Há alguns dias fiquei sabendo que escreveria junto às Beltranas, desde então as ideias saíram correndo de mim, espantadas com a possibilidade de serem lidas por mais alguém. Mas isso não é problema algum, pois me serve de mediação para o tema que gostaria de comentar.
O motivo da fuga de ideias chama-se ansiedade. “Bobagem”, muitos dizem, “frescura”! Ou o que mais escuto no consultório: “nada importante”.
Não sei em que ponto da vida deixou de ser importante cuidar de nós mesmos, mas há quem diga isso e repita. Por sinal, o maior impedimento para tratar a ansiedade é a falta de percepção a respeito dela.
A pessoa não percebe que está ansiosa, só está um pouco nervosa… Aí vale a pena diferenciar a ansiedade normal da “patológica”. Está tudo bem sentir-se nervoso antes de uma reunião importante, de uma prova ou, até mesmo, lembrando de alguma situação embaraçosa que vivemos e não queremos que repita. O problema está em sentir-se assim o tempo inteiro, sem motivo aparente, como se algo estivesse errado mesmo quando tudo parece bem.
Falo, aqui, da ansiedade enquanto transtorno, que causa um medo intenso e sem motivo, que surge em função do excesso de estímulos que o sujeito vive e não consegue administrar, sendo que pode ser causado por fatores puramente psicológicos e também por herança genética, de modo que a pessoa tem um déficit de serotonina, um neurotransmissor que atua no cérebro.
Muitas vezes o sujeito que sofre com isso parece alguém irritado e sem paciência, sendo que ele é um incompreendido! A ansiedade causa dores que ninguém vê – por fora a pessoa está saudável e serena. Por dentro ela é invadida por pensamentos e medos dos quais perde o controle, como se um rádio mal sintonizado fosse ligado dentro de sua cabeça e passasse as piores manchetes do ano. Não bastasse isso, vem a taquicardia, as dores no peito, sudorese, respiração difícil…
Casos mais sérios podem se tornar incapacitantes, evoluindo para ataques de pânico que imobilizam o sujeito entre as seguras paredes de sua casa; ainda que muitas vezes as crises aconteçam da porta para dentro.
Enquanto ignoramos a ansiedade e dizemos que ela não é importante, ela apenas permanece onde está, com tendência a crescer. Mesmo assim, o desfecho da história pode ser feliz, pois ela tem tratamento! Psicoterapia, medicações e até mesmo atividades de lazer, podem ajudar a aliviar o peito do ansioso e dar-lhe tempo de respirar cada dia melhor.
Eduarda Paz Padoin – Psicóloga