Entre desafios e mudanças, Livraria e Papelaria Graf completa 90 anos de história em Brusque

Anúncio no jornal O Rebate de 1934 foi o primeiro registro físico do empreendimento

Entre desafios e mudanças, Livraria e Papelaria Graf completa 90 anos de história em Brusque

Anúncio no jornal O Rebate de 1934 foi o primeiro registro físico do empreendimento

Além dos livros, materiais escolares e utensílios para artistas visuais, como pincéis e papéis importados, os visitantes da Livraria e Papelaria Graf, no Centro de Brusque, também encontram uma longa história de empreendedorismo. Trata-se de uma das empresas mais antigas em atividade no município, que acompanhou as transformações da cidade.

Fundada por Alvino Graf, a empresa completa 90 anos neste sábado, 3 de fevereiro, data do primeiro registro físico da livraria: um anúncio na edição de estreia do jornal O Rebate, fundado em 1934. Na época, a livraria funcionou com a tipografia que produzia o jornal, também de propriedade de Graf.

Em mãos com edições históricas do jornal, que circulou até 1962, o filho do fundador e atual proprietário da livraria, Eleutério Graf, conhecido como Telo, mostra o anúncio da Livraria e Papelaria Helios, como era chamada nos primeiros anos.

“Partimos desta data, pois temos o registro dela. Provavelmente, a livraria pode ter existido uns três ou quatro anos antes. Porque o jornal vem em decorrência da livraria. Como é um registro datável, definimos uma data de referência que conseguimos comprovar”, explica.

Primeiro registro da livraria em anúncio no jornal O Rebate, em 1934 / Foto: Arquivo pessoal

Telo aponta que, no final da década de 1960, a tipografia foi vendida. Atualmente, é a Gráfica Brusquense, parceira da Graf até hoje. “Continuamos com papelaria, também tínhamos distribuição. Fomos pioneiros em colocar outdoor na BR-101, vendendo papel e bobina fax, vinham caminhões cheios”, diz.

“Depois, fizemos a opção por varejo. Queremos atender o povo de Brusque com um padrão de qualidade, com diferencial. Temos muito critério com as nossas mercadorias, é um grande respeito ao cliente. Se não tivermos isso, perdemos isso”, continua.

Durante a história, o local também dividiu espaço com a Loja da Borracha, que contava com um telefone. Então, Alvino Graf comprou o empreendimento e, no pacote, a Graf ficou com o número da linha, o 1079. Hoje, o telefone permanece o mesmo, apenas com acréscimo de novos dígitos: 3351-1079.

Além de um prédio

Foto mostra fachada da loja no fim dos anos 50, com a Loja da Borracha em anexo | Foto: Arquivo pessoal

Desde 1944, o estabelecimento funciona no mesmo prédio na avenida Cônsul Carlos Renaux. Pelo local já passaram muitos clientes, que retornam com frequência em busca de produtos de qualidade.

Uma das clientes mais antigas da Livraria e Papelaria Graf é Catia Heinig, proprietária do Escritório Contábil Heinig, que atende o empreendimento por longos anos. Ela aponta que, na junta comercial, o primeiro registro da livraria foi em 1967. “Meu pai Zeno Heinig ia com a pastinha toda semana a Florianópolis, para fazer os registros. Em 1973, em outro documento, entrou o Telo como sócio”, detalha.

Luiz Antonello/O Município

Na infância, Catia sempre comprava material escolar com a mãe na Graf. “Quando a gente é pequena, olhamos para cima para ver as coisas no balcão. Eu lembro que olhava as coisas para cima, que era alto. Vinhamos direto e comprávamos tudo aqui. No escritório, também”, relembra.

Além da clientela, a equipe da Graf também é fiel. A empresa conta com funcionárias por longos anos, como Tania Regina Winter Bartelt, Daiane Samara Amorim e Rosemara Bertolini. Elas trabalham no estabelecimento há 38, 16 e 14 anos, respectivamente.

Centenário de Brusque

Reprodução

Alvino Graf faleceu em março de 1960, pouco antes do centenário de Brusque, comemorado em agosto daquele ano. Telo recorda que, após isso, a família precisou dar conta de todas as responsabilidades.

“O irmão mais velho tinha 18 anos e o mais novo tinha um. Então, a minha mãe [Bertha Scharf Graf] teve que se desdobrar com 11 filhos. Pensa na confusão, sem um rumo definido. Isso passou a ser um diferencial para nós: precisamos trabalhar”, relata.

Para o centenário, quando Telo tinha apenas 12 anos, o jornal O Rebate fez uma edição especial. “Eu imprimi ela sozinho e meus irmãos fizeram a composição, junto com mais dois funcionários. Eu não alcançava a máquina, tinha que colocar uma caixa de madeira e subir nela para controlar”, continua.

Para essa edição especial, os irmãos decidiram inovar. “Como a gente era criança, curiosos e metidos, como se diz, queríamos fazer um diferencial no jornal. 100 anos do município Brusque, resolvemos fazer um jornal colorido”, diz. Porém, colorido de uma forma diferente: “Coisa de moleque, imprimimos uma folha de cada cor. Um jornal colorido”, recorda Telo, rindo.

Aos 75 anos, Telo recorda de entregar edições do jornal O Rebate na infância | Foto: Luiz Antonello/O Município

Portanto, até os anos 1960, a Graf viveu intrinsecamente conectada ao jornal semanal O Rebate. Telo relembra que o periódico era ligado a União Democrática Nacional (UDN). Posteriormente, o jornal O Município foi lançado e era ligado ao Partido Social Democrático (PSD).

“Isso não quer dizer que havia conflitos, muito pelo contrário. Se comungavam com a mesma ideia, que era de construir a cidade. O jornal alavancou a livraria, mas nas edições encontramos anúncios de empresas que não existem mais”, detalha.

“Automaticamente, a livraria foi crescendo, minha mãe conseguiu fazer com que o negócio se alavancasse. A partir da hora que ela começou a dar espaço, fomos assumindo. Assumiu o meu irmão [Salvio Graf] que mora em Blumenau, depois eu assumi. Saí da parte gráfica e vim para a parte comercial, estou aqui até hoje”, completa Telo.

Luta contra a inflação

Luiz Antonello/O Município

Ao longo de nove décadas, a empresa passou por transformações. Porém, o que se destaca é o espírito empreendedor da família, que venceu todos os desafios.

Na década de 1990, a Livraria e Papelaria Graf enfrentou os diversos planos econômicos do Brasil. Em certos momentos, a empresa encarou o desafio da inflação de 20% a 30% ao mês, o que dificultava o fechamento das contas.

Sem uma máquina adequada, muitos estabelecimentos não conseguiram bater as pautas de preço. Então, muitos fecharam as portas. “Naquela época, ainda não existia uma máquina que dividia. Existia uma da Olivetti, a Divisumma, ou a Facit. Não existia computador”, ressalta Telo.

Até que, em um dia, apareceu um representante da Pilot, um japonês chamado Osawa, segundo o empresário. “Ele ofereceu uma máquina que dividia da Panasonic, fazia as quatro operações, uma maquininha cara, mas que deu lucro. Caiu do céu, dava para recalcular os custos, quem não fez isso quebrou”, relembra.

Enchente de 1984

Livraria e Papelaria Graf após a enchente | Foto: Zézio Graf/Reprodução

Entre os desafios, Telo destaca a enchente de 1984, que marcou a memória dos moradores de Brusque. “A economia brusquense sempre teve uma dinâmica muito boa. O brusquense sempre aplicava dinheiro em Balneário Camboriú. Quando veio a grande enchente, ela pegou todo mundo, pois a água foi linear. Não escapou ninguém. Foi necessária uma injeção de capital para reerguer a cidade, e o dinheiro investido em Balneário retornou para Brusque”, relembra.

O empresário recorda que a falta de experiência com casos assim contribuiu para o prejuízo. “Levantávamos nas prateleiras, que eram de madeira. Não fazíamos ideia do volume da água. Quando chegou a 1,5 metro, aqui entrou 2,2 metros, as prateleiras boiaram e tombaram, e todas as mercadorias caíram na água. Todo o trabalho foi em vão”, conta.

Catia relembra que seu pai era vice-prefeito na época, junto ao prefeito José Celso Bonatelli. “A enchente deixou todos sem ação, não tínhamos mais estrutura, não tínhamos água, era muito lodo. Todos precisavam de atenção da prefeitura. Depois, foi feita a Fenarreco”, complementa.

Após a pandemia

Divulgação

A pandemia da Covid-19 também foi um divisor de águas para a Livraria e Papelaria Graf. Telo explica que, com o nível de informatização que já existia, a empresa conseguiu contornar os prejuízos.

“Comercialmente, foi um período que balançou o fluxo de caixa e a balança de venda. Como retornar? Não tínhamos a opção de retorno. As pessoas estavam em casa e precisavam fazer alguma coisa”, relembra.

Neste cenário de isolamento social, a Graf decidiu investir em arte. Telo ressalta que a empresa passou a explorar o elemento artístico dentro de cada um: passaram a vender telas de diferentes formas, tinta aquarela, pincéis, lápis diversos, cadernos de desenho.

“São questões que exploram as habilidades manuais. As pessoas estavam em casa e passaram a buscar e descobrir sua exposição artística”, diz. “Então, o mix de produto mudou, não estávamos mais só vendendo cadernos, borrachas e materiais de escritório”, conta.

Deu tão certo, que pessoas que iniciaram a pintar durante a pandemia, já começaram a expor no espaço cultural da Graf, que fica no piso superior da livraria. Entre os eventos mais populares realizados no local está a contação de histórias, que já antes da pandemia reunia um grande número de crianças.

Contudo, Telo destaca a felicidade em ver novos artistas expondo obras no espaço. “É gratificante ver isso. Agora, a curva mudou um pouco, porque as pessoas já têm outras atividades. Então, nós temos que voltar a ser criativos para continuarmos”, aponta.

Hoje, ao falar das crises no setor literário, Telo pondera que em dezembro de 2023 a Graf teve um crescimento de mais de 12% em venda de livros físicos. “É algo paradoxal, com Kindle e tudo mais. É interessante, pelo fato de que o costume de manusear o livro não se perdeu”, finaliza.


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