Alice tem 24 anos e está começando sua carreira profissional como farmacêutica, seis meses atrás foi acometida por tonturas, desequilíbrio e dificuldades para caminhar, os sintomas apareceram subitamente e desapareceram em duas semanas. Dois meses depois acordou com dificuldades para enxergar com o olho direito, após dois dias tinha perdido 80% da visão desse olho, os exames confirmaram que era portadora de Esclerose Múltipla (EM), doença neurológica que se caracteriza porque os próprios anticorpos da pessoa atacam o sistema nervoso central, é portanto considerada uma doença autoimune.

Os anticorpos atacam principalmente a mielina que é uma sustância que recobre todos nossos nervos. A bainha de mielina é necessária para que a condução dos impulsos elétricos através dos nervos seja feita em alta velocidade.

Nas áreas afetadas há um processo inflamatório, cicatrização e até perda neuronal.
Não sabemos a causa que origina essa cascata de eventos, embora existam algumas hipóteses.

Os sintomas começam geralmente entre os 20 e 40 anos de vida e é três vezes mais frequente em mulheres do que em homens.

Estima-se que no Brasil existam entre 15 a 30 casos de Esclerose Múltipla para cada 100 mil habitantes.

Nas últimas décadas, tem aumentado consideravelmente a prevalência da EM e não somente porque existam melhores métodos diagnósticos, parece ser que fatores associados ao estilo de vida ajudam para o aparecimento da doença nas pessoas que já têm uma predisposição genética.

Os fatores de risco bem conhecidos para EM são o tabagismo, a deficiência de vitamina D e a exposição ao vírus Epstein-Barr (EBV) após a primeira infância.
Alguns estudos também constataram que níveis altos de sódio na dieta podem ativar o processo autoimune e explicar o aumento progressivo do número de casos.

Na forma mais típica de Esclerose Múltipla os sintomas neurológicos aparecem de forma súbita em forma de surtos, os sintomas podem ser motores tipo perda de força num membro, sensitivos tipo dormências e formigamentos, alteração da visão, do equilíbrio, tonturas, etc.

Tudo depende da região do cérebro ou da medula espinhal acometida.
Geralmente nas semanas ou meses seguintes há uma recuperação dos déficits neurológicos porém muitas vezes a recuperação não é completa.

Esta forma de EM que é conhecida como remitente-recorrente não tem uma periodicidade para o aparecimento dos surtos, em casos severos pode haver muitos surtos num período curto de tempo e há casos em que os surtos podem demorar anos para se repetir. A imprevisibilidade do quadro clínico é também um fator que provoca ansiedade e estresse nos pacientes.

Ao redor de 50% dos pacientes com EM desenvolvem depressão, isto aumenta muito a fadiga generalizada que acomete a maioria dos portadores desta doença.

O exame de ressonância magnética do encéfalo e medula espinhal é o mais importante para o diagnóstico, mesmo assim ele sozinho não fecha o diagnóstico.

Além do quadro clínico é necessário excluir a possibilidade de outras doenças. Com frequência são necessários exames específicos do líquido cefalorraquidiano.

Nas duas últimas décadas surgiram vários medicamentos que reduzem a frequência dos surtos e dessa forma diminuem de forma significativa a evolução natural da EM, a grande maioria destes medicamentos encontram-se a disposição no SUS.

O tratamento dos surtos deve ser feito da forma mais rápida possível para atenuar os sintomas e diminuir as chances de sequela.

O acompanhamento fisioterápico é de muita utilidade para a maioria dos pacientes. A prática de atividade física sob a supervisão de um profissional da área.

O dia 30 de agosto é considerado o Dia Nacional da Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, o mês de agosto é chamado de Agosto Laranja pra dar uma visibilidade à doença e alertar para seus impactos na vida de pacientes e familiares.

Ao longo da história, além dos anônimos, muitas personalidades têm convivido com esta doença, a maioria deles superaram as dificuldades e foram pessoas produtivas, um deles foi o genial Santos Dumont que deixou um legado mesmo numa época em que não existia nenhum tratamento eficaz contra Esclerose Múltipla.

Nossa paciente Alice passa bem, tem se recuperado totalmente de ambos os surtos, pratica pilates e ciclismo, continua trabalhando e planeja se casar e ter um filho no próximo ano.