Editorial: A odisseia do esgoto
Na edição desta sexta-feira, o jornal O Município publicou reportagem que detalha a proposta de estrutura tarifária que será cobrada dos contribuintes quando for implantado o serviço de coleta e tratamento de esgoto sanitário em Brusque.
A reportagem detalha os preços previstos, já considerando a inflação do período em que iniciarem os pagamentos, o que deve ocorrer somente daqui a alguns anos.
Recentemente, publicamos outra reportagem em que são detalhados os investimentos que devem ser feitos pela empresa concessionária, estimados na ordem de quase R$ 750 milhões a serem investidos ao longo dos anos.
Essas notícias representam mais um passo em direção à busca pelo saneamento básico, em uma conjuntura de pelo menos três décadas de tentativas infrutíferas de implantação do esgotamento sanitário.
A primeira delas ocorreu em 1993, quando o município foi contemplado com recursos federais para implantação de redes, durante o governo Danilo Moritz. A instalação das redes, no entanto, já havia iniciado anteriormente, na gestão Ciro Roza, que havia licitado o serviço antes mesmo de haver o financiamento federal.
Na prática, as redes instaladas não serviram para nada, pois não havia ligação entre elas, que deveria ser feita por redes-tronco, as quais ficaram para a gestão seguinte, de Hylário Zen, mas nunca saíram do papel.
Posteriormente, em 2015, na gestão interina de Roberto Prudêncio Neto, foi lançado um procedimento para receber propostas de empresas interessadas. No entanto, o município vivia grande instabilidade política, e Prudêncio logo foi substituído por Bóca Cunha, que governou por apenas seis meses e não deu continuidade ao projeto. Fora isso, o tema não ganhou destaque em nenhum outro governo.
Agora, novamente, a proposta volta à mesa. Nesta segunda-feira, uma audiência pública será realizada para discutir o tema, um capítulo fundamental para dar prosseguimento ao processo.
Em relação ao esgotamento sanitário, todo mundo considera necessário e importante para melhorar as condições de saúde e do meio ambiente da cidade. Estamos no século 21 e continuamos despejando esgoto diretamente no rio.
Por outro lado, isso vai ter uma cobrança. E toda vez que se cogita a implantação de uma nova taxa, isso causa desconforto na população. Trata-se de uma medida impopular já que, além de criar um custo extra para o contribuinte, trará grandes intervenções e transtornos no trânsito.
Essa baixa popularidade da medida motivou em parte, ao longo da história, as interrupções no processo, que não podem se repetir neste momento.
Cabe ao gestor municipal equilibrar os interesses: de um lado a necessidade de realização do serviço e de que o financiamento seja sustentável. Por outro lado, terá que lidar com a insatisfação de quem terá que pagar a taxa mensal.
Esse ajuste de interesses demandará muita habilidade política, para que efetivamente possa ser implantação, e não seja mais uma vez engavetado, como ocorreu em outras ocasiões.