Considerado um dos principais compositores eruditos brasileiros vivos, Edino Krieger, de 85 anos, completados em março, continua em atividade. Natural de Brusque, Krieger foi para o Rio de Janeiro aos 14 anos, com uma bolsa de estudos do governo estadual e entrou para o Conservatório Brasileiro de Música, onde se aperfeiçoou no violino.
Em 1945, ganhou o prêmio Música Viva e passou a se envolver com a música dodecafônica ao lado de compositors de vanguarda como Hans-Joachim Koellreutter, Claudio Santoro, Guerra Peixe e Eunice Catunda. Foi crítico musical da Tribuna da Imprensa na década de 50 e trabalhou na Rádio MEC. Ele presidiu a Fundação Nacional de Arte (Funarte), o Museu da Imagem e do Som e A Academia Brasileira de Música.
Krieger foi responsável pela criação das bienais de Música Brasileira Contemporânea, com o objetivo de incentivar jovens compositores, evento que completa 40 anos em 2013. Em entrevista à Agência Brasil, Edino Krieger fala das homenagens que tem recebido este ano e o legado de sua obra.
Este ano o senhor tem vários motivos para comemorar os seus 85 anos de idade e os 40 anos da Bienal de Música Brasileira Contemporânea. O senhor recebeu homenagens da Orquestra Sinfônica de Curitiba e da Orquestra Petrobras Sinfônica, além do Sonora Brasil do Sesc (Serviço Social do Comércio). Como está vivendo este momento de sua vida?
Edino Krieger – A gente resiste a tudo, né, a gente finge que o tempo não passa, mas comemora o que tiver para comemorar, claro.
O que o senhor acha da homenagem que o Sonora Brasil está fazendo para a sua obra?
Krieger – Eu acho isso um privilégio. Quer dizer, evidentemente que o compositor brasileiro vai ser sempre um tema. Eu acho muito significativo, que um projeto prestigie o compositor brasileiro nas suas várias vertentes, a criação musical brasileira como um todo. Mas eu me sinto muito honrado, porque eu, durante muito tempo, por 50 anos, trabalhei em favor dos outros compositores, com as bienais, enfim, todos os projetos que eu fiz foi para beneficiar os outros compositores. Agora, eu me sinto assim um pouco privilegiado em ser o objeto de atenção desse projeto do Sesc, que é um projeto muito importante, o projeto de circulação mais importante do Brasil e das Américas, certamente.
Já que estamos falando do Sonora Brasil, qual a importância desse projeto? Seria levar a música de concerto, que normalmente fica restrita às capitais, para outras cidades?
Krieger – É, o problema do Brasil em matéria de difusão da cultura musical, sobretudo nessa área de música de concerto, é exatamente o problema da acessibilidade do público a esse tipo de repertório, porque é um pouco restrito àquelas capitais que dispõe de orquestras, que dispõem de salas de concerto e que são, ainda, em um país continental como o Brasil, em número muito inferior, digamos assim, ao que seria normal. Então, o Sesc está, digamos assim, cobrindo essa lacuna, eu acho, levando exatamente esse repertório àquelas populações, àquele público que não têm condições de assistir um concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro porque mora lá no interior do Pará, entende? Então, é um trabalho muito meritório, esse do Sesc. Eu digo que o Sesc hoje, na área da cultura, desenvolve uma atividade digna de um ministério e com uma visão muito louvável da valorização da cultura brasileira.
A Bienal de Música Brasileira Contemporânea completa 40 anos em 2013, e tudo começou com o senhor também.
Krieger – Olha, a bienal está crescendo, por incrível que pareça, as coisas no Brasil tendem sempre a minguar depois de um certo tempo, e a bienal, para minha surpresa e felicidade, ela está se desenvolvendo cada vez mais, crescendo em número de concertos, em número de participantes e no interesse geral dos intérpretes. Nas primeiras bienais era difícil encontrar grupos que estivessem interessados em fazer música contemporânea brasileira, e hoje não, hoje todos os intérpretes estão interessados em participar, é quase que uma obrigação, é quase como um título de honra participar das bienais de Música Brasileira Contemporânea. É um progresso muito grande, que as bienais estão representando nessa área da divulgação da música brasileira.
E para esta 20ª edição da bienal, em outubro, o que podemos esperar?
Krieger – Eu não sei da programação, eu participo como compositor convidado. Eu vou estrear uma peça para piano, Estudos Intervalares, que eu terminei no fim do ano passado, que vai ser estreada nesta bienal. Mas confio em que a programação tenha sempre o interesse que tem tido nos últimos tempos, participação de orquestras e de grupos de várias partes do país.
Fonte: Agência Brasil