando lentamente, e quando voltou a treinar, rasgou de novo em um chute que havia dado. E aí ele voltou à estaca zero. Uma intervenção cirúrgica foi cogitada, mas decidimos segurar um pouco”, comenta Lucas Bremm.
Conforme relatam Bremm e Kvieskas, Crislan ficou com o moral bastante abalado por não estar conseguindo jogar e por ter regredido em sua recuperação. Depois, quando o atacante estava retornando, foi diagnosticado com dengue. Ainda assim, ele pôde voltar a jogar e marcou o gol da vitória sobre o Criciúma na sexta-feira, 17.
“Este gol foi muito importante para ele ganhar confiança. Acho que agora tem tudo para deslanchar”, comenta Bremm.
“Para nós do departamento médico, e principalmente para o atleta, foi uma grande vitória”, completa Kvieskas.
O jogador que está há mais tempo sem jogar no elenco do Brusque é Gabriel Taliari. Em 17 de julho, o meia sofreu uma ruptura do ligamento cruzado anterior e o menisco do joelho direito.
Taliari passou por cirurgia e foi submetido a 10 meses de tratamento e recuperação na fisioterapia. Depois, passou a trabalhar com a preparação fisica por mais três semanas, dividindo exercícios de fortalecimento físico e trabalhos com bola.
Na última semana, o jogador foi, enfim, liberado para os treinos normais. De acordo com a estimativa de George Castilhos, é possível que na partida diante do Novorizontino, em 6 de julho, Taliari comece a figurar no banco, se esta for a opção do técnico.
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