Do outro lado do balcão
Sem deixar de frequentar a escola, com quatorze anos, comecei a trabalhar atrás do balcão, ajudando meu pai no comércio de secos e molhados, como se dizia naquela época. Primeiro em Tijucas, minha terra natal. Depois no Estreito, bairro da capital do Estado. Era daqueles armazéns em que de tudo um pouco se vendia: do feijão, arroz, farinha, carne seca, linguiça, bebidas e enlatados, à lenha seca e cachaça.
Tempo em que o fogão a gás ainda não adentrara as cozinhas da maior parte dos lares brasileiros, armazém que se prezasse precisava vender a lenha seca em achas para o fogo do café da manhã, do almoço e da ceia de cada dia.
Nossa venda tinha ares de bodega e a bebida nacional, a cachaça, era servida em copo sobre o balcão feito mesa para os pinguços da casa. Felizmente, não eram muitos, pois não era fácil aturar freguês de copo na mão, de conversa repetida e despesa pouca nem sempre paga à vista, porque alguns compravam fiado para pagar no fim do mês.
Apesar da chatice, coisas interessantes sobre o drama da existência humana aprendi, ouvindo as conversas daqueles ébrios da confraria do copo de pinga da nossa venda. Afinal, estimulante que é, o álcool turbina a mente humana, inflama corações e, como se sabe, boca de bêbado não tem tramela.
O tempo passou. Aqueles armazéns, mercearias e vendas foram fechando as portas, perdendo seus fregueses para os supermercados, essa moderna máquina de venda a varejo em que o freguês é quem pega o produto, põe na cesta ou no carrinho e vai pagar à vista no caixa.
No entanto, o balconista ainda tem o seu lugar atrás de um balcão. A verdade é que alguns tipos de mercadoria não podem dispensar a presença de um profissional qualificado para a sua comercialização. Penso que o comércio varejista de confecções, calçados, materiais de construção, ferragens, eletrodomésticos e outros dificilmente funcionaria adequadamente se o consumidor não pudesse contar com a orientação correta de um solícito balconista.
Imaginem entrar numa loja de calçados para comprar um tênis ou então numa casa de ferragens para comprar uma fechadura e não contar com o atendimento gentil de um simpático ou simpática balconista, profissional que nem sempre lembramos de valorizar.
A este profissional, que hoje comemora o seu dia, dedico esta minha crônica. E porque não é funcionário público, estará trabalhando atrás de um balcão.