Segundo o presidente do comitê revisor do Plano Municipal de Saneamento, Juliano Montibeller, a falta de tratamento de esgoto em Brusque não causa problemas ao abastecimento de água pelo Samae.

Ele explica que, por se tratar de matéria orgânica, é facilmente tratável pelo sistema da autarquia, diferente do efluente industrial, que é mais complicado ser retirado da água.

Como a maior parte do esgoto fica em ponto abaixo da captação do Samae, o que existe na água captada pela autarquia para tratamento é em pequena quantidade, e não chega a causar problemas no abastecimento.

Entretanto, a situação não é a mesma em Itajaí, cidade vizinha onde o rio Itajaí-Mirim desemboca e, portanto, que recebe os resíduos vindos de outras cidades, sobretudo Brusque.

O jornal O Município consultou o Serviço Municipal de Água, Saneamento Básico e Infraestrutura (Semasa), autarquia que cuida da captação de água em Itajaí, para saber se existem problemas causados pela falta de tratamento do esgoto sanitário em Brusque, e a resposta foi positiva.

Por meio da assessoria de comunicação, profissionais do setor técnico da empresa informaram o esgoto que desemboca no rio em Itajaí dificulta bastante o tratamento da água no município vizinho.

Segundo os engenheiros, há oportunidades em que as operações têm de ser paralisadas devido ao alto índice de matéria orgânica na água do rio.

Além disso, a matéria orgânica provoca, segundo os técnicos da Semasa, aumento significativo da quantidade de algas no rio, o que por sua vez afeta o equilíbrio da quantidade de oxigênio no rio, e afeta a fauna e a flora local.

E também porque o lançamento em grande quantidade de efluentes não tratados no rio provocam desequilíbrio no ecossistema aquático. O esgoto doméstico consome oxigênio em seu processo de decomposição, e causa a mortalidade de peixes.

Esgoto não tratado causa risco de contaminação por doenças | Arquivo O Município

O Município procurou a Fundação do Meio Ambiente de Brusque (Fundema) para saber que tipo de monitoramento é feito em relação ao esgoto sanitário na cidade, mas o superintendente do órgão, Cristiano Olinger, informou que não há ações relacionadas a isso realizadas no órgão, e que a fiscalização sobre problemas relacionados ao tratamento do esgoto é feita pela Vigilância Sanitária. 

Em Brusque, para minimizar o problema de contaminação, a prefeitura obriga, desde 1995, que as residências tenham sistema de fossa séptica e filtro. Pedro Testoni, coordenador de Saneamento da Vigilância Sanitária de Brusque, explica que o órgão acompanha cada uma das instalações, de modo que ela seja feita corretamente.

Segundo o coordenador, o sistema segura o resíduo grosso, e libera apenas a parte líquida, tendo eficácia de 60% a 70%, apesar de não ser o ideal, que seria a estação de tratamento.

Ele não soube informar qual a cobertura do sistema em Brusque, mas afirma que, há mais de 20 anos, nenhum projeto de novo imóvel é aprovado sem o equipamento instalado.

A medida ajuda a minimizar a possibilidade de problemas de saúde relacionados ao esgoto, já que os dejetos despejados diretamente no solo favorecem a proliferação de baratas, ratos e outros animais que são fontes de contaminação.

Segundo a Vigilância, o saneamento inadequado cria condições para o desencadeamento de doenças como dengue, febre tifóide, diarréias e desinterias.

O Instituto Trata Brasil, organização da sociedade civil de interesse público, publicou nos últimos anos estudos que relacionaram a abrangência do serviço de esgotamento sanitário ao número de internações por diarréia, por exemplo, proporcionalmente menor em cidades com maior cobertura de redes coletoras.

Em Brusque, há tempos que se discute a necessidade de iniciar o processo, também para melhorar as condições ambientais do rio Itajaí-Mirim, outrora local onde a pescaria era bem sucedida.

Em audiência pública na Câmara, no ano passado, técnicos da área ambiental, entre eles o engenheiro ambiental Diego Furtado, que por anos dirigiu a Fundação do Meio Ambiente de Brusque (Fundema), alertaram para o fato de que todo o esgoto sanitário é descartado no rio e em afluentes e que, com a diminuição do nível das águas do Itajaí-Mirim ao longo dos anos, o esgoto está cada vez será mais presente na água, e difícil de ser diluído.

Os alertas, no entanto, não tem servido a apressar o processo de implantação do tratamento de esgoto.