EJA de Brusque completa 15 anos de ensino de jovens e adultos
Escola atua nas comunidades do município com turmas de alfabetização e anos finais do Ensino Fundamental
Escola atua nas comunidades do município com turmas de alfabetização e anos finais do Ensino Fundamental
Há 15 anos, a Escola de Educação de Jovens e Adultos (EJA) vem alfabetizando e colaborando com o ensino e aprendizagem em Brusque. Criada em 13 de setembro de 2003, a escola atua nas comunidades, com o objetivo de acolher e inserir jovens e adultos no ambiente escolar, para que finalizem o Ensino Fundamental.
Mantida pela Prefeitura de Brusque, através da Secretaria de Educação, tem sua sede na Arena Multiuso. Com uma proposta pedagógica especial, a EJA conta com a participação de professores que vão até as comunidades. As aulas acontecem de segunda a quinta nas escolas municipais dos bairros e, na sexta-feira, os alunos recebem tarefas para fazer em casa.
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Para a realização das aulas, são selecionados “pontos estratégicos” que atendam as comunidades. As turmas são formadas de acordo com a demanda de cada região do município e, no momento, há grupos de estudantes nos bairros Paquetá, Nova Brasília, Bateas, Steffen e outros.
Clair Felipim Kleemann, gestora escolar, acredita que o maior diferencial da escola é o respeito que se tem pela bagagem dos alunos e pelo ritmo de aprendizagem de cada um. A alfabetização e o ensino de adultos são processos diferentes da educação de crianças – daí a necessidade de uma proposta pedagógica adequada ao perfil dos alunos que procuram a EJA.
Os objetivos da alfabetização de adultos são, em especial, permitir o acesso à educação e a inserção social. A professora Gladis da Silva Vale dos Santos afirma que o principal motivo pelo qual os alunos da EJA procuram se alfabetizar ou finalizar o Ensino Fundamental é a influência do mercado de trabalho: “Eles percebem que voltar a estudar é uma necessidade, para voltarem a ser competitivos no mercado”.
Carla da Silva, de 37 anos, encontrou no mercado de trabalho o incentivo para voltar a estudar. “Na hora de buscar emprego, o mercado exige o Fundamental completo, e eu só tinha a 5ª série. E era difícil também ajudar a minha filha com as tarefas escolares dela.” Natural de São Paulo, Carla mora em Brusque há oito anos e frequenta a EJA no Paquetá. Para ela, a escola tem duas grandes vantagens: a rapidez com que se pode concluir o Fundamental, e as aulas no período noturno, que permitem e facilitam o trabalho durante o dia. Para depois da conclusão do curso, ela tem muitos planos: “Quero fazer uma faculdade e arrumar um emprego que me traga um salário melhor”.
É por conta dessa necessidade que o perfil dos estudantes da EJA mudou nos últimos dois anos. Hoje, a maior parte dos alunos são adultos que não tiveram a oportunidade de concluir os anos finais do Fundamental ou possuem histórico de abandono escolar. Antes do período da crise, ao que Clair e Gladis creditam esse retorno escolar dos adultos, a maioria dos estudantes eram jovens, pois Brusque possuía poucas escolas públicas que ofereciam o Ensino Fundamental completo.
Na EJA, podem estudar jovens a partir dos 15 anos de idade – e não há idade limite. “Já tivemos uma senhora de 92 anos no ciclo de alfabetização”, conta Clair. Ela cita Paulo Freire, educador e pedagogo que embasa o ensino de jovens e adultos no Brasil, quando afirma que “a educação é libertadora”. Desde o início das atividades de educação de jovens e adultos em Brusque, as pessoas procuram a alfabetização para realizar o sonho de aprender a ler, escrever, assinar o próprio nome.
Sonho realizado
Aos 56 anos, a costureira Maria Lenir Pedrini decidiu voltar à escola, e encontrou na EJA essa oportunidade. Ela ficou sabendo das atividades através do padre, que deu o recado no fim de uma missa. Moradora do Bateas, começou a frequentar as aulas em seu bairro, e teve muito apoio de sua filha nessa empreitada.
Foram três anos de aula – um no ciclo de alfabetização e dois para concluir os anos finais do Fundamental, do 6º ao 9º anos, aos quais os alunos dedicam um semestre para cada. “Com muito esforço e com muito orgulho, terminei. Eu sei o que aquele certificado significa na minha vida.”
Lenir começou a frequentar a escola aos nove anos de idade, quando ainda morava em Vidal Ramos. Nos dias de chuva, ia para a aula. Quando fazia sol, precisava ficar em casa, para ajudar a família na roça. “Eu ia a pé, era uma hora caminhando. Meu primeiro calçado eu ganhei na primeira comunhão, com dez anos. Ia descalça. Nos dias de frio, tinha que usar a saia do uniforme”, relembra.
No final de seu primeiro ano letivo, seu pai a tirou da escola, mas ela ganhou de um professor um livro didático que tinha os conteúdos da primeira à quarta série. Todos os dias, ela conta que lia um pouco, e tentava aprender sozinha. Porém, encontrava muita dificuldade, pois não completara o ciclo de alfabetização.
Quando passou a frequentar a EJA, sentiu-se mais confiante ao encontrar colegas que tinham a mesma idade que ela, conhecidas do bairro que também estavam se alfabetizando. Como coordenadora do clube de mães da comunidade, incentivou outras pessoas a participarem, e conseguiu formar uma turma de quase vinte alunos.
“Já me formei, mas, quando eu puder, quero ir de novo”, ri. Sua vontade de cursar novamente os anos finais do Ensino Fundamental vem do desejo de se aprofundar: “As aulas são rápidas, muitas vezes os professores precisam cobrir todo o conteúdo e não dá para a gente ir mais além”.
História
Oficialmente criada em 2003, a EJA completa 15 anos nesta quinta-feira, 13. Porém, ainda antes da instituição do serviço no município, a alfabetização de jovens e adultos já era realizada por meio de voluntariado e projetos governamentais.
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No período do voluntariado, professores e pessoas da comunidade alfabetizavam adultos em espaços cedidos por igrejas, escolas e centros comunitários. Nessa época, as pessoas procuravam aprender a escrever para poderem assinar seus nomes nas folhas de pagamento e, quando aprendiam, não costumavam prosseguir nos estudos.
Mais tarde, começaram a ser realizados em Brusque projetos governamentais de alfabetização, voltados para pessoas de 15 a 35 anos. A aprendizagem também era encerrada após o ciclo de alfabetização. A partir de 1994, as atividades passaram a ser desenvolvidas nas escolas, integrando os alunos ao ambiente escolar. A gestora da EJA, Clair Kleemann, começou a se envolver com a educação de jovens e adultos ainda em 1995, como professora.
O segmento de ensino de jovens e adultos foi municipalizado em 2003, com a inserção da EJA pela prefeitura. Desde então, a escola fornece alfabetização e os anos finais do Ensino Fundamental gratuitos para quem não teve a oportunidade de concluir essa etapa. Além do ensino, a escola desenvolve também projetos nas comunidades onde atua, a fim de envolver ainda mais os estudantes com as atividades da EJA.