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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Editorial: As barreiras da barragem

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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Editorial: As barreiras da barragem

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Nesta semana, o jornal O Município publicou notícia de que o secretário de Defesa Civil de Santa Catarina, Mário Hildebrandt, anunciou que a barragem de Botuverá será restrita ao combate a cheias, e não mais multiúso. A intenção antes era que a estrutura servisse para outras finalidades, como geração de energia, abastecimento de água e fomento ao turismo.

Para além da questão da obra em si, cuja promessa se arrasta há pelo menos 12 anos, a construção da barragem suscita diversos questionamentos sobre os seus efeitos no entorno, ou seja, em Botuverá e cidades da região.

A primeira questão é a estrutura para atender aos trabalhadores, que junto aos seus familiares, são estimados em até 400 pessoas simultaneamente. A Prefeitura de Botuverá teme não ter capacidade de alocá-los adequadamente no município, fornecendo serviços como educação e saúde. No entanto, isso pode ser visto de duas formas. O prefeito de Botuverá vê esse acréscimo de população como uma ameaça, e justifica por causa do risco de sobrecarga dos serviços públicos.

Já o prefeito de Brusque, que ofereceu o bairro Dom Joaquim para receber os trabalhadores, vê o caso como uma oportunidade, porque essas pessoas podem continuar aqui após a construção da barragem, fornecendo mão de obra que está em falta na nossa região.

Em segundo lugar, há a questão da política de boa vizinhança envolvida no caso. A barragem será construída em Botuverá, mas seus efeitos serão sentidos sobretudo em Brusque e Itajaí, onde há de fato problemas com as cheias. Em Botuverá, há enxurradas pontuais, mas não há histórico de enchentes.

Dessa forma, a origem do problema está em um município, mas são outros que sofrem as consequências. E como consertar o problema se há divergências sobre a forma de fazê-lo? Essa é uma questão que está começando a se desenhar, pois até então todos eram favoráveis à construção da barragem, mas divergências já começam a surgir, inclusive publicamente.

Outro questionamento que surge é a questão ambiental. Agora, a intenção é de que a barragem seja seca, e só encha em episódios de enchente, sem supressão de vegetação. Surgem dúvidas sobre como ficarão os animais e a flora do local em casos de grande volume de chuva e enchimento rápido da barragem. Serão dizimados aleatoriamente se estiverem na área da barragem?

Se a barragem fosse permanentemente cheia, com o nível subindo e descendo de acordo com a necessidade do controle das enchentes, aparentemente haveria maior previsibilidade sobre seus efeitos na fauna e na flora, o que agora já não parece ser o caso.

Por último, cabe ressaltar a desinformação e as ilusões espalhadas sobre a barragem. Durante esta última década de negociações, idas e vindas no projeto, sempre se vendeu a ideia de que a barragem seria um atrativo econômico para Botuverá.

Foi vendida a ideia de que a barragem poderia ser explorada de forma turística, tanto a represa quanto seu entorno, com atrações aquáticas. Essa promessa quebrada cria instabilidade, em um projeto que demorou para ser assimilado pela população.

A imprevisibilidade na condução do processo também é um fator, pois quem sabe daqui a alguns meses a proposta não mude novamente, como já aconteceu diversas vezes ao longo dos anos.

Dessa forma, há diversas questões colaterais que estão no entorno da barragem. Para o processo evoluir sem percalços, é preciso que tudo seja debatido e colocado às claras, para que haja consenso, que permita o desenvolvimento do projeto sem conflitos.

 

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