Grupos de caça de javalis de Brusque e da Serra catarinense reduzem a presença da espécie invasora

Sem predadores naturais, a caça é a melhor forma de controlar a espécie

Grupos de caça de javalis de Brusque e da Serra catarinense reduzem a presença da espécie invasora

Sem predadores naturais, a caça é a melhor forma de controlar a espécie

Amparada pela legislação estadual e federal e defendida por órgãos ambientais, a caça de javalis-europeus (Sus scrofa) é uma atividade frequente entre grupos de caça de Brusque e região, que vão até a serra catarinense para abater a espécie.

Considerada uma das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo pela União Internacional de Conservação da Natureza, o controle dos javalis é feito para proteger plantações. Sem predadores naturais e fora do seu habitat de origem, eles são onívoros, ou seja, se alimentam de vegetais e animais.

Com a ausência de predadores, é preciso encontrar outras maneiras de controlar os javalis. Uma dessas formas é a caça, conforme explica o naturalista e ambientalista Lauro Bacca. “Uma das formas mais eficientes de manter esse controle é a caça ao javali”, diz.

Nativos da Europa, Ásia e do norte da África, eles foram levados para o Uruguai há cerca de 40 anos e desde lá vêm se espalhando para o resto da América do Sul. A dispersão da espécie ocorre de forma natural, mas também com o auxílio do ser humano.

“Além deles se proliferarem e procurarem novos ambientes, existe a ajuda criminosa do ser humano, que tem deliberadamente espalhado isso com o objetivo de ter material para a caça, comercialização e turismo de caça”, afirma Lauro.

Grupos de caça

Para realizar o controle dessas espécies, os grupos são chamados pelos proprietários de áreas rurais para abater os javalis. Um deles é o grupo Tá Lá a Porcada, em Brusque.

Humberto Marchi, fundador da equipe, costuma caçar em cidades da Serra catarinense, como Campo Belo do Sul. Aos 48 anos, ele conta que a atividade está na sua família há gerações. “Eu caço por esporte, por tradição, por ser um um hábito, um suporte de família. Meu bisavô, meu avô, meu pai, todos eram caçadores”, diz.

Ele relata que quando o grupo foi fundado em 2016, eram encontrados cerca de 20 a 30 javalis todos os fins de semana e que hoje em dia, se depara com apenas um ou dois por fim de semana.

O grupo já identificou javalis em diversos estados como Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

Daniel Razera, de 31 anos, é morador de Guabiruba, caça há mais de quatro anos e faz parte da equipe Em Busca de Javalis, de Lages, na serra catarinense, que possui cerca de 81 participantes.

Caçadores abatem javalis na serra de Santa Catarina –  Arquivo pessoal

Segundo Daniel, mesmo que todos os integrantes não participem com frequência, já foram abatidos 68 javalis somente neste ano. “Praticamente todos os fins de semana tem algum local (já legalizado), e somos convocados pelos proprietários das fazendas para fazer o manejo de javalis”, destaca.

As caçam ocorrem nas cidades de Painel, Lages, Capão Alto, São Joaquim e Campo Belo do Sul.

Caça é melhor solução para o controle, mas é preciso fiscalização

Introduzido em um novo ecossistema, o javali provoca danos no ambiente natural. “Ele depreda lavouras, destrói plantações, compete com a fauna silvestre e pode inclusive abater e caçar animais domésticos. É um animal de grande porte e precisa ser controlado”, diz Lauro.

Outras soluções além da caça, como por exemplo, a eliminação por meio de predadores naturais é difícil, pois espécies que poderiam ser eventuais predadores, como onça pintada ou puma, estão com as suas populações dizimadas, empobrecidas ou extintas.

“Por exemplo, não temos mais onça pintada em todo o estado de Santa Catarina e o puma, que seria um predador de filhotes de javalis, também está com as suas populações dizimadas.”

Porém, o especialista ressalta que é preciso que haja uma fiscalização rigorosa, para que a caça seja restrita aos javalis e não atinja outros animais. “O governo tem que ter mecanismos muito eficientes de controles para que essa caça seja somente de javalis e não sobre outras espécies silvestres”, aponta.

Responsabilidade ambiental

Apesar de ser um hobby, Daniel frisa que os caçadores sabem da importância da atividade para o meio ambiente e controle da espécie. “Apesar de ser um lazer para todos nós, sabemos que estamos contribuindo com a saúde do meio ambiente, controlando ou tentando controlar a reprodução desta espécie, que faz tanto estrago na agricultura brasileira.”

Grupos de caça de javalis de Brusque e região vão até a serra catarinense realizar a atividade – Arquivo pessoal

Ele conta que geralmente a carne dos javalis caçados é consumida pelos próprios caçadores. Por lei, é proibida a distribuição e comercialização dos produtos e subprodutos de javalis e o seu consumo não é recomendado pelo Ibama.

Mudanças na legislação

A única caça de animal legalizada no Brasil é a de javalis, desde 2013. Dez anos depois, em julho de 2023, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) suspendeu as autorizações para o controle da espécie. O cancelamento temporário foi realizado para atender ao decreto 11.615 que regulamentava o porte de armas. Cinco meses depois, em dezembro, as autorizações foram retomadas.

Segundo o Ibama, a caça é autorizada em virtude do “aumento de sua distribuição pelo território nacional e da crescente ameaça ao ecossistema”.

A caça de animais silvestres é proibida no Brasil desde 1967. A caça esportiva é ilegal desde 2008.

A nível estadual, em dezembro de 2023, foi sancionada a lei 18.817, que autorizou o controle populacional e o manejo sustentável do javali-europeu em todas as suas formas, linhagens, raças e diferentes graus de cruzamento em todo o território de Santa Catarina.

De autoria do deputado Lucas Neves (Podemos), o texto autoriza “o controle populacional e o manejo sustentável do javali-europeu (Sus scrofa) em todas as suas formas, linhagens, raças e diferentes graus de cruzamento, no Estado de Santa Catarina”.

Além de atender as legislações, também é preciso uma autorização do dono para realizar a caça nas propriedades rurais.


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