Editorial: Motos que matam
As motocicletas, dentro do contexto do trânsito de Brusque, são um dos veículos mais utilizados no dia a dia, por inúmeras razões, mas sobretudo devido à economia de combustível e à maior agilidade, ao evitar os congestionamentos, que se tornam cada dia maiores na cidade.
Além disso, seu custo é muito inferior ao dos automóveis, tornando-se o veículo “de entrada” para grande parte da população. Dessa forma, sua relevância no trânsito do município se torna também maior a cada ano que passa.
Essa proliferação das motocicletas, no entanto, se reflete também em problemas. Conforme publicamos em reportagem nesta quinta-feira, o Corpo de Bombeiros de Brusque registrou um aumento no número de acidentes envolvendo motociclistas. Entre 2023 e 2024, houve um aumento de 34% nas ocorrências. Em 2025, Até 3 de junho de 2025, os bombeiros haviam atendido 212 ocorrências, uma média de 1,37 por dia.
Esse alto número de acidentes, evidentemente, se reflete também em mortes no trânsito, mas não só isso: os motociclistas estão expostos, e qualquer acidente gera lesões e sequelas muitas vezes graves.
Na semana passada, o programa Fantástico, da Globo, tratou sobre esse aspecto em reportagem: o elevado número de acidentes com motociclistas começa a colapsar o SUS, tendo em vista o aumento das internações, e a complexidade dos recursos envolvidos para cuidar dos acidentados. Tratar um simples acidente envolve ortopedistas, fisioterapeutas, eventualmente cirurgiões e outras especialidades.
Além disso, a recuperação é demorada, os trabalhadores são tirados de circulação por longo tempo, o que prejudica a economia e também o próprio cidadão, tendo em vista que poucos tem acesso a auxílios fornecidos pelo INSS, e quando há, geralmente são menores do que o salário até então recebido.
Com base neste cenário, começa-se a pensar em soluções. Aumentar as campanhas para conscientização no trânsito é um caminho. Tornar mais severas as punições para os responsáveis por acidentes também é algo que pode ser discutido. Estruturar melhor as vias urbanas de forma a aumentar a segurança dos motociclistas é outra opção viável.
Também é necessário envolver no debate as empresas que fabricam e comercializam as motocicletas, que usufruem do lucro, mas não tem nenhuma responsabilidade sobre o ônus do aumento da circulação dos veículos, que recai sobre o Estado.
Dessa forma, trata-se de um problema crescente em todo o país, que está se tornando crônico e não tem uma solução única e concreta. Brusque não foge à regra, e precisa iniciar um debate local sobre os riscos aos quais os motociclistas estão expostos em nosso trânsito. O que não pode acontecer é tudo ficar como está, pois vidas humanas estão em risco aqui e em todo o Brasil.