Foi no dia 27 de novembro, próximo do meio-dia, que a família de dona Hilda Schmitt de Amorim, 93 anos, recebeu a notícia que ninguém queria ouvir. Após 15 dias internada no Hospital Azambuja, a idosa – mãe de seis filhos, avó de 14 netos, 18 bisnetos e uma trineta – perdeu a batalha para a Covid-19.

Ela é uma das 199 vítimas fatais da pandemia em Brusque, Guabiruba e Botuverá. Passados quase quatro meses de sua partida, a dor da perda da matriarca da família ainda é muito presente.

Dona ‘Hilda com H, Schmitt com dois T e Amorim com M de Maria’ – como sempre costumava dizer – era natural de Major Gercino, mas desde os anos 1950 morava em Brusque. Ela foi uma das moradoras mais antigas da rua Bulcão Viana, mas nos últimos cinco anos, morava com a filha no Centro devido a idade avançada.

Muito religiosa, ela era frequentadora assídua do Santuário Nossa Senhora de Azambuja. Tinha o hábito de visitar pessoas acamadas e doentes. Era também integrante do Cursilho e frequentava o grupo de idosos do Jardim Maluche.

Dona Hilda faleceu após 15 dias internada| Foto: Arquivo pessoal

Mônica Amorim, nora de dona Hilda, conta que a idosa começou a se sentir mal no dia 12 de novembro, com muito cansaço, mas devido à idade avançada, esse era um sintoma frequente em dona Hilda.

No dia seguinte, ela permanecia indisposta. Mônica chamou o laboratório para fazer o teste de Covid-19 na idosa. Duas horas depois, veio o resultado positivo. A família então, entrou em contato com o médico Mário Bergamaschi, para pedir orientação sobre como proceder. “Ele entrou em contato com a Secretaria de Saúde, que mandou uma ambulância para levá-la ao hospital”.

Já no hospital, Mônica chegou a entrar com a sogra, mas depois precisou sair, pois ela iria para a área de isolamento. A idosa tinha diversas comorbidades, que favoreceram as complicações da doença nos dias seguintes. “Ela entrou lúcida, falando. Queria saber porque a gente não podia ficar junto com ela, mas entendeu”.

Nos primeiros dias, dona Hilda ficou isolada no quarto, respondendo bem ao tratamento. Depois, foi necessário levá-la à UTI, onde ficou no respirador. Ela apresentou melhora e voltou para o quarto. Nesse período, os médicos permitiram a visita de um dos filhos, pois ele já havia se curado da doença. “Ela chamava muito pelos filhos. Meu cunhado ficou com ela lá no sábado, mas à noite ela teve um AVC e foi levada para a UTI, foi intubada porque não respondia mais”.

Mesmo com a situação se agravando, a família não perdia a esperança de ver a matriarca recuperada e de volta em casa. “Foi muito complicado, porque estávamos seguros que ela se recuperaria porque ela passou por outras coisas e deu a volta por cima. Você não imagina que vai acontecer contigo. Os filhos estavam muito abalados, mas tínhamos esperança que fosse se recuperar”, conta.

Dias depois, a família foi comunicada pelos médicos de que dona Hilda teve morte encefálica. Neste dia, os médicos permitiram que Mônica e um dos filhos, Sérgio, entrassem na UTI para se despedir.

“Ver uma pessoa entubada, inerte, é feio. Foi bem tenso. Para o filho dela foi um abalo emocional grande, mas conversamos com ela, falamos tudo. Os médicos permitiram que a gente se despedisse, foi muito importante para nós. A pessoa pode ter 150 anos, que a gente não quer perder”.

Agora, restam as boas lembranças de uma vida dedicada à família, o legado de muito amor e um coração de grande fé. “Eu acho importante falarmos sobre isso, para que as pessoas tenham consciência. Tem um ser humano aí, não é um número. É a vida, a história de uma família inteira”.

“Em poucos dias seu pulmão foi devastado por esse vírus”

O sentimento da família de dona Hilda se repete em centenas de lares na região e milhares pelo Brasil. Para os familiares de dona Edith Werner Goedert, 83 anos, ainda é difícil de assimilar sua partida. Ela perdeu a luta para a Covid-19 há pouco mais de um mês, no dia 4 de fevereiro.

Nascida em Brusque, dona Edith passou sua infância na rua Santos Dumont, no bairro Santa Terezinha e sempre morou no bairro. Aos 17 anos, casou-se com Nelito Goedert. Eles ficaram casados por 61 anos, até ele falecer em 2015. O casal teve seis filhos, 10 netos e 13 bisnetos.

A matriarca era a grande inspiração dos filhos. “Foi uma guerreira, empreendedora. Nos ensinou a termos garra e não desistir jamais. Ensinou que quando realizamos as coisas com amor, vontade, tudo fica mais fácil”, destaca uma das filhas, Elizabeti Goedert Schvambach.

Dona Edith faleceu após 36 dias de internação| Foto: Arquivo pessoal

A filha conta que dona Edith começou a se sentir mal no dia 25 de dezembro. Ela estava indisposta e reclamou de dores no corpo. No dia 26, ela foi até uma farmácia fazer o teste, que deu positivo. Como o Centro de Triagem já estava fechado quando recebeu o resultado do exame, ela foi levada para o Hospital Azambuja. Foi consultada, fez os exames e recebeu a orientação de realizar o tratamento em casa.

“Ela passou aparentemente bem até o dia 29 de dezembro quando a febre se intensificou. Levei novamente ao hospital e já ficou internada”.

Dona Edith foi direto à UTI e dias depois foi intubada. Ela ficou internada até o dia 4 de fevereiro, quando não resistiu e faleceu por complicações de outras bactérias devido a sua imunidade baixa.

“Foi muito doloroso para todos. Não imaginávamos que esse vírus chegasse em nossa casa e tirasse ela tão rápido de nossas vidas. Em poucos dias seu pulmão foi devastado por esse vírus”.

Elizabeti conta que mesmo com o estado grave da mãe, havia dias de esperança que ela venceria e voltaria para casa e para o aconchego da família. “Recebíamos boletim diário do hospital falando de sua luta pela vida. Nos enchia de esperança, porém, com a imunidade baixa contraiu uma bactéria que ceifou sua vida, após 36 dias”.

Elizabeti e toda a família ainda estão muito abalados com a perda da mãe, avó e bisavó amorosa. “É muito triste tudo isso. É indescritível a sensação. Descrever o que esse vírus faz com a vida das pessoas que morrem e com as que ficam aqui. Nos deixam marcas profundas. Lamento não ter a mãe aqui para ter o privilégio de tomar a vacina. A vacina é nossa única esperança”, diz.


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