A notícia científica da semana foi o anúncio da empresa Colossal Biosciencies, uma empresa de biotecnologia especializada em técnicas genéticas. A empresa informou que conseguiu criar filhotes de lobos com características semelhantes às do lobo terrível ou lobo gigante, uma espécie que dominou as estepes do hemisfério norte e desapareceu há mais de 10 mil anos. 

Não se trata de uma clonagem, e sim a criação de um híbrido de lobo cinzento com algumas características genéticas do lobo gigante. 

Isso foi possível porque os cientistas conseguiram recuperar a sequência genômica daquela espécie extinta a partir do DNA de fósseis de um dente de 13 mil anos e um pedaço de crânio de 72 mil anos.  A Colossal Biosciencies promete trazer de volta outras espécies extintas, entre elas o mamute lanudo, quem viver verá. 

É inquestionável a importância de esta façanha como avanço científico, já desde o ponto de vista da utilidade há muitos questionamentos éticos. Animais geneticamente modificados são produzidos há mais de 50 anos, a grande maioria usados em laboratórios de pesquisas. Geralmente são roedores, como ratos.

Muitas das espécies dos chamados “ratos de laboratório” são geneticamente modificadas. Para citar exemplos existem ratos transgénicos que desenvolvem câncer (Oncomouse), muito usados para testar quimioterápicos. Existem também ratos transgênicos que desenvolvem epilepsia e servem para conhecer melhor a doença e testar drogas anticonvulsivantes. 

Evidentemente a conquista anunciada pela Colossal é de outra dimensão. Tentar recriar uma espécie extinta além dos desafios tecnológicos leva a questionamentos éticos. 

Muito além deste tipo de conquista, a genética continua auxiliando a medicina para conseguir avanços importantes no diagnóstico e tratamento de doenças. 

As terapias gênicas que são dirigidas a corrigir um gene defeituoso ou a bloquear um gene que produz alguma proteína anômala estão em franco progresso. 

No ano passado se desenvolveram terapias gênicas para doenças como a Anemia de Fanconi, Angioedema hereditário, Surdez hereditária e alguns tipos de Glioblastoma (um tipo de tumor cerebral muito agressivo). Se considera que havendo recursos financeiros pode se achar uma terapia gênica para uma doença rara num período de 3 anos. 

Infelizmente não há recursos suficientes para avançar em vários tratamentos ao mesmo tempo. Outro grande problema são os altos custos da terapia gênica, isso impede seu uso por todos os pacientes que dela precisam. 

Em 2024 o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia foi para os pesquisadores Victor Ambros E Gary Ruvkun por seus trabalhos com microRNA, a mesma tecnologia usada nas vacinas de mRNA contra a Covid-19. 

Essa tecnologia permite desenvolver um teste sanguíneo para o diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica, doença neurodegenerativa que compromete as funções motoras do paciente.  Há estudos muito promissores com terapia de mRNA para o tratamento de câncer pulmonar e do melanoma. 

Os avanços nas tecnologias genéticas são também motivo de grande preocupação, a clonagem de um ser humano parece estar ao alcance da ciência, ao mesmo tempo todos os cientistas acreditam que a clonagem humana é totalmente contrária à ética. 

Existe também a preocupação que o aparecimento de terapias gênicas estejam somente disponíveis para pessoas de alto poder aquisitivo. Na teoria os ricos poderiam melhorar seus genomas e os de seus filhos e dessa forma prolongar suas vidas. 

Ainda antes do descobrimento do DNA por Watson e Crick em 1953, Aldous Huxley, o magnífico escritor inglês de ciência e ficção, publicou “Admirável Mundo Novo” (1932). Nesse romance a sociedade era dividida em castas, os indivíduos eram doutrinados para aceitar seu lugar na sociedade. 

Se não colocarmos limites na aplicação das novas tecnologias genéticas podemos criar um mundo real distópico e muito mais injusto e desumano que o atual, determinado não por fatores sócio-políticos e sim pelo poder aquisitivo das pessoas.