Dia
desses, assisti a um vídeo acerca do “Trivium”, e o palestrante chamava a
atenção sobre a diferença entre Educação e Ensino. A palestra foi proferida
pelo Professor José Monir Nasser, no lançamento da tradução do livro “Trivium”,
da Irmã Miriam Joseph, que compila muitas das experiências educacionais das
chamadas “artes liberais”, a Educação típica da Idade Média.

O
Ensino é uma espécie de divulgação de “saberes”, para fins de distribuição de
alguns direitos, independente do aprendizado efetivo. Educação é outra coisa.
Para haver Educação é necessário que o indivíduo se disponha a aprender, a
realizar em si o conhecimento, a partir das indicações do mestre. Quem quer se
educar quer ser melhor, e não apenas cumprir uma exigência curricular.

Nossos
sistemas de ensino se baseiam em ideias bastante duvidosas acerca do
conhecimento e do aprendizado, como a de que todos temos a mesma capacidade de
aprendizado e que podemos ensinar qualquer coisa a qualquer pessoa. Embora
contestada veementemente pela experiência, a ideia continua forte, porque
parece mais fácil tentar distorcer a realidade do que admitir que os teóricos
que admiramos talvez estejam simplesmente equivocados.

Foi
Comenius, no século XVI, que começou com a ideia de um Ensino para todos, de
modo igual, o que se tornou um dogma e fundamenta nossos sistemas de Ensino.
Antes dele, ninguém acreditava que se pudesse ensinar qualquer coisa a qualquer
pessoa. Platão já dizia que ensinar não é colocar nada na cabeça de ninguém,
mas tentar desenvolver o que já está na pessoa. Essa reflexão me levou a
folhear novamente o livro “O Profeta”, de Khalil Gibran. Conclamado a falar
sobre o tema, o Profeta afirma: “O professor que caminha na sombra do templo,
entre seus seguidores, não dá sua sabedoria, e sim sua fé e seu afeto. Se de
fato é sábio, ele não vos convida a adentrar a morada de sua sabedoria, mas em
vez disso, guia-vos ao limiar de vossa própria mente”.

Como
diz o Professor Nasser, não é possível fazer Educação sem liberdade, ou seja,
sem que o estudante, por si mesmo, vá ao encontro do conhecimento, e que haja
mestres que possam conduzi-lo “ao limiar de sua própria mente”.

Espaços
privilegiados de Educação são, por exemplo, os grupos de estudo, pois agregam
pessoas que querem ir além da exigência curricular (Ensino). A Educação pode
acontecer na sala de aula, mas não será sempre, nem para todos. Quando nos
debruçamos sobre a história, percebemos que a Educação acontecia de modo muito
mais veemente na Idade Média. Isso leva a crer que a “idade das trevas” talvez seja
a nossa.


Confira a palestra do Prof. José Monir Nasser

http://www.youtube.com/watch?v=nVpgvUQIYXo