Felicidade e sentido da vida
Domingo passado, a Igreja Católica celebrou a Solenidade de Todos os Santos. Santo ou santa é um ser humano, como qualquer um, que aceitou o chamado de Deus a partilhar mais intensidade de sua Santidade. Já que só Deus é santo e mais ninguém. Mas, Deus não quis que fosse assim. Por isso convida a todos os seus filhos e filhas a participar de sua Santidade. Assim, ser santo ou santo é um dom de Deus, não é pura conquista humana. Dom prometido a todos, sem exceção. Para conseguir a santidade, as condições essenciais são: aceitar o dom e seguir Jesus, Filho de Deus, vivendo sua proposta da Boa Nova do Reino de Deus. É, portanto, configurar-se a ele e viver o fundamental da sua mensagem: as Bem-aventuranças (Leia Mt 5,1-12a), passagem do Evangelho proclamado na Solenidade de Todos Santos.
Bem-aventurança é sinônimo de Felicidade. Bem-aventurado equivale a dizer feliz. Felicidade não é dada. Menos ainda comprada. É conquista diária. É encontrar um caminho que dê sentido à vida e que consiga preenchê-la, totalmente, e enveredá-la para um rumo certo: a perfeição. A perfeição, porém, é um atributo de Deus. Todavia, é bom lembrar que uma das verdades proclamadas por Jesus de Nazaré foi e é: “sede perfeitos como meu Pai é perfeito” (Mt 5,48). Tendo consciência que jamais seremos totalmente perfeitos, porque somos limitados, frágeis, pobres. Ou, como diz a Palavra de Deus, somos todos pecadores (Cfr. Salmo 50).
Creio que, sem forçar uma interpretação da Parábola do Filho Pródigo (leia Lc 15,11-32), ela pode iluminar um tanto o que se está dizendo. Vejamos. O filho teve educação em família. Escolheu, livremente, sua estrada, com autossuficiência. Mandou-se para longe e experimentou de tudo que talvez não “tinha” em casa. Sobrevieram a fome, o vazio interior, perda de dignidade, sensação de derrota, frustração…. Não desesperou nem se revoltou. Menos ainda pôs a culpa em outros. “Parou diante de si” e de sua realidade concreta do momento. Tinha sido ele, o único responsável. Reconheceu que sua escolha ou escolhas o “desfiguram”. Estava na hora de mudar, de recompor a vida, recomeçar a recuperar a dignidade, a autoestima. Mas, como? Recuperar ou redescobrir um motivo diferente de viver do que havia escolhido livremente. Busca “repaginar” as razões de viver que havia experimentado na casa do seu pai. Refletiu, aceitou a realidade presente, escolheu, agora, com outros critérios, sobretudo, com humildade, aceitação de seus limites, valorização do amor do pai, sair do isolamento, reintegrar-se na comunidade familiar…
Claro que nem todos os santos ou santas precisaram de uma conversão tão radical. Mas, creio que a grande maioria, sim. Basta lembrar: Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola, Charles de Foucauld…. Para isso, porém, tiveram que inserir, em sua história, um sentido, isto é, qual é a razão do meu viver, qual é a motivação permanente da minha vida. Em última análise, pode-se traduzir, na prática, com o projeto de vida. O Filho Pródigo trocou o projeto que havia sido proposto pela educação do Pai, pelo seu próprio. E foi testá-lo, longe do olhar do Pai. Teve que reconhecer que fez uma escolha equivocada que lhe roubou sua dignidade de pessoa humana. Começou por aí: recompor-se como pessoa humana. Claro que este projeto tem que, necessariamente, incluir todas as dimensões existenciais fundamentais de minha vida, sem restrição alguma a qualquer delas.
A felicidade terrena não é o fim mais precioso a ser alcançado, mas a eterna, na Casa do Pai, sim. Jesus continua a dizer: quem quiser ser meu discípulo ou discípula tem que aprender a inserir, em sua vida, os valores da Proposta da Boa Nova do Reino, que são o conteúdo do projeto libertador do Cristo Ressuscitado que nos quer reintegrar permanentemente, na família do Pai misericordioso, paciente, amoroso e fiel. Portanto, sermos santos.